Semana de Música Antiga traz concertos com instrumentos históricos

De 11 a 14 de setembro, obras do século 17 e 18 serão executadas na Biblioteca Brasiliana da USP

 04/09/2017 - Publicado há 7 anos
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O corno di bassetto: raro atualmente, instrumento rivalizou com o violino no século 16  – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De 11 a 14 de setembro, a sala Villa-Lobos da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP fará uma viagem no tempo. Cravos, cornos di basetto, sacabuxas, fagotes e outros instrumentos musicais do passado serão os protagonistas da Semana de Música Antiga, que acontece em conjunto com o 8º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos Séculos 16, 17 e 18.

Com o tema Palavra e Música, a programação trará concertos, palestras e masterclasses, reunindo convidados internacionais e pesquisadores de todo o País. O destaque são as apresentações musicais. Estão programadas quatro, gratuitas e abertas ao público, sempre ao meio-dia.

“Música antiga é um movimento que ganhou muita força a partir dos anos 50 e 60, quando as pessoas resolveram retomar o repertório antigo experimentando como funcionaria tocá-lo com instrumentos antigos, fazendo um trabalho de arqueologia”, explica a professora Monica Lucas, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, idealizadora do evento.

Manuscrito do Requiem, com a caligrafia de Mozart (mais escura) e a de Süssmayr, seu aluno (mais clara) – Foto: Divulgação

“Você pega o instrumento antigo”, continua a pesquisadora, “lê como se tocava e tenta aplicar esse conhecimento às partituras que você tem do período, tenta encontrar uma interpretação que seja mais próxima.”

Segundo Monica, o início do movimento foi marcado pela cisão com a música do século 19 e um olhar para o período compreendido entre a Idade Média e a Revolução Francesa. Atualmente, essa visão é mais abrangente e tem a ver com a busca de informações documentais e execução de um repertório de acordo com seu contexto original. “Virou uma maneira de pensar”, reflete Monica. “O movimento de música antiga, hoje, é uma maneira de pensar o estilo musical.”

O primeiro concerto da programação, no dia 11, é do Conjunto de Música Antiga da USP, que executa o Requiem (K. 626), obra mais importante de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Envolta em lendas, a peça é a última e inacabada obra do compositor austríaco. Segundo estudos, foi encomendada de maneira anônima por um colega de maçonaria e compositor amador, o Conde Walsegg, que acabara de perder a esposa. Depois da morte do compositor, o Requiem foi finalizado por um de seus alunos, Franz Xaver Süssmayr (1766-1803).

Cravo alemão – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A apresentação será a primeira montagem com instrumentos históricos feita no Estado de São Paulo. Também será a primeira montagem do Requiem feita inteiramente com músicos latino-americanos, desde a estreia brasileira da obra, no Rio de Janeiro, em 1818. A regência ficará a cargo do maestro William Coelho, com direção artística da professora Monica.

Quando qualquer compositor escreve uma obra, mesmo os modernos, está pensando num tipo de sonoridade. Ele não constrói só a ideia conceitual da obra, as notas corretas, a dinâmica correta, ele está pensando também na cor, em como aquilo tudo vai soar, fisicamente”, explica o maestro Coelho. “E Mozart, quando escreveu o Requiem”, prossegue, “pensou na sonoridade que a gente está fazendo com esse programa hoje.”

No dia 12, é a vez da Orquestra de Arte Barroca, que apresenta obras de Johann Sebastian Bach (1685-1750), Joseph Haydn (1732-1809) e também de Mozart, com regência do maestro André Cortesi e direção do violinista Paulo Henes. Já no dia 13, o Abendmusik, especializado em música da Renascença e dirigido pelo cravista Pedro Diniz, convida o cornettista argentino Gustavo Gargiulo e a violinista Joelle Perdaens para o palco.

Monica Lucas e o maestro William Coelho – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Para Monica, o cornetto é “o instrumento mais lindo da história da música”. Raro hoje

em dia, foi bastante popular no século 16, rivalizando em importância com o violino, mas perdeu espaço por conta da dificuldade técnica. “É um instrumento lindo”, afirma a pesquisadora, “tocado por um músico excepcional.” A apresentação de Gargiulo, um dos mais importantes cornettistas da atualidade, será seu primeiro recital como solista no Brasil. Junto do Abendmusik, tocará repertório dedicado à música da Reforma luterana, origem do estilo de Bach.

Encerrando a programação, no dia 14, o grupo argentino Ensemble Musica Poetica mostra o programa Método para Pintar as Paixões com Sons, dedicado ao Barroco francês. “A música mais refinada que existe do século 18 é esse repertório”, afirma com entusiasmo Monica. Formam o Musica Poetica Joelle Perdaens, o flautista Gabriel Pérsico e a cravista brasileira radicada na Argentina Maria de Lourdes Cútolo.

Os concertos da Semana de Música Antiga acontecem de 11 a 14 de setembro, ao meio-dia, na sala Villa-Lobos da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP (Rua da Biblioteca, s/n, Cidade Universitária, em São Paulo, telefone 11 2648-0841). A partir das 14 horas, ocorrem as masterclasses, no mesmo espaço. As palestras do 8º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos Séculos 16, 17 e 18 acontecem a partir das 9 horas, no Espaço das Artes (antigo Museu de Arte Contemporânea da USP), localizado na Rua da Praça do Relógio, 160, na Cidade Universitária, em São Paulo. Entrada grátis.


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