Ajudando o professor de matemática a se reinventar

Qualificar os profissionais de ensino em uma área que ainda está longe de ser valorizada no Brasil é o objetivo do mestrado profissional em Matemática (PROFMAT)

 02/12/2016 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 13/12/2016 as 12:59

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A professora Ires Dias, do ICMC, coordena o mestrado profissional em Matemática na USP - Foto: Fernando Mazzola
A professora Ires Dias, do ICMC, coordena o mestrado profissional em Matemática na USP – Foto: Fernando Mazzola

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Ser professora para mim é tudo, não consigo viver sem alunos. Vê-los se formar e ter suas vidas transformadas é uma recompensa maior do que qualquer cargo ou artigo publicado

É assim que a docente Ires Dias, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, define a importância da arte de ensinar. Não é por acaso que ela coordena o Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT) na USP, um projeto que tem como objetivo qualificar os profissionais de ensino em uma área que ainda está longe de ser valorizada no Brasil.

Criado pela Sociedade Brasileira de Matemática em 2011, o PROFMAT é realizado por uma rede de instituições de ensino superior e oferece mais de 1,5 mil vagas em todo o território nacional. Na USP, o programa é de responsabilidade do ICMC e conta com três polos: um em São Carlos, no próprio ICMC; um em São Paulo, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH); e o terceiro, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP).

Segundo a professora Ires Dias, um fator que dificulta a preparação de um bom professor de matemática é a falta de reconhecimento do trabalho do professor, que acarreta no desinteresse pelos cursos de licenciatura: “A concorrência acaba sendo menor e os alunos chegam muito menos preparados”, explica a docente, que ministra aulas no ICMC há 27 anos.

Outro fator que atrapalha essa preparação é que muitos estudantes ingressam no curso sem saber se realmente é o que desejam: “Tem que gostar muito, o curso é difícil e você deve realmente querer ser professor”. Para Ires, a paixão pela disciplina veio logo aos 10 anos, na sexta série, quando se encantou com a forma de ensinar de seu professor de matemática e decidiu que um dia gostaria de ser igual ele.

Descobrindo uma vocação

“O professor legal mais chato do mundo”. É assim que Leonardo Perez é conhecido carinhosamente por seus alunos: “Eu procuro ser muito próximo deles, dar atenção e, quando precisa, sou mais sério”, conta o professor que também cursou o PROFMAT no ICMC. Formado em matemática pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 2007, Leonardo começou logo no ano seguinte sua trajetória em sala de aula, trabalhando em escolas públicas e, hoje, é professor de matemática no ensino fundamental das escolas particulares Oca dos Curumins e SESI 108, ambas de São Carlos. Na segunda instituição, ele também ministra aulas de física para o ensino médio.

 

“O PROFMAT permitiu que eu me reinventasse em sala de aula”, diz o professor Leonardo Perez
“O PROFMAT permitiu que eu me reinventasse em sala de aula”, diz o professor Leonardo Perez – Foto: Reinaldo Mizutani

 

Quem olha para o Leonardo professor de hoje não imagina que na graduação ele ainda não se imaginava comandando uma sala de aula. “Fui fazer matemática porque gostava de estudar e com o objetivo de usar como ponte para outra profissão. Mas quando tive que fazer aulas testes e estágios em escolas, percebi que eu conseguia prender a atenção dos estudantes e me saía bem naquele cenário”. Foi aí que Leonardo começou a se dedicar cada vez mais à profissão de professor, estudando conteúdos da área de educação e participando de eventos.

“O que mais gosto da profissão é que não temos rotina, os alunos mudam, as perguntas mudam, a minha aula muda. Sempre estou pesquisando novas formas de ensinar o mesmo conteúdo”, conta o educador. Novas formas de aprender conteúdos foi o que o professor estudou durante seu mestrado no PROFMAT. Em seu trabalho intitulado Um estudo sobre o uso de avaliações apoiadas pelas tecnologias, orientado pela professora Miriam Utsumi do ICMC, Leonardo fez uso da tecnologia para ensinar geometria.

O PROFMAT permitiu que eu me reinventasse em sala de aula. Aprendi coisas que eu sequer sabia que poderiam ser exploradas, como o uso de computadores para aplicar situações-problema, propor atividades investigativas, além de conhecer novas didáticas e metodologias de ensino.

O projeto do professor ficou entre os 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10. Criado em 1988, a iniciativa recebe cerca de três mil inscrições de projetos de diferentes áreas do conhecimento todos os anos e reconhece os trabalhos mais bem-sucedidos realizados por professores da educação infantil, do ensino fundamental e de gestores escolares de todo o Brasil. O reconhecimento fez com que Leonardo participasse de diversos eventos divulgando sua pesquisa, como a mesa redonda sobre tecnologia realizada em maio de 2016 na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e no Primeiro Encontro de Educadores que ensinam Matemática, realizado em junho no ICMC.

“Fico feliz em poder compartilhar minha experiência, isso me motiva ainda mais a fazer coisas novas”, diz Leonardo. Trabalhos como o dele são importantes no processo de transformação da educação do país e servem de espelho para quem também sonha com essa mudança. “Tente sempre ser o melhor que você puder porque, em algum momento, notará que o que você faz tem valor”, finaliza.

Henrique Fontes / Assessoria de Comunicação do ICMC

 

 


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