Site conduz às rotas do século 18 entre São Paulo e Mato Grosso

Criada pela USP e destinada às escolas, obra reúne recursos didáticos sobre as chamadas "rotas de monções"

Carga de Canoas, de Oscar Pereira da Silva (1920) – Foto: Museu Paulista da USP

A rota das monções compreendia a viagem pelos rios Tietê, Paraná e Pardo; travessia terrestre pelo varadouro de Camapuã; retorno ao caminho fluvial pelas águas do Coxim, Taquari, Paraguai, São Lourenço e Cuiabá. Essa rota tornou-se regular a partir dos anos de 1720, após o descobrimento do ouro nos barrancos do Rio Coxipó e outros afluentes do Rio Cuiabá, e compôs uma rede de estradas móveis utilizada para o abastecimento das populações, fundação de vilas, povoamento do território e busca de metais preciosos. Aspectos dessas expedições que se realizaram entre Porto Feliz (São Paulo) e Cuiabá (Mato Grosso) nos séculos 18 e 19 estão documentados na exposição de longa duração Viagens Fluviais: Homens e Canoas na Rota das Monções, em cartaz no Museu Republicano Convenção de Itu, uma extensão do Museu Paulista da USP – também conhecido como Museu do Ipiranga.

Pirapora do Curuçá, 1826 (hoje Tietê), de Zilda Pereira – Foto: Museu Paulista da USP

Agora imagine transportar essas viagens até as salas de aula. É exatamente isso que faz o site educativo Viagens Fluviais em Exposições, criado pelo Museu Republicano Convenção de Itu a partir daquela exposição. O site conta com material educativo, audiodescrição das obras, roteiro de visitas com sugestões de atividades interdisciplinares e reflexões direcionadas aos educadores e estudantes. Traz também indicações bibliográficas disponíveis on-line, fotografias e maquetes eletrônicas sobre exposições antigas dedicadas às monções montadas no Museu Paulista, nas décadas de 1920, 1930 e 1940, e uma galeria de telas e objetos que estiveram – e estão – em exibição nas salas do Museu Paulista e do Museu Republicano, como conta a coordenadora do projeto, professora Maria Aparecida de Menezes Borrego, docente do Museu Paulista e supervisora do Museu Republicano Convenção de Itu.

A professora Maria Aparecida de Menezes Borrego – Foto: Jorge Maruta/USP Imagens

“O objetivo principal do site é fornecer subsídios a professores e alunos, mas também atingir um público mais amplo interessado no assunto, além de divulgar a pesquisa que se realiza na Universidade e que se constrói a partir da interação com a comunidade”, afirma Maria Aparecida. Segundo ela, o material facilita o acesso on-line ao acervo do museu no contexto da pandemia. “Como o museu está fechado, é possível fazer uma visita virtual, ver as fotografias das salas organizadas em carrossel de imagens e conhecer as antigas montagens sobre o tema das monções a partir das maquetes eletrônicas.”

As expedições

“No início do século 19, a expedição científica de Langsdorff (1825-1829), patrocinada pelo czar da Rússia Alexandre I, refez a rota das monções e atingiu Belém do Pará pelas águas do interior do território brasileiro, com o objetivo de estudar e explorar regiões quase desconhecidas do império. Dela participou como segundo desenhista Hercule Florence (1804-1879), que deixou registros sobre os índios, a fauna e a flora, que serviram de matrizes para a confecção de telas encomendadas pelo diretor do Museu Paulista, Afonso d’Escragnolle Taunay, durante sua gestão entre 1917 e 1945”, relata a professora, que também assina a curadoria da exposição Viagens fluviais, ao lado de Rodrigo Silva.

Inaugurada em 2017, a mostra refaz esses percursos e tem como protagonista um beque de proa de um canoão, de cerca de 3,5 metros de comprimento, encontrado na região de Porto Feliz (SP) no início do século 20. “Os resultados das investigações realizadas pelos historiadores, engenheiros e biólogos da USP sobre a materialidade da embarcação foram integrados à própria concepção da exposição e ao projeto museográfico, tanto que figuram ao lado dois infográficos sobre a madeira de que é feito, sua dimensão, capacidade de carga e comparação com outros modais de transporte, além de um breve documentário sobre os trabalhos de fotogrametria coordenado pelo professor Bernardo Andrade, exibido em loop”, acrescenta Maria Aparecida.

Beque de proa, canoão – Foto: Museu Paulista da USP

Além disso, diz a professora, para compor as salas, foram levadas para o Museu Republicano Convenção de Itu as telas encomendadas por Taunay nas décadas iniciais do século 20 – Carga das Canoas, de Oscar Pereira da Silva, Benção das Canoas e Pouso no Sertão: Queimada, de Aurélio Zimmermann – e reproduções dos desenhos realizados por Hercule Florence, nos anos 1820, pertencentes à coleção Cyrillo Florence. Ela ainda destaca que há painéis explicativos sobre as viagens nos séculos 18 e 19 e recursos de acessibilidade, como réplicas táteis do acervo – a miniatura de uma embarcação – e objetos táteis que se referem aos artefatos levados nas viagens, como acas, moringa, barril, remos e caixas, além de textos em braile e descrições audíveis das pinturas.

Construção do site

A ideia do site Viagens Fluviais em Exposições surgiu depois de uma série de mediações realizadas com públicos diversos. “Em 2019, por meio de uma parceria com a Secretaria de Educação Municipal de Porto Feliz, cidade próxima a Itu e bastante representada na iconografia das monções, desenvolvemos um projeto educativo que contemplou duas oficinas para educadores e a mediação de aproximadamente 500 estudantes na exposição do museu. Esses encontros mostraram a importância da produção de um  material educativo que contemplasse as necessidades de conteúdo e reflexão acerca do tema”, lembra Maria Aparecida.

Porto Feliz, de Silvio Alves – Foto: Museu Paulista da USP

O site é resultado do projeto inicial de pesquisa A Circulação de Homens e Artefatos na América Portuguesa e a Construção da Memória das Monções, sob responsabilidade da professora Maria Aparecida e com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Segundo Maria Aparecida, para a construção do site foram feitos estudos sobre as pinturas encomendadas por Afonso Taunay, e  sobre a temática monçoeira, com base em obras produzidas no século 19, especialmente as de Hercule Florence.

Já as fotografias de antigas salas expositivas serviram de base para a montagem de maquetes eletrônicas. Elas foram obtidas a partir da recuperação de negativos de vidro das décadas de 1920, 1930 e 1940 e integram o acervo do Serviço de Documentação Histórica e Iconografia do Museu Paulista. As indicações bibliográficas são sucintas, contemplando artigos acadêmicos, dissertações de mestrado e livro. Como ressalta a professora, “pesquisa, educação e extensão se conjugaram para a produção deste site educativo construído e idealizado por uma equipe de docentes, técnicos e estagiários com formações e atuações diversas no Museu Republicano Convenção de Itu e na USP”.

O site Viagens fluviais em Exposições está disponível neste link. Clique aqui.


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