Corpo combate pneumonia com inflamassomas. Já ouviu falar?

Respiramos bactérias e vírus o tempo todo, mas, na maioria das vezes, não ficamos doentes. Por quê? Porque células do sistema imunológico reconhecem os microorganismos

 23/08/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 18/10/2019 as 11:33
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Respiramos bactérias e vírus o tempo todo, mas, na maioria das vezes, não ficamos doentes. Por quê? Porque células do sistema imunológico reconhecem os microorganismos e respondem às infecções antes que se instalem. No processo de reconhecimento, estão os inflamassomas.

 

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Os gatilhos

Células do sistema imune, como os macrófagos, estão espalhadas pelo organismo fazendo limpeza de resíduos que existem entre outras células. Mas, ao entrarem em contato com algo que não identificam como pertencente ao corpo ou àquele ambiente, mudam de perfil. Passam a ser macrófagos inflamatórios.

Algumas situações indicam claramente que há algo errado. A ruptura da membrana da célula, por exemplo; a presença de DNA de um vírus, de uma bactéria ou de um fungo; o flagelo de uma bactéria – aquele “rabinho” que ela usa para se locomover; entre outros.

Dentro do macrófago, essas situações servem de sinais, ou gatilhos, para que certas proteínas modifiquem suas formas. E se reúnam em um inflamassoma.

Os inflamassomas

Os inflamassomas são essa cadeia de proteínas que se monta dentro de células do sistema imune motivada por um “gatilho”. Vale a pena assistir ao vídeo para ver como ficam bonitas essas estruturas.

Eles são de vários tipos, de acordo com as proteínas envolvidas: NLRP3, AIM-2, NLRC4 etc. Cada um responde a estímulos diferentes, mas todos levam ao mesmo resultado: ativam a proteína Caspase 1. Esta proteína quebra moléculas inflamatórias, como a interleucina-1 (IL-1).

A inflamação

Após ser quebrada, a IL-1 pode sair do macrófago e servir de sinal para que outras células do sistema imunológico parem naquele local. Começa então a inflamação – a resposta inicial do corpo ao problema detectado.

Se a pessoa terá pneumonia ou não, por exemplo, depende da disputa bioquímica que se travará entre o sistema imune e as bactérias que entraram no pulmão.

Mecanismo novo

No laboratório de Dario Zamboni, biólogo do Centro de Pesquisa de Doenças Inflamatórias (Crid), pesquisadores estudam a estrutura e o funcionamento dos inflamassomas. Recentemente, focaram em infecções pela bactéria Legionella pneumophila, uma das causadoras da pneumonia.

Eles perceberam que a Legionella provoca uma reação que ainda não havia sido descrita: a interação entre dois inflamassomas diferentes.

Primeiro, o inflamassoma de AIM-2 é ativado provavelmente pela presença do DNA da bactéria no macrófago. Em seguida, esse inflamassoma provoca a ruptura da membrana celular, levando à saída de íons de potássio para o ambiente externo.

Esta mudança é o gatilho para o inflamassoma de NLRP3 – considerado um dos mais importantes para o combate à infecção.

Como a Legionella, a princípio, não provoca ruptura da membrana, ela não aciona o inflamassoma de NLRP3 e pode usar o macrófago para se reproduzir. Daí a importância de o inflamassoma de AIM-2 cooperar com o de NLRP3.

O mecanismo foi descrito em um artigo publicado como reportagem de capa da revista Cell Reports.

 

Reportagem: Ana Paula Chinelli e Thaís Cardoso | edição: Ana Paula Chinelli | Artes: Daniel Hebling e Lucca Chiavone Alves

imagens extras: CDC / NIH / The University of Queensland – Inflammasome Lab


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