Livro mostra a riqueza da arquitetura paulista

Publicação traz textos e fotos de 34 obras arquitetônicas do Estado de São Paulo

 06/11/2017 - Publicado há 6 anos
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A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá, com a orla de Santos ao fundo – Foto: Marcos Piffer

Do litoral ao interior, o Estado de São Paulo possui uma imensa riqueza arquitetônica espalhada por seu território. É o que se constata ao folhear o recém-lançado livro Vestígios da Memória – Fotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista, organizado pela mestranda do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP Ana Lúcia Queiroz, em parceria com a fotógrafa Márcia Zoet.

O livro traz fotografias em preto e branco de 34 obras arquitetônicas na ordem cronológica em que esses monumentos surgiram, desde a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, no Guarujá, que começou a ser erguida em 1584, até o Auditório Beethoven, em Campinas, datado de 1976. Produzidas por 19 fotógrafos, as imagens são acompanhadas de textos que contam a história de cada edificação. “A ideia é que as imagens e informações deste livro, como os cartões-postais de lugares não visitados, sejam mensagens a despertar a curiosidade, convites para que se desbravem os vestígios da cultura material paulista”, escreve na introdução a arquiteta Silvia Ferreira Santos Wolff, doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, que atua na Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A Chácara do Visconde de Tremembé, em Taubaté – Foto: Chico Ferreira

Esse objetivo citado por Silvia – despertar a curiosidade – é facilmente atingido pelo livro. Tomem-se como exemplo o texto e a imagem referentes à mais antiga obra arquitetônica retratada na publicação – a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, também conhecida como Fortaleza da Barra, no Guarujá. Ao lado de uma foto – de autoria do fotógrafo Marcos Piffer – que mostra uma das guaritas dessa fortificação militar tendo ao fundo a orla da cidade de Santos, um curto texto informa que a Fortaleza da Barra é o mais importante conjunto arquitetônico militar do Estado de São Paulo, o principal de um complexo de fortificações coloniais construídas durante os séculos 16, 17 e 18 com o objetivo de proteger a região e garantir o domínio de Portugal sobre as terras da colônia. “Destituída de sua função original em 1911, até o final dos anos 1960 foi utilizada pelo Exército como posto fiscal, depósito de materiais, presídio político, escola, local de aquartelamento, alojamento e sede náutica do Círculo Militar de Santos”, informa o livro, acrescentando que, hoje, o local é um museu histórico.

A Vila Penteado, no bairro de Higienópolis, na capital paulista – Foto: Márcia Zoet

Igualmente instigantes são a foto e as informações sobre a Chácara do Visconde de Tremembé, em Taubaté, que remonta a 1865. O lugar faz lembrar uma época em que, sustentados pela mão de obra escrava, os latifúndios de café dominavam o Vale do Paraíba e a província de São Paulo era governada por uma oligarquia rural formada por grandes fazendeiros com títulos de nobreza. “O Visconde de Tremembé foi proprietário de fazendas, fundador de uma casa bancária e sócio de uma firma comissária de café”, informa o livro, que traz foto do local feita por Chico Ferreira. “Um homem rico e erudito, cuja biblioteca alimentou a imaginação de seu neto, o escritor paulista Monteiro Lobato.” Desde 1981, a Chácara do Visconde de Tremembé é sede do Museu Histórico, Folclórico e Pedagógico Monteiro Lobato.

O Auditório Beethoven, em Campinas – Foto: Mauricio Simonetti

Já entre as obras arquitetônicas instaladas na capital paulista, Vestígios da Memória destaca a Vila Penteado, na rua Maranhão, número 88, no bairro de Higienópolis, na região central de São Paulo. Projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman para ser utilizada como residência de Eglatina Álvares Penteado Prado – filha do conde Antônio Álvares Penteado -, então recém-casada com o engenheiro Antonio Prado Júnior, ligado a uma das mais tradicionais famílias da cidade, a obra lançou o estilo art nouveau em São Paulo e hoje é considerada um dos seus mais representativos exemplares. “Construída com mais de 60 cômodos, distribuídos em dois pavimentos ricamente decorados com pinturas, estátuas, mobiliário, vitrais e mármores europeus, ocupava um grande terreno com jardins, quadra de tênis, lago, cachoeira e horta”, descreve o livro. “Uma monumentalidade que exibia aos passantes e visitantes, no dia a dia ou em festas e recepções, os valores culturais da alta burguesia cafeeira de São Paulo.” Ainda de acordo com o livro, a residência de dona Eglatina foi utilizada pela família Penteado de 1903 a 1938, permaneceu desocupada por dez anos e em 1948 foi doada pelos herdeiros à USP, a fim de sediar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). A foto que acompanha o texto sobre a Vila Penteado é de Márcia Zoet.

A Catedral de Assis – Foto: Mauricio Simonetti

Templos religiosos também fazem parte do patrimônio arquitetônico paulista, como mostra Vestígios da Memória. Um deles é a imponente Catedral de Assis. “Como na maioria das cidades brasileiras, o povoamento de Assis se iniciou em torno de uma Igreja Católica: uma capela de pau a pique coberta por sapé. Nesse mesmo local, lembrando a fundação da cidade, está erguida a catedral.” Em 1914, a Estrada de Ferro Sorocabana chegou a Assis, abrindo caminho para o café e dizimando o que restava dos povos nativos. Além da modernidade, os trilhos levaram à cidade a dinamização da economia e novos católicos. “A capela de madeira que havia substituído a primeira construção de pau a pique já não representava nem comportava essa comunidade em constante crescimento.” A paróquia deu início, então, à construção de uma igreja maior, inaugurada em 1926, retratada, no livro, por Mauricio Simonetti.

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Sobre o Auditório Beethoven, também conhecido como Caixa Acústica de Campinas – um dos equipamentos do Parque Portugal, às margens da Lagoa do Taquaral -, Vestígios da Memória informa que ele foi concebido pelo arquiteto Igor Sresnewsky, especialista em acústica para teatros ao ar livre, que em seu projeto se inspirou no auditório do Parque Damrosch, em Nova York, e em estudos da acústica dos teatros da Grécia antiga. “O arquiteto inovou construindo bancos de concreto ressonantes, ou seja, ocos e com combinações variadas, permitindo a reverberação perfeita dos sons.” A foto é de Mauricio Simonetti.

O livro organizado por Ana Lúcia Queiroz e Márcia Zoet – Foto: Reprodução

Outros patrimônios arquitetônicos paulistas contemplados por Vestígios da Memória são o Complexo Ferroviário de Paranapiacaba, em Santo André, de 1867, o Theatro Municipal de São João da Boa Vista, de 1914, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, em São Paulo, de 1920, e o Depósito de Locomotivas de Araçatuba, de 1921. O livro destaca ainda a Estação Ferroviária de Araraquara (1912), o Hotel Cariani, de Bauru (1921), o Matadouro Municipal de Presidente Prudente (1929), o Edifício Martinelli, em São Paulo (1929), e a Igreja Santa Rita de Cássia, em Fernandópolis (1960), entre outras obras.

Vestígios da Memória – Fotografias do Patrimônio Arquitetônico Paulista, de Ana Lúcia Queiroz e Márcia Zoet (organizadoras), Ilumina Imagens e Memória, 86 páginas.

 

 

 

 

 

 


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