Comunidade USP passou por “triagem ideológica” durante a ditadura

Docentes, funcionários e alunos sofreram violações de direitos humanos, concluiu a Comissão da Verdade da USP

 26/04/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 27/04/2018 as 13:40

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Na USP, o período da ditadura militar (1964-1985) foi marcado por graves violações de direitos humanos que atingiram duramente docentes, funcionários e alunos. Essa é uma das principais conclusões do relatório da Comissão da Verdade da USP. Dividido em dez volumes, o material traz relatos e documentos que tentam esclarecer os fatos ocorridos na época. Janice Theodoro da Silva, coordenadora da comissão e professora aposentada do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, falou sobre a produção do relatório.

A coordenadora da Comissão da Verdade da USP, Janice Theodoro da Silva – Foto: Reprodução Instituto CPFL

Ela explica que, durante a segunda gestão do reitor Miguel Reale (1969-1976), foi criada, por decisão dele, a Assessoria Especial de Segurança e Informação (Aesi). A criação dessa assessoria possibilitou a fiscalização de todos os professores, funcionários e alunos da Universidade. O órgão possuía ligações com o Sistema Nacional de Informação (SNI) e com o Departamento Estadual de Ordem  Política e Social (Deops), que recebiam diariamente relatórios com informações da comunidade uspiana. “Essa assessoria vasculhava a vida de algum professor que seria contratado, procurando por problemas políticos. Se (ele) tivesse, não seria contratado”, exemplifica a professora.

Janice destaca um dado: das 434 pessoas identificadas como mortas e/ou desaparecidas pela Comissão Nacional da Verdade, mais de 10% eram da comunidade USP. Segundo a historiadora, os gráficos mostram que esses indivíduos foram mortos por atuação em organizações políticas que nasceram dentro da Universidade.

A professora ressalta o papel da USP no período. Como as críticas ao regime militar não apareciam nos jornais devido à censura, a instituição se tornou um espaço possível de elaboração da crítica. “É necessário observar que, ao lado da repressão, também existia a resistência. A Universidade era extremamente vigiada e conseguiu, durante todo esse período militar, produzir um pensamento crítico admirável”, comenta a professora.

Os dez volumes estão disponíveis no site do Relatório da Comissão da Verdade.

O programa Jornal da USP no Ar, parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular. Você pode ouvir a entrevista completa no player acima.

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Infográfico: Uma história a ser recontada


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