Livro sobre estudos bibliográficos é lançado pela Editora da USP

“Bibliografia e a Sociologia dos Textos”, de Donald McKenzie, ganha sua primeira versão em português

 28/03/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 02/04/2018 as 12:28
Por
O professor e escritor Donald Francis McKenzie – Foto: Reprodução / The National Library of New Zealand

A Editora da USP (Edusp) acaba de lançar Bibliografia e a Sociologia dos Textos, do professor neozelandês Donald Francis McKenzie (1931-1999), um dos maiores bibliógrafos do século 20, que lecionou Bibliografia e Crítica Textual na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Traduzido pela jornalista e tradutora Fernanda Veríssimo, é a primeira versão em língua portuguesa do livro, lançado originalmente pela British Library em 1986.

A obra é composta de quatro conferências de McKenzie. Nela, o professor discute a questão da textualidade e da materialidade do livro impresso, defendendo que a forma de um texto é crucial na composição de seu sentido. Para ele, à medida que é reproduzida, reeditada e relida, uma obra assume novas formas e significados. “Suas palavras se tornaram, desde então, leitura obrigatória para os profissionais da ciência da informação e para todos os investigadores que tomam o livro como objeto de estudo, no campo da história, da sociologia ou da crítica literária”, escreve, na orelha do livro, a professora Marisa Midori Deaecto, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Segundo Marisa, um grande desafio na área da bibliografia se refere à articulação entre o estudo dos textos, a análise de suas formas e a história de seus usos. “Ao propor novas ferramentas e perspectivas para a bibliografia, Mckenzie rompe uma barreira multissecular que distingue das ciências voltadas para a interpretação dos dados essa ‘espécie de ciência’ com vocação para a descrição.”

O livro lançado pela Edusp – Foto: Reprodução

Essa crítica à visão tradicional sobre bibliografia – voltada mais para a descrição e a catalogação de impressos – se encontra já no primeiro ensaio da obra, “O livro como uma forma expressiva”. Nele, McKenzie destaca que, no momento em que se busca explicar signos em um livro, eles assumem um status simbólico. “Se um meio influencia uma mensagem em qualquer sentido, então a bibliografia não pode excluir de suas próprias preocupações a relação entre forma, função e significado simbólico”, ele escreve. “Os interesses vitais da maior parte daqueles que reconheço como bibliógrafos não podem mais ser satisfeitos apenas pela descrição, nem mesmo pela edição, mas sim pelo estudo histórico da feitura e do uso de livros e outros documentos.”

Em “O frasco quebrado: textos fora dos livros” – o segundo ensaio publicado em Bibliografia e a Sociologia dos Textos -, o autor questiona a ideia do livro como a expressão de uma verdade acabada. Ele cita como exemplo o caso criado pela revisão. “Quando um autor revisa um texto e duas ou mais versões dessa revisão conseguem sobreviver, pode-se dizer que cada uma delas tem sua estrutura distinta, fazendo dela um texto diferente. Cada uma incorpora uma intenção bem diferente”, escreve McKenzie. “Desse modo, já que cada versão terá sua própria identidade histórica, não apenas para seu autor, mas para o mercado específico dos leitores que a compraram e leram, não podemos invocar a ideia de uma intenção unificada a ser seguida pelo editor. Historicamente, não pode haver razão lógica para editar uma versão em detrimento das outras.” 

No terceiro ensaio, “A dialética da bibliografia atual”, McKenzie aprofunda a discussão feita nos textos anteriores. “As diferentes formas físicas de qualquer texto, e as intenções às quais eles servem, são relativas a tempos, lugar e pessoa específicos. Isso só é um problema se quisermos que o significado seja absoluto e imutável. Na verdade, mudança e adaptação são condições de sobrevivência, tanto como a aplicação criativa dos textos é uma condição para que sejam lidos”, escreve o professor de Oxford.

Além desses ensaios, o livro traz ainda um estudo clássico de McKenzie sobre oralidade e letramento em seu país natal, “A sociologia de um texto: cultura oral, alfabetização e impressão na Nova Zelândia”.

Donald Francis McKenzie nasceu em Timaru, na Nova Zelândia, em 1931. Professor Emérito da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia, trabalhou nas Universidades de Cambridge e de Oxford, ambas na Inglaterra. Foi presidente da Bibliographical Society entre 1982 e 1983. McKenzie morreu em 22 de março de 1999.

Bibliografia e a Sociologia dos Textos, de Donald Francis McKenzie, tradução de Fernanda Veríssimo, Editora da USP (Edusp), 184 páginas, R$ 50,00.

O livro pode ser adquirido aqui.

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.