Comunicado: O absurdo e os malefícios da “greve preventiva” na USP

Foi com perplexidade, surpresa e grande preocupação que recebemos o comunicado do Sintusp anunciando que a entidade decidiu convocar uma greve por tempo indeterminado, a partir de 12 de maio.

 11/05/2016 - Publicado há 8 anos
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Foi com perplexidade, surpresa e grande preocupação que recebemos o comunicado do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) anunciando que a entidade decidiu convocar uma greve por tempo indeterminado, a partir de 12 de maio.

O que espanta não é a greve, em si. Temos o dever, na democracia brasileira, de respeitar e defender os direitos dos trabalhadores. O espantoso, nesse caso, é que a convocação da greve se antecipa ao início da negociação salarial. Na verdade, atropela as negociações.

A greve pretende ter início antes da reunião do  Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), marcada para o dia 16/05, para tratar do reajuste salarial nas universidades paulistas. Trata-se, portanto, de uma greve sem fundamentação em demanda de reajuste salarial, uma vez que não existe, ainda, uma proposta de reajuste manifestada pelo Cruesp.

Como se vê, estamos lidando aqui com um absurdo completo e inexplicável, um claro abuso de direito: uma proposta de “greve preventiva”, que sequer esperou a abertura da negociação salarial.

Essa atitude de provocação e de ameaça – e de sabotagem declarada das negociações – agride os fundamentos básicos da convivência na USP e mesmo da prática sindical. Em nada vai ajudar a USP neste momento extremamente difícil que estamos atravessando.

Diante disso, chamamos nossos professores, servidores técnicos e administrativos, e alunos ao bom senso que a democracia exige de nós.

Confiamos que a grande maioria da comunidade universitária não vai aceitar passivamente essa “greve preventiva” e, também, extemporânea, que não contribuirá para melhorar as relações entre servidores e universidade, e dificultará sobremaneira a solução das demandas trabalhistas.

Esse tipo de provocação não faz parte das relações modernas entre servidores e a administração da instituição e adquire ainda mais gravidade neste momento de grandes incertezas políticas e econômicas, com desemprego crescente, perda de valor de salários, redução brutal de receitas públicas e até atrasos e suspensão de pagamentos de salários por entes públicos. Nesta hora, somente a preservação das relações funcionais de respeito mútuo e de busca conjunta de soluções permitirá preservar a USP.

Apenas para que não fique nenhuma dúvida sobre o absurdo da “greve preventiva”, vale recapitular o nosso calendário. Maio é o mês de negociação salarial nas três universidades estaduais paulistas.

Assim como em 2015, as conversações foram iniciadas com antecedência, no dia 27 de abril, com uma reunião entre o Cruesp e o “Fórum das Seis”.

Nessa reunião, com a presença dos três Reitores, foi revista, em conjunto, a pauta consolidada de demandas do Fórum, tendo sido discutidos vários aspectos relativos à agenda. De comum acordo, foi fixada a data de 16 de maio para a nova reunião, quando o Cruesp deve apresentar aos sindicatos sua proposta de reajuste salarial.

Em respeito a esse calendário, construído de comum acordo (não custa repetir), a comunidade deve aguardar a abertura da negociação salarial e apoiá-la. Pretender convocar uma greve antes disso é, simplesmente, sabotar qualquer chance de entendimento.

É nesse sentido que conclamamos os espíritos livres desta Universidade para que, sem abrir mão de um único direito, não permitam que sejam desfeitas as nossas pontes de diálogo.

São Paulo, 11 de maio de 2016.

Reitoria da USP


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