Momento Sociedade #54: Propostas engessadas e ataques pessoais marcam debate de candidatos a prefeito

Segundo José Luiz Portella, modelo de debate sugere uma “falsa igualdade”, oferecendo pouco tempo para que se apresentem propostas de políticas públicas com profundidade

 06/10/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 19/10/2020 as 8:06
Momento Sociedade - USP
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Momento Sociedade #54: Propostas engessadas e ataques pessoais marcam debate de candidatos a prefeito
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Na última quinta-feira (1º) aconteceu o primeiro debate televisionado dos candidatos à Prefeitura de São Paulo transmitido pela TV Band. No episódio desta semana do Momento Sociedade, José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP comenta sobre o assunto. Comparando com o debate presidencial dos Estados Unidos, ocorrido na última terça-feira (29), Portella afirma que ambos os debates focaram principalmente no ataque e na denúncia, tirando o espaço que seria de exposição das propostas de políticas públicas. “Os debates agora tratam cada vez menos de políticas públicas para você comparar as ideias. Claro que sempre houve nos debates, mesmo antigamente, um lado que você acaba resvalando para o ataque e a denúncia, mas ele não ocupava o espaço que ocupa hoje.”

Portella compartilha que, embora o debate dos Estados Unidos não seja engessado como é no Brasil, ambos levam ao mesmo resultado. No Brasil, perde-se muito tempo repetindo regras e formalidades, além de produzir o que Portella chama de “falsa igualdade”. “Não é normal você colocar 11 pessoas no debate que vão ter o mesmo tempo. No caso da abertura do debate em São Paulo, não é possível você tratar qualquer assunto com mais profundidade com 45 segundos. Antes se davam três minutos e já não era um tempo adequado.”

Segundo o entrevistado, o problema está na reforma política, já que as emissoras são obrigadas a convidar para o debate candidatos de partidos com ao menos cinco representantes no Congresso Nacional. “No debate, os que tinham menos pontos tinham poucas perguntas. Então, é muito melhor que o candidato faça uma entrevista na emissora do que participe do debate, mas aí se tem aquele orgulho de querer participar do debate, aquela coisa da falsa igualdade. Tratar desiguais igualmente é um erro. Esse engessamento leva a um engessamento da política em si e, em suma, leva ao engessamento da gestão de política pública porque ela começa no debate.”

Para saber mais, ouça este episódio na íntegra pelo player acima.


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