IEB-USP lidera a criação de rede internacional de centros de estudos brasileiros

Por Diana Vidal, professora titular de História da Educação da FE-USP e diretora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP)

 04/11/2019 - Publicado há 4 anos

Diana Gonçalvez Vidal – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Disseminados no mundo, existem mais de 200 departamentos, centros e institutos de estudos brasileiros, distribuídos em 66 países. Uma pesquisa realizada, em 2014, por Noortje Maria Minkhorst, com supervisão dos professores Marcos Antônio de Moraes e Monica Duarte Dantas, e colaboração da servidora técnico-administrativa Magda Holan Yu Chang, no âmbito do intercâmbio de alunos de graduação promovido pela CRInt, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), identificou a presença dessas instituições na América (Estados Unidos, Canadá, Chile, Panamá e Trinidad e Tobago), Europa (Áustria, República Tcheca, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Polônia, Espanha, Suécia e Reino Unido), Oceania (Austrália e Nova Zelândia) e Ásia (China, Japão, Malásia, Filipinas, Israel e Tailândia), para citar alguns exemplos.

Algumas estão dedicadas simplesmente ao ensino da língua portuguesa. Outras, entretanto, possuem acervos documentais ou bibliotecais e congregam professores e alunos. Por vezes, estão subordinadas a institutos ou centros latino-americanos, ibero-americanos ou luso-brasileiros de universidades. Sua dispersão revela o interesse que a cultura brasileira desperta em diversos países, em particular a literatura, as artes e a história. Mas não somente, o sincretismo religioso, as questões étnico-raciais e as relações sociais de trabalho existentes no Brasil também são tópicos que chamam a atenção de pesquisadores e universidades nos quatro continentes. A dispersão revela ainda o enorme potencial da língua portuguesa na produção e difusão de conhecimento de e sobre o Brasil. Em cada uma dessas instituições, ao menos, um funcionário ou docente é fluente em português.

Tal panorama suscitou a interrogação sobre como temos nos valido dessa importante inserção acadêmica para estabelecer relações multilaterais e foi o êmulo propulsor de uma iniciativa inédita de integração de centros e institutos de estudos brasileiros, constituindo uma rede internacional, com o objetivo de dar sustentação à pesquisa científica e à extroversão social. Com este ímpeto o IEB, aproveitando-se da realização do II Congresso de Brasilianistas da Europa, convidou as instituições assemelhadas para uma reunião. No dia 20 de setembro de 2019, na cidade de Paris, foi criada a CIEB, rede institucional de centros e institutos de estudos brasileiros.

A nota, incluída na webpage do IEB, informa que o núcleo fundador foi constituído por, “além de dirigentes do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), as atuais diretora e vice-diretora, Diana Vidal e Flávia Toni, e do antigo vice-diretor, Paulo Iumatti, diretores do Brazil Institute, King’s College (Inglaterra), Antony Pereira; do Centre de Recherche sur le Brésil Colonial et Contemporaine, EHESS (França), Jean Hebrard; do Global Institute, Jerry Davila, representando o Lemann Center for Brazilian Studies, University of Illinois (EUA); do Instituto Luso-brasileiro, Universidade de Colônia (Alemanha), Peter Schulze; do Lemann Center for Brazilian Studies, Columbia University (EUA), Gustavo Azenha; e a chefe do Departamento de Estudos Lusobrasileiros da Universidade Carolina de Praga (República Tcheca), Sarka Grauová, e a representante do Instituto Iberoamericano PK Berlim (Alemanha), Ricarda Musser”.

A mesma nota esclarece que a ambição da rede é tornar-se um centro agregador de investigações, superando as contingências das ações individuais e oferecendo condições sustentáveis à produção e promoção do conhecimento científico, por meio de suporte de média e longa duração “a projetos multi-institucionais de intercâmbio de alunos, docentes e servidores técnico-administrativos; à produção e disseminação de conhecimento em ciências humanas e sociais de e sobre o Brasil; à promoção conectada de eventos acadêmicos e de publicações científicas; à realização e circulação de exposições entre os países associados; à construção de plataformas integradas potencializando ações internacionais no âmbito das humanidades digitais; ao fomento à formação de novos pesquisadores por meio de workshops, summer schools e programas de pós-graduação com multidiplomação”.

As primeiras tratativas para dar corpo ao empreendimento já foram iniciadas. Gustavo Azenha, da Columbia University, está empenhado na construção da webpage que fornecerá uma primeira plataforma de integração às instituições. Contatos com outros centros e institutos de estudos brasileiros foram iniciados de modo a ampliar a abrangência dessa network. Em 28 de outubro, na sede do IEB, com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e da Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica, realiza-se o primeiro encontro de representantes de algumas das bibliotecas parceiras e das bibliotecas do IEB e Brasiliana Guita e José Mindlin, para discutir possibilidades de compatibilização de bancos de dados e ações conjuntas de digitalização e disponibilização de acervos.

São iniciativas arrojadas, simultaneamente sintonizadas aos desafios e obstáculos presentes no mundo acadêmico atual, cuja superação requer a constituição de hubs, e abertas à inovação e ao fortalecimento das relações multilaterais em diversos países. Representam não apenas a maneira como a Universidade de São Paulo vem dando resposta a agendas de globalização, mas como se insere criativamente e indômita nestes contextos.

 


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