Novo livro de Renato Janine Ribeiro dá receita para a boa política

Obra do professor da USP reúne ensaios em que filosofia se preocupa com política do presente

 21/09/2017 - Publicado há 7 anos
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Detalhe do livro A Boa Política, lançado recentemente pelo professor Renato Janine Ribeiro – Foto: Reprodução

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“A proposta ou pergunta deste livro é simples e audaciosa: pode a filosofia política servir para tratar da política imediata, esta que rodeia nossas vidas?” É com essa declaração de intenções que o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, colunista da Rádio USP e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro abre o livro A Boa Política – Ensaios sobre a democracia na era da internet. A publicação reúne textos escritos ao longo de 20 anos, revisitados e revistos para a composição da obra.

Assumindo um “compromisso com o momento presente”, Janine se pergunta se o aumento das liberdades, o avanço dos direitos humanos e a melhoria das condições de vida vistos nos séculos 20 e 21 integram um processo inevitável ou representam uma exceção na história da humanidade. Apostando na primeira opção, o professor põe a filosofia política a serviço da continuidade e aprofundamento dessas conquistas.

Para isso, apresenta dois pares que constituiriam a “boa política” desde a Segunda Guerra Mundial até hoje: liberalismo e socialismo, república e democracia. Para o filósofo, é a articulação conjunta desses elementos que possibilitaria soluções à crise política da atualidade.

“Liberalismo e socialismo, em que pesem seus problemas, pertencem à boa política”, afirma Janine no primeiro capítulo, cujo título batiza o livro. “Podemos querer mais cooperação, podemos preferir mais competição”, continua o professor, “mas é necessário que mesmo esta última se dê em igualdade de oportunidades. Muito depende da situação concreta. Há ocasiões que requerem mais competição, outras que demandam maior cooperação. Defendo unir as duas no que chamo de coopetição, quando a competição vai até certo ponto e a razão de ser do jogo social é a cooperação.”
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Renato Janine Ribeiro: “Nenhum modo de produção foi, até hoje, tão capaz quanto o capitalismo de produzir bem e muito. Mas não quer dizer que seja bom na distribuição dos bens e serviços. Nem de garantir que estes tenham qualidade” – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Ao tratar do segundo par, democracia e república, Janine também busca conciliação, a partir das características que considera essenciais em cada termo. De acordo com o professor, “enquanto a democracia tem no coração o anseio da massa por ter mais, seu desejo de igualar-se aos que possuem mais bens do que ela, e por isso é um regime do desejo, a república tem no âmago uma disposição ao sacrifício, proclamando a supremacia do bem comum sobre qualquer desejo particular”.

Dessa forma, a existência e o bom funcionamento de uma passaria pela união à outra. Nas palavras do filósofo, “para haver o acesso de todos aos bens, para satisfazer o desejo de ter, é preciso tomar o poder – e isso implica refrear o desejo de mandar (e com ele o de ter), compreender que, quando todos mandam, todos igualmente obedecem, e por conseguinte devem saber cumprir a lei que emana da própria vontade”.

Janine retoma a busca pela conciliação em prol da boa política durante todo o livro. No capítulo “A direita tem os meios, a esquerda, os fins”, o par liberalismo e socialismo volta à pauta sob novos olhares.

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Nenhum modo de produção foi, até hoje, tão capaz quanto o capitalismo de produzir bem e muito. Mas não quer dizer que seja bom na distribuição dos bens e serviços. Nem de garantir que estes tenham qualidade. Sem uma forte restrição que primeiramente veio dos movimentos trabalhistas, e mais tarde dos sociais e ambientais, o capitalismo é altamente predatório.”

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Em seu novo livro, Renato Janine Ribeiro analisa os pares república e democracia, liberalismo e socialismo para encontrar a medida da “boa política” – Foto: Divulgação

O professor defende que a direita perdeu-se nos meios e, por isso, o capitalismo aparece hoje com esse caráter predatório. Em contrapartida, a esquerda, mesmo entendendo melhor de sociedade, do bem comum, dos direitos sociais e da coisa pública, teria se apegado apenas aos fins, sem encontrar meios para realizá-los. “Talvez seja esta uma de nossas tragédias”, pondera, “a direita tem os melhores meios, a esquerda os únicos fins.”

A solução para a boa política seria, portanto, lançar mão de todos esses quatro ingredientes, como assinala na conclusão do livro. “A luta política democrática se dá dentro desse quadro. Uns podem querer mais iniciativa privada, outros mais políticas sociais; uns podem querer mais autocontrole, outros mais atendimento às demandas que vêm de baixo; porém tudo isso é necessário. Qualquer política que saia desse quadro é má política, muitas vezes derivando para algum preconceito.”

Ainda segundo Janine, o livro se destina não somente aos interessados em política ou filosofia, e sua linguagem acessível concorre para isso. “Há muito poucos assuntos na própria filosofia que você só pode tratar com termos técnicos”, destaca o professor.

A Boa Política – Ensaios sobre a democracia na era da internet, de Renato Janine Ribeiro, Companhia das Letras, 304 páginas, R$ 49,90.


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