Mulheres condutoras de ônibus sofrem pressões psíquicas

Estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP analisou o sofrimento psíquico das mulheres motoristas de ônibus que trabalham na cidade de São Paulo. Em entrevista aos Novos Cientistas, a psicóloga Tássia Bertoncini de Almeida descreveu, dentre outras dificuldades que elas enfrentam, a falta de estrutura em terminais e conciliação do trabalho doméstico e assalariado

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 15/08/2019 - Publicado há 5 anos
Novos Cientistas - USP
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Mulheres condutoras de ônibus sofrem pressões psíquicas
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Já não é tão raro no trânsito da cidade de São Paulo se ver mulheres dirigindo ônibus que integram o sistema de transporte público. Em entrevista aos Novos Cientistas desta quinta-feira (15/08), a psicóloga Tássia Bertoncini de Almeida deu detalhes de sua pesquisa O desgaste mental de motoristas de ônibus: um recorte de gênero, apresentada no Instituto de Psicologia (IP) da USP. Com a orientação do professor Fábio Oliveira, a pesquisadora constatou o sofrimento psíquico que afeta mulheres motoristas e buscou compreender possíveis influências de gênero e suas relações no processo de desgaste mental no trabalho.

Dentre as principais queixas, a falta de estrutura em terminais e conciliação do trabalho doméstico e assalariado, as jornadas imprecisas de trabalho, fato que as prejudicam nos cuidados com os filhos. “Uma entrevistada se ressentia por não ter conseguido ficar com a guarda da filha no processo de separação por não ter horários definidos para entrar e sair da empresa”, contou a psicóloga.

Cada vez mais presente na categoria de motoristas de ônibus por serem vistas como cuidadosas e pacientes, as mulheres que trabalham no transporte coletivo sofrem com desgaste emocional de uma forma bastante particular. A maioria das que foram entrevistadas tinham idades entre 35 e 50 anos, solteiras e com filhos; não contavam com a figura masculina para ajudá-las; trabalhar era uma condição de subsistência. “Esse é o perfil das motoristas de ônibus que trafegam diariamente pelas movimentadas e caóticas avenidas paulistanas e que, mesmo sem ter muito tempo, conseguiram espaço para responder à entrevista da pesquisa”, disse Tássia.

O estudo possibilitou conhecer os vários papéis que elas representam: a mãe, a mulher, a dona de casa e a motorista de ônibus, sendo este último papel preenchendo requisitos de uma profissional exemplar, com características emocionais valorizadas atualmente pelas empresas de transporte coletivo, pois atendem e reforçam expectativas do que delas é esperado como mulher. Isto é: são calmas ao dirigir e mais pacientes e atenciosas com os passageiros.


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