Diálogos na USP #09 – Locomoção nas grandes cidades ainda é um desafio

Falhas no transporte público e intenso tráfego de automóveis dificultam deslocamento. Apesar da aceitação, o metrô não é capaz de convencer o motorista a deixar o carro em casa, afirma Carolina Raquena e, segundo Olando Strambi, 30% da população não apresenta deslocamento significativo

 23/09/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 11/03/2020 as 11:00
Diálogos na USP - USP
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Diálogos na USP #09 - Locomoção nas grandes cidades ainda é um desafio
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A vida nas cidades não para: as pessoas estão sempre se locomovendo de um lado para outro, seja para ir ao trabalho, para estudar, para aproveitar algum momento de lazer. E depois, de volta para casa. Algumas perguntas ficam no ar: com que qualidade essa locomoção se dá e como é a mobilidade urbana nas grandes cidades? Deslocamentos, por mais curtos que sejam, podem parecer prazerosos, mas carregam uma grande carga de estresse.

Em um lugar como São Paulo, por exemplo, a mobilidade urbana é um grande desafio. Segundo pesquisa da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a capital paulista tem cerca de 8 milhões de carros, motos, ônibus ou caminhões. Ou seja, sete veículos para cada dez habitantes. Fica difícil manter a qualidade de vida com números assim.

A isto soma-se a falta de transportes públicos de qualidade ou em número suficiente para atender às demandas crescentes. E não falamos apenas sobre a carência de transporte, mas também de segurança. Uma pessoa pode querer se deslocar de bicicleta, mas sem ciclofaixas adequadas e sinalização, o risco é alto. E fica a grande questão: sem boas condições de mobilidade urbana, a experiência de viver na cidade é pior.

Para falar sobre mobilidade urbana nas grandes cidades, o Diálogos na USP , apresentado por Marcello Rollemberg, recebeu Orlando Strambi, professor titular sênior da Escola Politécnica da USP e sócio-fundador da associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte. Além dele, falou Carolina Requena, doutoranda no Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).

Orlando Strambi diz que São Paulo não é tão diferente de outras grandes cidades. A natureza do problema, ou seja, a questão da mobilidade, é semelhante em todas. A questão da imobilidade, por outro lado, é um conceito que se aplica em planejamento de transportes e chega a ser medido costumeiramente, levando-se em conta aqueles que não se deslocam cotidianamente. O professor explica que aproximadamente 30% da população não apresenta deslocamento significativo. Todavia, deve-se entender se o deslocamento não ocorre por questões de escolha ou por falta de possibilidade, em razão de falhas no transporte.

Carolina Requena explica que há pessoas que estão mais imóveis do que outras, pois há um sistema hierárquico.“A região metropolitana já é uma região que tem muitas desigualdades de diversas ordens sociais e econômicas. O sistema de mobilidade poderia vir para dirimir um pouco a situação”, avalia a pesquisadora, complementando que, na atualidade, ele apenas reforça o fato. Pessoas que se deslocam de automóvel próprio têm mais conforto e chegam rapidamente aos seus destinos, enquanto aqueles que não possuem ficam presos no transporte público em meio ao trânsito, que é provocado justamente pela quantidade de carros.

Strambi acredita que não temos uma situação que facilite convencer o motorista a deixar seu automóvel e adotar outras alternativas. Mas cita que o Metrô ainda é uma alternativa de grande aceitação, principalmente em São Paulo. Como exemplo, comenta sobre as campanhas eleitorais, que sempre vêm acompanhadas por pedidos de melhorias nas estações. O professor explica que o Metrô é relativamente exemplar devido à sua limpeza e velocidade, mas, particularmente, prefere alternativas pela superfície para que haja interação com a cidade, o que daria a sensação de pertencimento e faria com que as pessoas se conscientizassem para cuidar dela.

Carolina Requena aponta outra falha no Metrô. Por ter linhas curtas, não é utilizado por toda a população. “Há um pico de 5% de uso como transporte principal da pessoa no dia”, explica ela. Além disso, a integração com redes suburbanas, que seriam os trens da CPTM, e com os ônibus, encarece a tarifa. Do ponto de vista econômico, consome mais da renda popular, pois, para viajar em São Paulo, cobra-se uma tarifa pouco acessível.

 


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