Academia e sociedade debatem a presença de negros no ensino superior

Grupo de Estudos de Gênero e Raça da FEA coloca em discussão necessidade de cotas raciais

 21/10/2016 - Publicado há 7 anos
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Foto: Cecília Bastos

Apesar dos constantes debates sobre inclusão racial e as recentes mudanças no sistema de ingresso na USP, com a adoção do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e a reserva de vagas para pretos e pardos e indígenas (PPI) em algumas unidades, os números ainda não apontam grandes avanços. Este cenário é uma das preocupações do Grupo de Estudos de Gênero e Raça (Genera), que surgiu na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) para promover reflexões por meio de estudos acadêmicos e também encontros e eventos para toda a sociedade.

Leia o Jornal da USP Especial sobre as políticas de inclusão social da Universidade

A presença de negras e negros na educação superior foi escolhido como tema do simpósio que o grupo realiza na próxima semana, com a participação de ativistas, pesquisadores, professores e estudantes. “Entendemos que a questão de raça está longe de ter alcançado uma discussão satisfatória e, na própria USP, a participação de negros e negras estudantes e docentes ainda é muito baixa e está longe de representar a porcentagem presente no Estado de São Paulo”, afirma Thai Azé, pesquisadora do Genera e organizadora do simpósio.

A quantidade de alunos pretos e pardos e indígenas ingressantes na USP passou de 17,7%, em 2015, para 16,6% em 2016, considerando os dados divulgados pela Fuvest. A proporção desses grupos no Estado de São Paulo, segundo o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 35%. No Brasil, 54% da população se autodeclara preta ou parda, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2014.

A Universidade adota o Inclusp no vestibular, que garante acréscimo de 12% a 15% na pontuação de alunos de escola pública e de mais 5% para candidatos PPI que estudaram na rede pública. As cotas sociais e raciais, no entanto, entram apenas nas vagas ocupadas pelo ingresso do Sisu, pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que representam, para o próximo processo, cerca de 21% do total de vagas na graduação.

Pretos, pardos e indígenas na USP

Porcentual em relação aos ingressantes de escolas públicas | Fonte: Pró-Reitoria de Graduação
Porcentual em relação aos ingressantes de escolas públicas | Fonte: Pró-Reitoria de Graduação

Na primeira experiência com o Sisu, das 1.489 vagas reservadas, 123 foram destinadas a pretos, pardos e indígenas. Neste ano, o número subiu para 586, apesar de ainda haver unidades que não aderiram ao sistema. E mesmo entre as que já oferecem vagas pelo Sisu, nem todas optam pela categoria PPI, já que há ainda outros dois tipos de vagas: para ampla concorrência e para alunos da rede pública.

A FEA, por exemplo, que é a unidade de atuação do grupo, não adotou cotas raciais para ingresso em seus cursos. “A política de reserva de vagas na educação superior é necessária dada à própria trajetória e construção dessa sociedade brasileira história e social”, afirma Camilla Soueneta, doutoranda da FEA e também organizadora do Simpósio Genera. Durante três dias, o evento vai discutir o acesso, permanência na Universidade e racismo institucional no caso de docentes.

O grupo defende a adoção de medidas como reserva de vagas em todos os cursos da Universidade para negros, pardos ou indígenas e medidas de permanência, como criação de creches para mães estudantes. “Existe um corpo de ações afirmativas que precisa atuar conjuntamente, é importante que não seja só reserva de vagas, mas algo mais completo”, defende Thai.

Ações do Genera

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Simpósio “Mulheres: carreira e escolha” realizado em maio pelo grupo – Foto:Divulgação/Genera

A formulação de políticas de inclusão e a decisão da quantidade de vagas dedicadas à inserção de minorias na Universidade, tanto no âmbito geral da USP, quanto das unidades, são feitas por conselhos que incluem a participação de representantes docentes, funcionários e alunos.

A ação dos grupos de pesquisa e ativismo se dá pela organização de eventos para debate e pesquisa relacionada às questões sociais. O Genera é composto, majoritariamente, de pesquisadoras alunas de pós-graduação e docentes da FEA do Departamento de Contabilidade. O grupo surgiu de uma disciplina da pós-graduação oferecida em 2013 no departamento, a primeira da faculdade a abordar gênero e raça. Hoje a disciplina é oferecida também para a graduação e conta com algumas aulas e palestras abertas ao público.

“Indiretamente os grupos de pesquisa podem auxiliar no momento em que a discussão traz um entendimento da questão e da necessidade deste tipo de política, da história dos movimentos sociais”, afirma Camilla. Em maio deste ano o grupo organizou seu primeiro simpósio, que abordou o tema mulheres: escolha e carreira. De autoria de uma pesquisadora do grupo, Sandra Maria Silva, foi desenvolvida também pesquisa que discute a presença de negras na docência. A pesquisadora fará parte de mesa de debate durante o simpósio.

Participe

As atividades do Simpósio Genera: Negras e Negros na Educação Superior acontecem de 25 a 27 de outubro, das 18h30 às 22 horas, na Sala da Congregação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, localizada na Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, na Cidade Universitária.

O evento conta com apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de Uberlândia e do Centro Acadêmico Visconde de Cairu.

Todas as atividades do simpósio serão gratuitas e abertas ao público. Como os lugares são limitados, é possível garantir a participação por meio do formulário.

Mais informações: sites https://generausp.org/, email contato@generausp.org


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