O segundo programa da série O Choro pelos Chorões, com texto retirado do livro de Alexandre Gonçalves Pinto, também conhecido como “Animal”, foi escrito em 1936, e nos traz importantes descrições e vivências do ambiente do choro nesse período, com o autor sendo testemunha dos fatos e causos, conhecendo pessoalmente os grandes músicos dessa história.
As figuras são lembradas de modo sincero, como o maestro e professor Anacleto de Medeiros que “era um diretor de música caprichoso e violento, porém, quando não tinha na mão uma batuta, era um cordeiro de mansidão”. A musicista Lily S. Paulo foi lembrada pela doce voz e sua excelência na harmonia, nos mostrando a existência de figuras femininas no meio. Muitos outros são citados com importantes descrições, o que nos dá um arcabouço por vezes negligenciado historicamente.
Com uma escrita sentimental e poética, carregada de adjetivos elogiosos, mas não exagerados, Animal nos mostra um excelente documento sobre o meio social da época, como se nota, por exemplo, no contexto de camaradagem e consideração que se tinha um para com o outro entre os chorões.
Aparecem músicos como Donga, batuta das rodas de Pixinguinha; o erudito Villa-Lobos, também ele um dos frequentadores das rodas de choros; o flautista e compositor Benedito Lacerda; os violonistas Canhoto e João Pernambuco; e, por fim, o violonista e compositor Guilherme Cantalice, admirado pela sua musicalidade extrema.
Um excelente documento histórico para ser escutado ao sabor de uma música verdadeiramente boa, de uma época em que a beleza se escutava na esquina.
Créditos do programa
Pesquisa e textos: Amanda Ferraresi
Apresentação (interpretação de “Animal”): Cido Tavares
Os textos do programa foram extraídos do livro O choro – Reminiscências dos Chorões Antigos.