Animais silvestres e domesticados convivem em campus de Pirassununga

Instalada em antiga fazenda, USP possui 38% de sua área em reserva ecológica

 06/06/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 13/06/2017 as 17:23
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Além de animais silvestres, o campus da USP em Pirassununga também possui rebanhos de gado, utilizados em atividades de ensino e pesquisa – Foto: Divulgação

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Um ambiente ecótono: assim é definida a área do campus Fernando Costa da USP, em Pirassununga, por reunir comunidades ecológicas distintas e, portanto, espécies de diferentes biomas. O território apresenta regiões de contato entre Mata Atlântica e Cerrado, formando as chamadas zonas de transição.

“Esses dois biomas, extremamente importantes, oferecem suas características e biodiversidade particulares. Deste modo, a fauna e a flora do ambiente acabam enriquecendo como um todo”, explica Antônio Bordignon, mestrando na Universidade e responsável pelo mapeamento do campus.

Já foram encontradas no local 183 espécies de animais. As mais populares entre as serpentes são a cascavel, a falsa-coral, a jiboia e a jararaca; entre os pássaros, são comuns o falcão carcará, a seriema, a garça, a tesourinha, a coruja-buraqueira e os periquitos; o campus também é lar de lagartos como o teiú e o lagarto verde; de anfíbios, entre os quais se destacam o sapo-cururu e a perereca de banheiro; e ainda de mamíferos como os cachorros-do-mato, tatus, ouriços-cacheiros e gambás.

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O pesquisador Antônio Bordignon, que também é fotógrafo de natureza, posa ao lado de um quati – Foto: Facebook

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O campus de Pirassununga é o maior em área contígua da USP. A área total do campus soma 2.269 hectares – o que equivale a 22,6 milhões de metros quadrados – e 38% desse território é ocupado por reservas ecológicas, sendo a maior proporção de área protegida da Universidade. O local, na verdade, era uma antiga fazenda que começou as atividades como escola de agricultura e depois, em 1989, foi agregada à USP.

“Quando uma universidade utiliza o ambiente natural para instalar suas dependências, automaticamente existe um impacto para a fauna e flora local. Criar reservas ecológicas aproveitando ao máximo esses recursos naturais que já existiam permite não somente uma manutenção da biodiversidade local, mas também a oportunidade de contato mais próximo com a natureza, onde é possível desenvolver pesquisas e estratégias para conservação”, pondera Bordignon.

Essas estratégias vêm sendo colocadas em prática pela Prefeitura do Campus de Pirassununga (PUSP-P) em colaboração com professores de suas unidades: a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ).

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Urubu-rei, animal ameaçado de extinção, já foi encontrado no campus de Pirassununga – Foto: Divulgação

Dar de cara com um animal raro é sempre uma grande surpresa e um grande prazer para aquele que o observa.
Dentre esses encontros, lembro-me da vez que encontrei um urubu-rei. O animal está ameaçado de extinção no Estado de São Paulo e foi observado em um cocho bebendo água junto aos bois. Infelizmente, não pude fotografá-lo, pois estava sem a câmera no momento. Foi a única vez que essa espécie foi observada no campus. Provavelmente, por se tratar de uma ave que voa alto e a longas distâncias, ela estava somente de passagem, e aproveitou do cocho para matar a sede e seguir viagem.

Antônio Bordignon

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Segundo informações da PUSP-P, foram construídas cercas para isolar as áreas de conservação, protegendo-as de fatores degradantes e delimitando as reservas.

“Como se não bastassem os desmatamentos na região, temos ruas e estradas no campus, assim como a Rodovia Anhanguera, que ‘corta’ o local em dois lados. Tal obra força os animais a atravessarem a pista constantemente, e consequentemente, correm o risco de serem atropelados, algo que aumenta ainda mais o impacto sobre a fauna local”, lembra Bordignon.

Foi adquirido ainda um caminhão com adaptação para tanque-pipa, com o intuito de proteger a região de possíveis incêndios e, neste mesmo sentido, foram realizados aceiros, que são aberturas na vegetação como forma de criar barreiras para a propagação do fogo.

Durante o ano, diversas atividades são oferecidas dentro do campus. Com o objetivo de aproximar todos aqueles interessados no tema meio ambiente, são realizados minicursos, palestras e atividades de campo, como aulas de fotografia da natureza e até mesmo trilhas ecológicas, com trechos sinalizados que servem de espaço de lazer e de aulas de educação ambiental ao ar livre.

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Lagarto teiú fotografado em frente à Suinocultura – Foto: Rodrigo Pereira

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Patrimônio vivo

Os corredores vegetais presentes nas reservas da USP em Pirassununga fornecem condições ideais para a reprodução de vários animais. As árvores mais comuns na área são os angicos, o pau-ferro, o cedro e o pau-brasil, a famosa planta nativa que está na lista de espécies ameaçadas.

No período de 2015 e 2016, em parceria com empresas, a Prefeitura do campus iniciou o plantio de mais de 12 mil mudas nativas nas áreas protegidas, utilizando metodologia de restauração ecológica.

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Animais ameaçados também estão presentes no campus: é o caso do lobo-guará, da onça-parda, do gato-mourisco, dos tamanduás bandeira e mirim, da urutu-cruzeiro e da jararaquinha-do-campo. O perigo de extinção ocorre por conta da fragmentação dos biomas, que força esses animais a buscarem ambientes mais preservados. A reserva acaba favorecendo abrigo, um território seguro para sustentarem a espécie.

Mas não são apenas animais silvestres que habitam o local. Rebanhos de bovinos de corte e leite, suínos, equinos, caprinos, ovinos, búfalos, coelhos e peixes também dividem o espaço. Os animais são utilizados para as atividades de ensino e pesquisa dos cursos de Medicina Veterinária, Zootecnia, Engenharia de Alimentos e Engenharia de Biossistemas.

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Mapa do campus de Pirassununga com a indicação das áreas de mata – Imagem: Reprodução

 

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