Militares da ativa fazendo política já trouxeram muitos problemas ao Brasil

Renato Janine analisa a decisão do Exército em não punir o general Pazuello e aponta que uma das repercussões pode ser a anarquia militar

 09/06/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 12/08/2021 as 13:05

Nesta coluna, Renato Janine Ribeiro fala sobre a decisão do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello, que participou de um ato político com o presidente Jair Bolsonaro. Para o professor, o ex-ministro deveria, sim, ter sido punido porque trata-se de algo vedado a um militar do Exército na ativa.

O colunista lembra que, entre 1946 e 1964, um dos problemas do Brasil estava nos militares altamente politizados que participavam de atos públicos.

Em 1955, logo após a eleição do presidente Juscelino Kubitschek, um coronel, em um enterro de um general, fez um discurso apelando para que o presidente eleito não fosse empossado. O colunista conta que o ministro da Guerra, o general Lott, que não havia votado em JK, decidiu mandar prender esse coronel. Mas o presidente da República, que era interino, não autoriza essa prisão. Com isso, prepara-se um golpe para impedir a posse de Kubitschek. Mas o general Lott se opõem e dá um golpe preventivo, um retorno aos quadros constitucionais vigentes, impedindo que essa dupla – Carlos Luz, presidente da Câmara, e Café Filho, que havia assumido a Presidência após o suicídio de Getúlio Vargas – dê o golpe que queria dar.

“Vocês vejam então que essa situação de militares da ativa fazendo política já trouxe muitos problemas ao Brasil”, aponta o colunista, lembrando que até 1964 ocorreram vários outros episódios semelhantes. Curiosamente, diz Janine, foi a ditadura militar que enquadrou isso, entre outras coisas, limitando o tempo de presença de um oficial como general (Brigada, Divisão e Exército). “Pela lei criada na ditadura, ninguém pode ser general por mais de 12 anos nas três posições ao todo, o que exige uma renovação constante do alto comando”, diz.

Para Janine, uma das repercussões da não punição a Pazuello é a anarquia no meio militar. “Se um general faz isso, um coronel, um major, um capitão também pode fazer. Pode surgir, por exemplo, um grupo como ‘capitães pelo bolsonarismo’ ou ‘majores pela democracia contra o bolsonarismo’. Qual será o argumento para impedir isso?”, questiona o colunista.


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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