A exploração do universo verbal e linguístico do poeta, de corpo presente, é a proposta do projeto Cena de Poesia. No espaço da Livraria Acervo, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a ambiência de troca com outros presentes é a oferta do professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Mauricio Salles Vasconcelos, curador e responsável pelo Cena.
“Toda grande cidade tem uma oferta de programação no campo da poética”, comenta Vasconcelos. “São Paulo tem muito interesse e produção nesse aspecto, com uma história que merece ser destacada. Da mesma forma que existem exemplos na área musical, teatral, literária e filosófica, faltava um polo, uma noite, uma cena de poética na capital.”
A convite do professor, até o mês de dezembro, 13 poetas irão se apresentar por meio de atos e encenações capazes de dar destaque às linhas conceituais que movem várias vertentes da escrita na atualidade. O foco é no performático — a leitura pura e simples do poema é deixada de lado, cria-se algo inédito, uma espécie de convivência para além do livro. Segundo o professor, estamos em uma época de muitos recursos plásticos, cênicos e visuais. Vale a pena visitar todas essas dimensões através da ação correspondente à palavra no espaço.
Música, imagem e representações são bem-vindas ao projeto, totalmente aberto ao público, sem restrição de faixa etária. Mesmo que o convidado não tenha vivência em ato poético, Mauricio irá contribuir com sua experiência de performance, teatro e escrita de textos próprios à cena para construir um movimento que tire a poética da estrita configuração de uma simples leitura.
“O evento é para todas as idades e públicos. O Brasil é composto de vida inteligente e sensível, é um país incrível, estético, político e com um enorme potencial para acontecer.”
A importância da poesia para a sociedade
Na concepção do professor Mauricio, poesia é a palavra em múltiplas configurações, desenhando no espaço uma liberdade que é o próprio sentido da linguagem se criando a cada movimento. Com a plasticidade e o pensamento oferecidos pela poesia, retiram-se dimensões de imagem, sonoridade e diversos conceitos correspondentes a diferentes esferas do conhecimento, como por exemplo, a vida social.
“A sociedade, o conhecimento e a linguagem estão interligados, quer dizer, você poetizar é politizar também. São vários acentos que a poesia emite ao dar corpo aos diferentes signos: da arquitetura, do urbanismo, da política, da vida de rua, das vivências urbanas, das vivências das periferias, de vários espaços relacionados — isso tudo é vida cultural implantada e instaurada pela arte em ato único.”
A crença de que poesia promove transformações sociais é peça-chave do Cena de Poesia. Durante o projeto, abrem-se canais de politização à sociedade, farta de um cenário político desgastado e não-representativo, por meio de novos agentes de linguagem e de pensamento para ação política.
A programação
Iniciado em maio, o Cena de Poesia contará com apresentações quinzenais até o mês de Dezembro. Destacam-se todos os 13 participantes: Francesca Cricelli, Amélia Loureiro, Marcelo Ariel, Régis Bonvicino, Moacir Amâncio, Rubens Zárate, Gabriel Kolyniak, Danilo Bueno, Annita Costa Malufe, Maurício Salles Vasconcelos e o jovem poeta e estudante de Letras da USP Lucas Miyazaki Brancucci.
“Nosso interesse é revelar novos artistas e levar aqueles mais conhecidos a outros espaços, como o campo da apresentação e da performance. O propósito é esse — trazer poetas que estão nos livros a um ato vivo de troca interessante”, conclui o curador do projeto.
O projeto Cena de Poesia acontece quinzenalmente aos sábados, às 18 horas, até o dia 9 de dezembro, na Livraria Acervo (rua Artur de Azevedo, 723, Pinheiros, São Paulo). O evento é gratuito. Classificação indicativa: Livre. Para mais informações, acesse o facebook da Livraria Acervo ou ligue (11)3062-0951.