Excelência dos cursos e infraestrutura estão entre prioridades da FOB

Professor Carlos Ferreira dos Santos assumiu a direção da Faculdade de Odontologia de Bauru no dia 10 de março

 19/03/2018 - Publicado há 6 anos
Professor Carlos Ferreira dos Santos assumiu a direção da FOB nos próximos quatro anos- Foto: Denise Guimarães / FOB

No dia 10 de março, Carlos Ferreira dos Santos tornou-se diretor do lugar onde se formou: a Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. Junto ao professor Guilherme dos Reis Pereira Janson, vice-diretor, ele assume o comando da unidade nos próximos quatro anos. A cerimônia de posse será realizada em 5 de abril, no Teatro Universitário da FOB.

Perguntado se, em algum momento, pensou que estaria na direção de uma das principais faculdades de odontologia do País, Santos foi categórico: “inimaginável!”. Lembra que quando chegou a Bauru não tinha nem mesmo como propósito seguir a carreira acadêmica. “Eu vim para ser um bom cirurgião-dentista, com interesse especifico em ortodontia. Mas o destino me levou a ser um farmacologista”.

Ele sucede a professora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado, da qual foi vice na gestão 2014-2018. A ex-diretora foi indicada, pelo reitor da USP, para assumir a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Aprovado em dois vestibulares, em 1990, ouviu da professora Marilia Grassi que deveria escolher a USP. Marilia ministrava aulas de Matemática nos seus tempos de colégio em São José dos Campos, sua cidade natal, e foi ela quem deu ao futuro dentista seu primeiro avental branco. “Vá, e eu tenho certeza que você será professor daquela faculdade”, profetizou.

Na entrevista a seguir, o novo diretor da FOB fala sobre sua trajetória pessoal e acadêmica e as prioridades de sua gestão:

Eleição para Diretor

Olha, é uma mistura de sentimentos [assumir a Diretoria da FOB]. O primeiro deles é de alegria, e de orgulho também, mas, principalmente de gratidão! Tenho uma origem muito humilde, tenho orgulho disso, não nego meu passado de muita luta. Mas chegar aonde eu cheguei também é um grande exemplo de que a Universidade de São Paulo tem condições de fazer transformações sociais.

Porque na USP, como aluno de graduação, eu tive todas as ajudas possíveis e imagináveis para alunos carentes. Eu fui bolsista da extinta bolsa “Eduardo Panadés”, eu tive bolsa Moradia, fui morador do Crusp, que carinhosamente chamávamos de alojamento, tive bolsa alimentação e enfim, também tive bolsas de pesquisa, mas aí o mérito foi outro, não um critério socioeconômico.

Então, com toda essa ajuda, e também com méritos próprios por abraçar tudo isso, me vem esse sentimento de, realmente, tentar devolver alguma coisa a quem fez tanto por mim, no caso a FOB e a USP. E esse é o maior sentimento, de gratidão mesmo, por todas as conquistas e por essa ascensão social que me foi permitida por meio da Educação.

 

Professor Carlos Ferreira dos Santos concede entrevista ao jornalista Luís Victorelli, da Assessoria de Comunicação do Campus USP de Bauru – Foto: Margarete Tavano/PUSP-B

 

Políticas de Inclusão

Passei no vestibular da Fuvest normalmente, como qualquer outro. Estudei em escola particular porque tinha bolsa e por mérito de desempenho acadêmico. Assim, fui bolsista de uma grande escola em São José dos Campos, a Olavo Bilac. Mas agora acho que é uma questão maior, que diz respeito a atender legislações.

O País, o Estado de São Paulo entenderam que seriam necessários incentivos para a entrada de alunos oriundos de escolas públicas. E a USP então, num momento histórico, em 2017, decidiu aderir a esse sistema. Tem também os alunos de outros estados, que não teriam condições de se deslocar para fazer o vestibular da Fuvest.

Eu vejo com naturalidade esse processo, mas sempre pautado pelo desempenho, e isso precisa permear o processo de entrada na USP. Que entrem os melhores. Eu acho que hoje, como acontece com o sistema do Sisu, temos a oportunidade de abranger um maior numero de pessoas, mas entrarão aquelas com mais capacidade de mostrar seu mérito acadêmico.

Origens

Nasci em 1970, o ano da Copa (do México). Meus pais são nordestinos, de Recife, Pernambuco. Vieram para São José dos Campos para tratar de uma doença que a minha avó materna tinha, e constituíram a família aqui. Somos em quatro irmãos; duas irmãs e dois irmãos, eu sou o terceiro. Nós nascemos todos paulistas. Por circunstâncias, meus pais se separaram. Meu pai voltou para o Nordeste e minha mãe ficou conosco, sozinha para nos criar.

Foi uma vida bem difícil, ela era comerciante, tinha bar, então foi um período de muito sacrifício. Foi toda uma engrenagem que ela teve que fazer para cuidar da educação dos filhos. Então só por isso, uma mulher nordestina, sozinha com quatro crianças, já dá para as pessoas imaginarem. Moramos sempre em periferia, enfim, então foi uma vida de muita luta. Estudei em escolas particulares, sim, a partir da 5ª série, mas porque eu tinha bolsa, porque não havia condições de pagar. E com as minhas irmãs, a mesma coisa; então, cada um buscando a sua excelência conseguiu construir seu caminho.

Para muitos, na época, por sobrevivência, a necessidade de trabalho era prioridade diante dos estudos. Mas com minha mãe, não! Ela nos blindou de toda essa carga de necessidade de trabalho, ela dizia que o que deixaria para nós era o estudo e dar todas as oportunidades para estarmos em boas escolas. Foi uma filosofia que ela implantou e que hoje repassamos para os nossos filhos. Minha mãe se chama Dona Lenira, faleceu em 2015.

Prioridades de gestão

Como o formato desta eleição foi totalmente diferente das anteriores, nós tivemos que estabelecer um plano de gestão. Pela primeira vez na história da FOB, e de outras unidades, as eleições aconteceram por meio da formação de chapas. Então fiz isso em conjunto com o meu vice-diretor, o professor Guilherme, pesquisador e professor que dispensa comentários, por tudo de excelência que ele faz. É um ex-aluno da casa também, vamos trabalhar juntos.

É obvio que o plano é um projeto, e um projeto pode ser modificado. Mas seguem as principais questões que buscaremos desenvolve:

Manter a excelência dos cursos de graduação. As necessidades mais imediatas ligadas aos três cursos – Odontologia, Fonoaudiologia e Medicina- sempre serão privilegiadas, até porque nós precisamos estar em consonância com a Reitoria. O que essa gestão reitoral colocar como mais importante será trabalhado. E a graduação será sim, a prioridade.

A segunda prioridade será a criação de um prontuário eletrônico. Esta implantação vai atender necessidades, não apenas da graduação propriamente dita, mas extrapola. Por exemplo, as atividades de extensão, que é a prestação de serviço junto à comunidade, nós vamos ter um registro muito mais fiel, rápido e eficiente. E, continuando o processo, tudo isso irá gerar dados para a pesquisa. Então, quando se fala da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, ações como esta traduzem exatamente isso.

Outra meta importante, ainda tendo como aliada a tecnologia, é a radiografia digital. Esse procedimento, além de atender as necessidades da graduação e beneficiar o paciente com menor exposição à radiação, vai gerar um banco de imagens que irá facilitar atividades de extensão e pesquisa.

Com a ampliação do campus, uma questão que não pode ficar de fora é o espaço físico. Nós temos algumas premências de reformas a serem feitas. Gestões anteriores estabeleceram ordens de prioridade e agora chegou a vez de algumas questões importantes para nós tratarmos. Entre elas, a criação do Laboratório de Pesquisa da Fonoaudiologia, o gerenciamento multiuso do Centro Integrado de Pesquisa II e reformas em estruturas já existentes, como exemplo a disciplina de Endodontia, um caso bem urgente, entre outras ações que estão delineadas no Plano de Gestão.

Estas são prioridades imediatas a serem executadas no atual espaço do campus. Com a realidade do curso de Medicina e a possibilidade de novos cursos, como a Enfermagem, e outras necessidades, vamos precisar de mais espaço. A área do Tiro de Guerra, que a professora Maria Aparecida iniciou conversações, e que eu vou continuar, é um espaço ideal pela proximidade do campus. Enfim, num futuro próximo precisaremos de áreas extras para a continuidade deste processo de crescimento.

Nesta gestão que começa, o que o professor Guilherme (Vice-diretor) e eu queremos passar para a comunidade é que além de manutenção da excelência da FOB, devemos tentar levá-la a patamares ainda mais altos. Para isso, a principal característica desta gestão é procurar sempre a divisão de responsabilidades e ações. Porque isso faz com que todos cresçam juntos

Medicina e Centrinho

O que a comunidade universitária está compreendendo, e estamos deixando isso muito claro para os estudantes, alunos e professores, é que a FOB abrigará o novo curso de Medicina por um tempo apenas. Como disse o Deputado [Estadual] Pedro Tobias [que atuou na criação do curso], “a Odontologia é mãe da Medicina aqui neste campus, mas, em algum momento, esse abrigamento deixará de existir”. Ele será, digamos temporário.

Em vários pronunciamentos, tanto da ex-diretora Maria Aparecida, do ex-reitor Zago e do atual reitor Agopyan, já existe um planejamento de que a Faculdade de Medicina seja criada, e rapidamente. E aí a Medicina terá sua vida independente, com seus gestores. É óbvio, no entanto, que o laço com a FOB será eterno.

O papel do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, o HRAC, carinhosamente chamado de Centrinho, foi, é e será fundamental em todo esse processo de desenvolvimento do campus. É fundamental porque desde o plano inicial da criação do curso de Medicina, o HRAC foi a semente do curso e da futura Faculdade. Então, nós temos hoje uma questão orçamentária já destinada para o HRAC que pode ser sim, utilizada para a Faculdade de Medicina, a ser criada.

Carreira na USP

Após passar na Fuvest, fiz minha matrícula em 1990, me formei  em 1993. Em 1994 consegui uma bolsa de estudos com o professor Antonio Gabriel Atta no HRAC. Entre 1995 a 1997 cursei mestrado em Farmacologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Fui contratado pela FOB em 1997 como professor assistente para atuar na disciplina de Farmacologia. Continuei então meus estudos, agora em doutorado, também na FMRP, e graças ao interesse despertado pelo projeto, fui para os Estados Unidos desenvolver um trabalho no Medical College of Wisconsin. Ali estudei, com bolsa CNPq, por um ano e meio.

Voltei em 2002, logo após a conclusão do doutorado. Assumi todas as responsabilidades como professor doutor na disciplina de Farmacologia da FOB. Em 2006, eu fiz minha livre-docência. Em 2009, voltei para o Medical College of Wisconsin para fazer um pós-doutorado com uma bolsa da pós-graduação da USP. Em 2011, fiz meu concurso para professor Titular e em 2014 fui eleito vice-diretor, ficando em primeiro lugar numa lista tríplice, formato diferente do implementado neste ano.

De 10/03/2014 até 09/03/2018, atuei na Vice-Diretoria da FOB e colaborei como superintendente substituto na gestão do HRAC nos últimos dois anos. Durante essa estada aqui na FOB, como docente, a partir de 2002, eu me envolvi em várias frentes como chefias de departamento, Comissão de Relações Internacionais, orientações na pós-graduação, Comissão de Cooperação internacional da USP, editor da JAOS (revista científica da FOB). Fui também coordenador da Comissão de Gestão do Crusp, por ter sido morador, entre tantos outros envolvimentos. Foi uma participação muito intensa.

Com muito orgulho fui fundador da Atlética da FOB, que hoje tem voos mais altos. Fico muito feliz com essa intensa vivência, experiência e aprendizado em vários níveis nesta escola, desde aluno, até agora como docente e também como gestor.

Paixão pelo esporte

Muitos podem não saber, mas o meu primeiro contato com Bauru não foi como acadêmico, mas como atleta. Antes de ser aluno de Odonto, cirurgião-dentista e professor universitário, tinha uma grande paixão pelo esporte, que ainda tenho, em especial o voleibol. Participei de competições dos 12 aos 18 anos. Fui atleta federado, joguei pela Federação Paulista de Vôlei, atuei em clubes do interior e da capital e integrei a Seleção Paulista de Voleibol, pela equipe de Jacareí.

Minha primeira vinda a Bauru foi em 1985, com 15 anos, para enfrentar o time de vôlei da Luso. Na época, categoria infanto-juvenil, fizemos um jogo histórico contra a equipe de Bauru, no qual jogava o Max, um grande atleta que depois jogou pela Seleção Brasileira de Voleibol, categoria adulto.

Eu jogava pelo Jacareí e viemos com apenas seis atletas, número exato de jogadores em quadra. Não havia como ter substituição eu era levantador, uma posição em que o atleta mais corre em quadra, e o que mais sofre.  Então eu saí exausto do jogo, numa época que vigorava a vantagem, a partida demorou mais de 3 horas e 4 sets. Infelizmente perdemos por 35 a 33. Foi emblemático e inesquecível.

Adaptado de entrevista concedida a Luís Victorelli, da Assessoria de Comunicação do Campus USP de Bauru


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