Diretor quer maior presença da FSP na definição de políticas públicas

Oswaldo Tanaka assume a Faculdade de Saúde Pública com a proposta de ampliar diálogo com sociedade e com o poder público

 23/03/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 26/03/2018 as 9:50
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Com origens no Laboratório de Higiene, em 1918, a Faculdade de Saúde Pública da USP completa 100 anos com reflexões sobre seu papel na sociedade – Foto: Francisco Emolo/USP Imagens

“Um primo meu veio do Paraná estudar Medicina aqui na USP. Eu fiquei encantado e quis fazer também. Minha mãe ficava muito doente e achei que poderia ajudá-la”, lembra o professor Oswaldo Yoshimi Tanaka, hoje aos 70 anos e prestes a assumir a direção da centenária Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Tanaka ingressou na Faculdade de Medicina em 1966 com a ideia de se tornar cirurgião. Após cinco anos de estudos focados em técnicas cirúrgicas, começou a se interessar pelas questões do desenvolvimento da criança – optou, então, por seguir o rumo da pediatria. Após dois anos de residência na área, conseguiu uma bolsa da Organização Pan-Americana de Saúde, organismo internacional de saúde pública ligado à ONU e, com ela, estudou Pediatria Social no Chile.

O professor recorda que, no país, onde havia o melhor sistema de saúde da América Latina da época, os profissionais da medicina precisavam ter um caráter multifacetado, já que era necessário exercer várias funções. “As mães chilenas me ensinaram espanhol”, conta Tanaka, que passou um ano acompanhando os plantões antes mesmo de dominar o idioma.

Oswaldo Yoshimi Tanaka, eleito diretor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Já em São Paulo, em 1978 começa a cursar o mestrado na Faculdade de Saúde Pública da USP, avaliando o programa de saúde infantil da Secretaria da Saúde de São Paulo. No fim do curso, foi para a Inglaterra, país conhecido por seu sistema de saúde público, para entender como funcionam os general practitioners – espécie de médicos de família privados  – e os clinical medical officers – “médicos clínicos”, em tradução livre. Voltando ao Brasil, emendou um doutorado para investigar como a população usava os serviços de saúde em um bairro de São Paulo.

Ao falar sobre sua trajetória, destaca o período em que trabalhou com agricultura, educação e saúde a partir de uma bolsa da Fundação Kellogg envolvendo 60 pessoas da América Latina, África e Estados Unidos. “Para mim foi uma experiência de vida muito interessante, porque a gente reunia as pessoas da mesma região uma vez por ano, e uma vez por ano todos juntos. Conheci um rapaz que era menino de rua oriundo do Peru, uma enfermeira que trabalhava com esquimós, um professor da África do Sul cujo pai morava em área controlada pelo Apartheid e muitos outros”. A vivência, conta, deu-lhe uma nova visão de mundo e chamou sua atenção para a importância da responsabilidade junto à comunidade.

O futuro da faculdade

Esse mesmo sentimento de responsabilidade foi o que o levou a se candidatar à diretoria da Faculdade de Saúde Pública. Professor do Departamento de Política, Gestão e Saúde, Oswaldo Tanaka estava prestes a se aposentar, mas se comprometeu a permanecer até os 75 anos. “Quero contribuir de uma forma diferente de como fiz até agora”, afirma o docente que, além da carreira acadêmica, também já atuou na administração pública na área da saúde em âmbitos municipal e estadual.

Um de seus propósitos é “recuperar o tecido social da unidade”, estimulando a comunidade universitária a ter orgulho de trabalhar na faculdade. Outro ponto que destaca é ampliar a presença nos debates públicos. “Estamos muito ausentes da sociedade, como podemos ser mais proativos? Temos muita coisa para falar e temos que falar para o povo. Quem nos paga é o cara que pega o ônibus comigo e ele merece uma explicação que eu tenha, e ele não.”

Escuta e o diálogo serão pontos-chave da gestão de Oswaldo Tanaka na Faculdade de Saúde Pública – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para o professor, é necessário que as pessoas estejam mais bem informadas e consigam decidir melhor sobre sua própria saúde e não depender apenas da autoridade do médico.

Ao longo de seu percurso acadêmico, Tanaka conheceu os sistemas de saúde de diferentes países e acredita que o problema do Brasil é, de fato, a desigualdade social. Considera o SUS o melhor sistema público de saúde da América Latina e avalia que os planos de saúde “baratinhos” não têm vida longa. “Saúde custa muito caro.”

A Faculdade de Saúde Pública acaba de completar 100 anos e, para o seu novo dirigente, é preciso olhar para o futuro, pois as próximas décadas serão muito diferentes das passadas. “Estou entusiasmado. Acho que vou errar muito, pois quem está tentando fazer alguma coisa erra mesmo”, afirma. Em relação à sua gestão, o professor reforça que a unidade precisa ser fomentada por meio da escuta e do diálogo, construindo alternativas para os problemas e tomando decisões colegiadas. “O diretor não é aquele que faz. Quem faz são os docentes e funcionários. O diretor abre as portas e é importante abrir as portas”, afirma.

Apesar de todos os desafios que se impõem – na faculdade, na USP como um todo e no cenário da saúde no Brasil – o novo diretor se diz motivado e acredita que é possível fazer diferente. Avalia que é crucial manter uma boa relação com a Reitoria e reforça a importância do caráter público da Universidade. “O fato de termos definido cotas raciais foi um ganho muito grande. Quero defender a universidade pública e gratuita, porque é o único jeito de minimizarmos as diferenças sociais.”

Oswaldo Tanaka assume a diretoria da Faculdade de Saúde Pública no dia 26 de março, junto à vice-diretora, professora Carmen Simone Grilo Diniz.

 


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