Novo Mercado de Gás deve ser benéfico para o Brasil

Os professores Edmilson Moutinho dos Santos e Suani Teixeira Coelho debateram as possibilidades abertas pelo programa no “Diálogos na USP”

 02/08/2019 - Publicado há 5 anos

No último dia 23 julho, o governo federal lançou o programa Novo Mercado de Gás, com a intenção de reduzir o preço do gás em até 40% nos próximos dois anos. O objetivo seria incentivar o aumento de investimentos, enfrentar monopólios e diversificar o número de empresas que atuam no segmento. A União pretende criar um ambiente de mercado e aproveitar o aumento da oferta do gás oriundo das áreas do pré-sal.

Além disso, a ideia seria que o gás substituísse o diesel como combustível para os caminhões que cortam o Brasil. A grande consumidora no país é a indústria, que usa 52% do total produzido. Em seguida, com 33%, está o setor de geração elétrica, com as termoelétricas. O uso como combustível automotivo (GNV) colabora apenas com 9% no mercado de gás.

Segundo o dado mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), em abril o País produziu 113 milhões de metros cúbicos por dia. No ano passado, foram produzidos 40,8 bilhões de metros cúbicos, uma média diária de 111 milhões de metros cúbicos. Mas o quanto a utilização do gás é importante para o País? Ele tem condição de substituir outras fontes de energia?

Para responder a estas e outras perguntas sobre o mercado de gás no Brasil, o Diálogos na USP recebeu os professores Suani Teixeira Coelho, professora e orientadora do Programa de Pós Graduação em Energia do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e do Programa de Doutorado de Bioenergia da Esalq e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Bioenergia, também do IEE, e Edmilson Moutinho dos Santos, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP e coordenador do Programa de Economia e Políticas Energéticas do Centro de Inovação em Gás da USP.

 

Edmilson Moutinho dos Santos e Suani Teixeira Coelho – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

 

Edmilson Santos ressaltou que para analisar o novo programa é preciso pensar no que representa o gás no futuro da matriz energética do país. “As descobertas de petróleo e gás no pré-sal têm escala suficiente para mudar o papel que o gás tem no Brasil e construir um cenário inédito”, afirmou. O professor também comentou que o petróleo brasileiro é voltado para exportação, mas o mesmo não ocorre com o gás, que “dificilmente encontrará escoamento para fora do país”.

Suani Coelho disse acreditar que o programa faz sentido e é interessante para o país e relembrou do biogás e do biometano, que “são gases renováveis produzidos a partir de resíduos, o que colabora com o saneamento básico e que podem complementar essa oferta do gás de forma sustentável”. Além disso, esses gases poderiam ser produzidos nas regiões fora de alcance do gás natural, resultando em melhoras ambientais.

Para Santos, o preço do gás, apesar de caro se comparado aos Estados Unidos e Europa, é razoável. “Se olharmos os preços relativos dentro do Brasil, o gás é o energético mais barato que nós temos”, disse o professor. A ideia de abaixar em 40% o preço nos próximos dois anos é complicada principalmente pela falta de infraestrutura no país. “O custo do transporte e da distribuição corresponde a mais da metade do preço do gás e nós ainda temos que construir nossa logística, e ainda vai custar caro”, argumentou Santos.

Suani também comentou sobre o caso norte-americano, afirmando que “a experiência dos Estados Unidos é interessante porque o gás natural na geração de eletricidade conseguiu deslocar o carvão, gerando vantagens ambientais”. Além disso, as grandes termoelétricas utilizam o gás natural, gerando “uma demanda garantida que acaba fazendo com que o custo se reduza”.

“Diálogos na USP” tem apresentação do jornalista Marcello Rollemberg. Acompanhe a íntegra do programa pelos links acima.


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