Aula de odontologia simula perícia em local de crime

Em disciplina da Faculdade de Odontologia da USP, os alunos podem aprender na prática como é o trabalho de um perito criminal

 31/08/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 04/10/2016 as 14:39
Por [cycloneslider id=”odontologia_forense”]

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Tradicionalmente, a profissão de dentista é encarada como individual, devido ao trabalho no consultório. Mas o trabalho em equipe é importante na formação acadêmica deste profissional, ao promover a discussão de ideias e o estímulo ao respeito e à diversidade. Uma disciplina da Faculdade de Odontologia (FO) da USP vem investindo nessa interação com uma metodologia que preza pela construção coletiva do conhecimento. 

As aulas de Odontologia Forense simulam a perícia no local de um crime – uma temática que surgiu a partir da constatação dos professores de que muitos cirurgiões-dentistas acabavam seguindo a carreira forense como peritos. A dinâmica proposta permite que os alunos trabalhem juntos na investigação, cada um responsável por uma parte dela, mas colaborando com o trabalho do colega. A atividade foi idealizada pelo professor Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, que atualmente é coordenador da disciplina. Thiago Beaini e Silvia V. Tedeschi-Oliveira são professores convidados do curso.

Primeiro os estudantes recebem a teoria em sala de aula e depois vão para a parte prática. Durante a simulação, os alunos ficam livres para percorrer o ambiente e fazerem suas próprias descobertas. Os professores andam pelo local dando instruções como, por exemplo, jamais andar de costas e sempre observar onde está pisando. São designadas funções para cada um dos alunos, como, por exemplo, fotografar o local, fazer a coleta de dados ou representar por meio de desenhos as informações obtidas. O processo nada mais é do que abordar uma realidade que não é específica da odontologia em algo do dia a dia deles, explica o professor Beaini.

O papel do odontologista na perícia não é desvendar o crime, mas oferecer recursos para que o caso seja esclarecido. Nesta área, existe a profissão de odontolegista que foi regulamentada em 2009. Trata-se de um profissional do Instituto Médico Legal (IML) responsável pela análise de material humano relacionados à cabeça e ao pescoço. No Estado de São Paulo, não existe o cargo de odontolegista como já existe em outros estados, então muitos dentistas acabam exercendo a função de peritos criminais.

O detalhismo e capacidade de descrição dos dentistas são de grande ajuda na área criminal. “O olhar odontológico faz toda a diferença em uma equipe. Na dinâmica que fizemos, havia uma marca de mordida em um vestuário e, assim que os alunos seguraram a camiseta, eles perceberam. Poucos peritos identificariam aquilo como uma mordida”, diz o professor.

Segundo o professor, os alunos ficam curiosos para saber como será a aula. “O aluno de graduação está acostumado com uma rotina de clínica, estudo e aula teórica. A gente, então, tenta fazer uma aula ao ar livre e esse tipo de dinâmica realmente sai do dia a dia deles. É um complemento profissional para qualquer um que deseje se dedicar a essa área.”

Revista de Graduação USP

A nova dinâmica na aula de Odontologia Forense é relatada em um artigo na primeira edição da Revista de Graduação USP, a Grad+. O texto é assinado pelos professores Thiago Leite Beaini, Alice Aquino Zanin, Geraldo Elias Miranda, Marta Flores, Janaina Paiva Curi e Rodolfo F. H. Melani.

A publicação, que divulga práticas, reflexões e pesquisas sobre o ensino na graduação, é mantida pela Pró-Reitoria de Graduação da USP.


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