Competição estimula empreendedorismo na ciência

Equipe de estudante de física da USP idealizou um dispositivo para impedir uso de celular no trânsito. Proposta venceu competição de empreendedorismo

 08/11/2016 - Publicado há 7 anos
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Foto: Lord Jim via Visual Hunt
Projeto propôs mecanismo para impedir que motoristas falem ao celular enquanto conduzem – Foto: Lord Jim via Visual Hunt

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Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,3 milhão de pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito.
Nos Estados Unidos, cerca de 25% desses acidentes são provocados pelo uso indevido do telefone celular, de acordo com pesquisa realizada pelo National Safety Council (Conselho de Segurança Nacional) do país. Desde o início deste mês, no Brasil, usar o aparelho enquanto dirige passou a ser considerada uma infração gravíssima.

Tendo como ponto de partida os dados alarmantes, a equipe de um estudante do Instituto de Física (IF) da USP idealizou um dispositivo chamado B-safeTech, com a proposta de impedir que motoristas falem ao celular enquanto conduzem. A ideia surgiu durante uma competição no Workshop de Empreendedorismo para Cientistas e Engenheiros, realizado de 17 a 21 de outubro no Instituto de Física Teórica da Unesp, em São Paulo. O evento reuniu estudantes de graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores da área da ciência e da engenharia que assistiram palestras de oradores nacionais e internacionais, obtendo competências empresariais para comercializar as suas ideias e invenções científicas.
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Foto: Divulgação/IFT
Participantes do workshop na Unesp – Foto: Divulgação/IFT

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O time formado por Luan Delarion e professores de universidades da América Latina e do Brasil
consagrou-se vencedor da competição. O desafio proposto era criar, a partir de uma ideia científica, o modelo de negócios de um produto que se mostrasse viável comercialmente. 

Apesar do foco da competição não ser a criação de um dispositivo ou produto em si, o projeto mostrou-se cientificamente possível de ser realizado. O grande diferencial do produto pensado pelos vencedores em relação aos bloqueadores de sinal já disponíveis no mercado é isolar apenas o motorista, não afetando o uso do celular pelos demais passageiros do veículo.
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Foto: Divulgação/IFT
Luan durante apresentação do projeto – Foto: Divulgação/IFT

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Para Delarion, que precisou de duas cartas de recomendação e proficiência em inglês para participar do workshop, falta aos estudantes e profissionais da área da física interesse em arriscar-se no mundo dos negócios. “A mentalidade dos graduandos, dos professores da área de física não é voltada para o empreendedorismo, eles preferem ficar na área acadêmica”, explica o estudante do IF.

Segundo ele, apesar do incentivo da organização do workshop à participação de físicos, poucos estudantes e profissionais da área se engajaram no evento. Delarion acredita que é nesse vácuo de interesse pelo empreendedorismo que as empresas juniores (EJs) de física podem ajudar. “As EJs têm um papel de fazer o estudante da graduação se preparar para isso desde cedo. Ter participado da IFUSP Jr. (a empresa júnior do IF) foi o que me estimulou e me abriu a cabeça para tudo isso.”

Foto: Divulgação/IFT
Proposta da equipe de Delarion venceu competição de empreendedorismo – Foto: Divulgação/IFT

As noções de empreendedorismo adquiridas na IFUSP Jr. ajudaram o estudante e sua equipe a alcançar o primeiro lugar da competição com o B-safeTech. Um dos principais pontos do plano de negócio apresentado é explorar o vasto mercado de seguradoras no Brasil.

“A ideia seria mostrar para as seguradoras que as estatísticas de acidentes envolvendo celular são relevantes”, explica o estudante, que está no último ano do curso de bacharelado em Física. A partir dessa percepção, o B-safeTech entraria como uma forma de os motoristas baratearem o preço do seguro, já que o dispositivo reduziria o número de acidentes.

O próximo workshop será no México, e Delarion participará como convidado da organização. Segundo o futuro físico, iniciativas do tipo são importantes para fazer boas ideias saírem do papel e estimular cientistas a levarem adiante seus projetos. “Muitos professores (que desenvolvem projetos científicos) já não têm mais ânimo para superar as barreiras de colocar uma ideia no mercado, às vezes sequer a patenteiam e deixam a ideia morrer”, finaliza.


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