Paulo Mendes da Rocha projeta uma pedra no céu

O prédio do Mube, idealizado pelo professor da USP, está entre os dez destaques da arquitetura brutalista mundial

 13/04/2017 - Publicado há 7 anos
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A pedra no céu idealizada por Paulo Mendes da Rocha – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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A sensação de quem entra no Mube é a de ser envolvido por uma bruma. Uma nuvem que passa devagar, como se transportasse os visitantes para o céu. Essa abordagem poética faz parte da instalação No Ar, da artista Laura Vinci – uma das obras de arte que estão, desde o início do mês, dialogando com a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e um dos arquitetos mais premiados no Brasil e no exterior.

É essa conversa entre arte e arquitetura que a exposição Pedra no Céu: Arte e Arquitetura de Paulo Mendes da Rocha sugere. “A nossa proposta, ao pensar esta mostra, foi homenagear o trabalho de Paulo Mendes da Rocha, autor do prédio do Mube, que é um dos dez prédios mais importantes da arquitetura brutalista do mundo”, explica o crítico e historiador de arte Cauê Alves.

O trabalho do arquiteto, no entanto, não é registrado nas maquetes e desenhos dos projetos que marcam a sua trajetória. Os curadores Alves, do Mube, e Guilherme Wisnik, professor da FAU e colunista da Rádio USP, buscaram as linhas do pensamento de Paulo Mendes da Rocha. “Procuramos nos aproximar das referências do arquiteto e dos diálogos que ele estabelece com a arte. Ele sempre diz que o prédio nasceu para ser o entorno da escultura de Amilcar de Castro”, diz Cauê.
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La Flèche Zenon, de René Magritte, inspirou o desenho do Mube – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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A litografia a cores La Flèche Zénon, do surrealista belga René Magritte, é a referência para a criação do edifício do Mube. A paisagem de uma pedra flutuando entre as nuvens com uma meia-lua ao centro é o destaque da mostra, daí o seu nome Pedra no Céu: Arte e Arquitetura de Paulo Mendes da Rocha.
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A escultura Arminda, de Sonia Ebling, dialoga com a arquitetura – Foto: Cecília Bastos /USP Imagens

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A expectativa dos curadores é de que o público possa perceber essa pedra no céu. “A paisagem de Magritte é a referência para o desenho do Mube. O arquiteto fez um grande plano horizontal de concreto armado da marquise”, esclarece Wisnik. “O vão de 60×12 metros parece flutuar. Essa pedra no céu alude aos primórdios da humanidade, um abrigo elementar, mas que anuncia um museu subterrâneo que acompanha o desnível natural do terreno.”
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A bruma da artista Laura Vinci recepciona os visitantes – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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A arquitetura dos primórdios da humanidade

O Mube resgata o tempo habitado por pedras. Ao entrar na galeria, o espectador vê a pedra fundamental da artista Amélia Toledo e também as pedras de Iran do Espírito Santo. Há também a escultura de Henry Moore que inspirou uma casa pensada para a cidade de Catanduva. “Quando desenhei a casa, em 1979, não sabia muito bem se poderia falar disso. A ideia de arquitetura como escultura não é certa. Uma construção que ‘pareça’ uma escultura”, descreve Paulo Mendes da Rocha em um texto publicado na revista AU Arquitetura e Urbanismo, impresso em uma das paredes da exposição. “Mas o ímpeto do escultor, sua lógica, alguma sobreposição na urgência do nítido e essencial na forma como linguagem às vezes se impõe, de maneira inexorável, entre arquitetura e escultura.”

Criar uma casa como uma nave mágica ou um museu que recria a linha do horizonte entre as nuvens é a poética do espaço do professor e arquiteto. “Quando pensamos em homenageá-lo, o professor disse que uma exposição de arquitetura é algo muito chato”, conta Cauê Alves. “Por que não expor obras de arte?”
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As linhas de Lydia Okumura esculpem o espaço – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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O resultado é o trabalho do arquiteto em um amplo diálogo com André Komatsu, Caio Reisewitz, Carlito Carvalhosa, Carmela Gross, Cildo Meireles, Daniel Acosta, Daniel Buren, Daniel Steegmann, Mangrané, Doris Salcedo, Frans Post, Hiroshi Sugimoto, Jean Baptiste Debret, Johann Moritz Rugendas, Leandro Erlich, Lydia Okumura, Mateo López, Mauro Restife, Nicolás Robbio, Sandra Gamarra e Victor Brecheret.

Além destes, há a arte de Carmela Gross, professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. É lembrada na exposição. Mas só pode ser vista do alto ou por quem está entre nuvens. Em cima da marquise do Mube, ela escreveu em luz azul a palavra Terra, uma escultura que remete à frase do astronauta Yuri Gagarin: “A Terra é azul”.

Importante destacar também o lançamento do documentário Tudo é Projeto, sobre a trajetória de Paulo Mendes da Rocha. Foi apresentado pela primeira vez na abertura da mostra. Tem a direção das cineastas Joana Mendes da Rocha, filha do arquiteto, e Patrícia Rubano. Veja o trailer no Vimeo:
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A exposição Pedra no Céu – Arte e Arquitetura de Paulo Mendes da Rocha fica em cartaz até 2 de julho de 2017, de terça-feira a domingo, das 10h30 às 18h, no Museu Brasileiro da Escultura (Mube), localizado na Avenida Europa, 218, nos Jardins, em São Paulo. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2594-2601 e no endereço eletrônico www.mube.art.br.

 

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Galeria de imagens da exposição

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