Experiência fora do País incentiva empreendedorismo de alunos da USP

Mais de 400 estudantes já desenvolveram projetos com programa da Agência USP de Inovação

 21/12/2017 - Publicado há 6 anos

“Era 2012 e eu tinha lido um livro sobre startups. Por algum motivo, eu sabia que essa era uma palavra que iria me retornar alguma coisa. E retornou”. Daniel Guzzo, graduado em Engenharia de Produção na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP é um dos 483 ex-bolsistas do programa Bolsa Empreendedorismo, da Agência USP de Inovação.

Com a bolsa, Daniel passou, em 2013, seis meses na Rockstart Accelerator, uma aceleradora de startups na Holanda. “Foi meu primeiro contato real com inovação e com desenvolvimento de negócios. A experiência com a Bolsa Empreendedorismo foi o maior aprendizado em pouco tempo que eu já vivenciei”, comenta.

O ex-aluno da EESC, Daniel Guzzo – Foto: Arquivo pessoal

A Bolsa Empreendedorismo surgiu no ano de 2012, com o objetivo de oferecer ao aluno de graduação da USP intercâmbio no exterior por meio do desenvolvimento de projetos com perfil inovador, para que sejam sensibilizados ao empreendedorismo. Diferentemente de outras bolsas de mérito acadêmico para intercâmbio da Universidade, a bolsa tem como premissa a independência do aluno na escolha do projeto: ele tem como responsabilidade preparar um projeto e buscar uma instituição de ensino, centro de pesquisa ou empresa de base tecnológica na qual realizará o projeto.

“Essa bolsa não é um presente por ser um bom aluno. Na verdade, é um reconhecimento de que você se esforçou, correu atrás e conseguiu”, afirma Gustavo Toshio Yasunaka, participante do programa em 2013. Para ele, o maior diferencial da bolsa em relação a outros programas de intercâmbio da USP é justamente a exigência de que o aluno procure uma instituição e trabalhe para que seja aceito nela. “Isso é o que te faz crescer e sair da zona de conforto. E empreender é basicamente isso”, defende.

Gustavo foi aluno de Administração na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e conta que seu interesse em empreender vem desde a infância. “Acredito que foi influência do meu avô, que veio do Japão para o Brasil com nada e montou a vida dele aqui, e eu admirava muito isso”, detalha.

No entanto, ao ingressar na FEA, sentiu falta de disciplinas voltadas a empreendedorismo. Assim, quando descobriu a oportunidade da Bolsa Empreendedorismo, não perdeu tempo para se inscrever. “Eu queria fazer intercâmbio e focar em inovação, startups e empreendedorismo”, explica. Desta forma, idealizou um projeto e foi aceito pela National University of Singapore, em Cingapura. “Eu tinha interesse em ir para a Ásia, queria saber o que estava acontecendo lá. E Cingapura é um país extremamente desenvolvido, com um ecossistema de startups muito forte, então decidi o país do intercâmbio dessa forma.”

Processo seletivo

Após os candidatos à bolsa desenvolverem um projeto e buscarem uma instituição para o intercâmbio, a candidatura é avaliada por uma banca formada por docentes da USP e de outras universidades, profissionais da área de inovação de empresas parceiras da Agência USP de Inovação e ex-bolsistas.

Gustavo Yasunaka foi bolsista quando estudava na FEA – Foto: Arquivo pessoal

Em média, são oferecidas cerca de oitenta bolsas por ano, para todos os continentes. “É aquele frio na barriga, você se pergunta ‘Será que eu consigo? Será que eu não consigo?’, e o prazo vai chegando. É uma experiência completamente diferente da que colegas de turma tiveram com outros intercâmbios”, diz Gustavo. A percepção de Daniel é semelhante: “Um grande desafio para mim foi conseguir encontrar uma instituição. Olhando para trás, era uma coisa difícil, que demanda tempo.”

Em pesquisa realizada pela Agência USP de Inovação com 198 ex-bolsistas que participaram do programa entre 2012 e 2015, constatou-se que a grande maioria faz o intercâmbio em instituições de ensino – como foi o caso de Gustavo –, seguido por empresas, como fez Daniel. Nesse período, as bolsas foram concedidas para 32 das 48 unidades da USP e 38 países diferentes foram destino dos bolsistas.

Na prática

A mesma pesquisa aponta que quase 97% dos ex-bolsistas veem as habilidades adquiridas no intercâmbio como essenciais para sua inserção no mercado de trabalho e 54% trabalham ou já trabalharam na área na qual focaram durante o intercâmbio.

Gustavo acredita que a bolsa contribuiu com seus projetos pessoais porque foi sua primeira interação com o universo de startups – durante o intercâmbio, trabalhou em uma iniciativa chamada “tech launch”, em que era reunido um grupo multidisciplinar em que tecnologias desenvolvidas dentro da universidade eram trabalhadas para tornarem-se negócios. “Eu nunca tinha participado de um programa tão imersivo, de construir uma startup, e ainda contando com o apoio de pessoas que já tinham experiência na área. Além disso, fiz contatos e tive muito crescimento pessoal”, detalha.

Após o intercâmbio com a Bolsa Empreendedorismo, Gustavo deu início a sua própria startup: um aplicativo de finanças pessoais, o Grana. “A vontade de empreender já estava muito forte em mim”, explica.

Já Daniel, durante o intercâmbio, participou do processo de aceleração e desenvolvimento de dez empresas – dentre elas, a 3D Hubs, hoje a maior plataforma de impressão 3D do mundo. Mas antes mesmo de chegar no país de destino, o ex- bolsista já havia dado início às suas atividades: divulgou o programa de aceleração da Rockstart no Brasil, de forma que uma das startups selecionadas para o programa foi a brasileira iClinic, de Ribeirão Preto.

Ao final do intercâmbio, Daniel se engajou em um programa de mestrado em desenvolvimento de produto no Núcleo de Manufatura Avançada (Numa), da USP em São Carlos. “No intercâmbio eu vi muita coisa e notei que queria entender um pouco mais do que vi”, conta. Atualmente, ele faz doutorado em Economia Circular, também na USP. O ex-bolsista se encaixa na parcela de alunos cujo retorno à comunidade USP se deu por meio de novos conhecimentos em pesquisa científica, identificada pela pesquisa da Agência como maioria entre os participantes do programa.

Empreendedorismo na Universidade

De acordo com a pesquisa, 100% dos ex-bolsistas recomendariam o intercâmbio para outros alunos, uma vez que reconhecem a capacidade de impacto da inovação e do empreendedorismo na sociedade.

Daniel acredita que o período da graduação é propício para começar a empreender e a Bolsa Empreendedorismo pode abrir horizontes para tal. “Quando o aluno está na graduação, ele está em uma espécie de incubadora/espaço de aceleração, porque é um momento de certa estabilidade. Se der errado, ele está lá adquirindo conhecimento, então esse é um momento muito bom para empreender.”

Já Gustavo nota que cada vez mais surgem, no ambiente da Universidade, incentivos e iniciativas com o propósito de sensibilizar os alunos à inovação e empreendedorismo, essenciais para o desenvolvimento do ecossistema brasileiro de inovação. Desta forma, relaciona: “Empreender é uma trilha árdua e surpreendente. Ao longo do caminho conhecemos outros empreendedores e, juntos, compartilhamos conquistas e aprendizados. Torço para que novos casos de sucesso surjam no mercado brasileiro. Ele precisa muito disso para amadurecer.”

Mariana Rudzinski / Agência USP de Inovação
Arte: ArissaTassos


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