Momento Sociedade #19: Futebol movimenta bilhões e joga com regras de mercado

Toda atividade financeira gera concentração de renda e elitização, por isso precisa de um poder regulador. “No Brasil deveria ser CBF e no mundo a Fifa”, diz José Luiz Portella, enquanto lamenta a ineficiência dos órgãos

 26/11/2019 - Publicado há 4 anos
Momento Sociedade - USP
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Momento Sociedade #19: Futebol movimenta bilhões e joga com regras de mercado
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Os 20 maiores clubes de futebol do Brasil gastaram R$ 3,8 bilhões e faturaram R$ 5,26 bilhões, em 2018, segundo a consultoria Sports Value. De acordo com cálculos de José Luiz Portella, doutorando em História da Economia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o Flamengo vai receber, sozinho, mais de 700 milhões, somando arrecadações de 2019. O time acaba de ganhar a Taça Libertadores e o Brasileirão, deste ano; uma recompensa financeira de R$ 116 milhões.

Portella alega que, “apesar de todo esse dinheiro, surge um choque entre a economia do capital e a realidade”. A consequência é “uma elitização brutal dos estádios”.

Os investimentos no futebol melhoram o espetáculo e oferecem conforto ao torcedor. Só que o valor dos ingressos dispara. O doutorando fala que muitos palmeirenses nunca viram um jogo no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, inaugurado em 19 de novembro de 2014.

Outra característica do “futebol negócio” é a irresponsabilidade financeira. Os 20 maiores times  tinha dívidas no valor de R$ 6,92 bilhões, ao fim de 2018. Apenas o Botafogo deve cerca de R$ 750 milhões. Botafoguense, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, tem uma proposta de tornar clubes em empresas. A contrapartida é o perdão fiscal.

Portella defende a proposta que está no Senado, que tem o mesmo efeito positivo, mas alivia a cobrança de impostos, em vez de perdoá-los.  Perdoar as dívidas dos times seria um incentivo ao calote. “Isso institucionaliza a irresponsabilidade”, declara.

As escolhas do Flamengo, enquanto alocava seus investimentos, mostraram-se fundamentais. O rival Palmeiras gastou mais e não ganhou sequer um título, neste ano. Uma semelhança ao gerenciamento e resultado de empresas.

Quem sabe pensando como empresa os clubes recuperem suas torcidas? Na última pesquisa de opinião com intuito de classificar torcedores, o time mais escolhido foi o “sem clube”, com 22%. O Flamengo teve 20%, seguido do Corinthians com 14% dos questionados. A vitória da Libertadores aparece como um respiro aos cariocas, custeado pelo time alvinegro.


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