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Acaba de ser publicado pela Editora da USP (Edusp) e pela Com-Arte, editora-laboratório do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o nono volume da coleção Editando o Editor, que tem como objetivo central o registro de relatos de profissionais do mercado editorial brasileiro. O tema do volume recém-lançado é o tipógrafo, editor, poeta e artista gráfico Guilherme Mansur.
O livro traz um texto da idealizadora da coleção, Jerusa Pires Ferreira, em que afirma a importância de Mansur como “mestre de ofício, poeta e personagem”, atributos construídos durante toda sua carreira na tipografia.
“Mansur não esquece o apelo às técnicas tipográficas seculares, o passeio pela identidade das fontes, prazer e ainda desafio. Por isso, as descreve criando uma espécie de novelesca, a das fontes, com seus traços arredondados, pontudos, serifas, adornos ou marcas de simplicidade”, escreve Jerusa, sem deixar de lado o fato de o poeta-editor estar sempre ligado às inovações das técnicas tipográficas, pois seus conhecimentos acerca da tipografia de caixa estão presentes em seus trabalhos digitais.
Em texto introdutório do volume, a escritora e tradutora literária Simone Homem de Mello assim define Mansur: “Guilherme é um editor em sentido lato, sendo-o como tipógrafo, autor, artista gráfico, inventor de fontes e editor em sentido estrito. A estrutura deste livro procura espelhar a multidirecionalidade de sua atuação como editor”.
O livro
A obra é produto de um contínuo diálogo entre Simone e Mansur, ocorrido entre os anos de 2012 e 2015, a partir de encontros entre os dois na cidade de Ouro Preto (Minas Gerais), local onde o tipógrafo nasceu e vive até hoje.
Simone recolheu depoimentos de Mansur, os reuniu e os organizou de forma cronológica em capítulos temáticos, possibilitando ao leitor a experiência de “vislumbrar ― em uma trajetória pessoal ― mudanças no cenário cultural desde o final dos anos 1970 até hoje”.
Os 11 capítulos do livro acompanham toda a trajetória de Mansur, desde as primeiras experiências com a tipografia na gráfica de seus pais, as produções editoriais, os contatos e parcerias com artistas de todo o País, bem como o desenvolvimento dos processos de criações de novas fontes tipográficas, sempre combinando o trabalho artesanal às inovações tecnológicas às quais foi exposto.
Desses capítulos, destaca-se o que trata da época em que Mansur entra em contato com artistas do Brasil inteiro, através do movimento Arte Correio, da década de 1960, em que havia uma troca intensa de cartões, tipografados e diagramados por artistas para outros artistas. Sobre o movimento, Guilherme Mansur diz: “A Arte Correio era uma forma de publicação modulada. Tinha um público restrito, mas muito ativo, muito participativo. Eu mandava aqueles trabalhos e recebia quase diariamente cartões e interferências do Brasil inteiro, de artistas de todo lado”, conta.
Outra boa experiência foi a criação da “revista-saco” Poesia Livre, no final da década de 1970, quando Mansur teve a ideia de criar uma revista de poesia tendo como material-base o saco de papel de pão e, como projeto editorial, a abertura de espaço na revista para poetas e poesias de todos os tipos. Foi a partir da concepção desse material que ele conheceu artistas do movimento Poesia Marginal e escritores como Paulo Leminski e Haroldo de Campos, com o qual realizou vários projetos editoriais, entre eles a concepção da capa e do miolo do livro Finismundo, de Haroldo.
Ao final da obra, o leitor vai encontrar uma seção que lista todas as publicações da Tipografia do Fundo de Ouro Preto, selo editorial criado por ele em uma oficina tipográfica em sua cidade natal, onde editou livros de variados formatos, publicando-os entre os anos de 1977 a 2013.
Ninguém melhor que o próprio Mansur para definir seu trabalho e explicar a arte de tipografar, segundo ele um “exercício lento”, onde o tempo “corre em outra rotação”. Diz: “Posso me lembrar de muitas vezes ter acordado bem cedo com um sorriso no rosto, porque no andar de baixo da casa estavam chapas enramadas me esperando, com poemas a serem impressos. O que me interessa em tipografia é exatamente a sua linguagem. O fato de se trabalhar com material pesado e duro não quer dizer que o resultado tenha que ser pesado. Tipografia não é carimbo. Tipografia é delicadeza”.
Guilherme Mansur, coleção Editando o Editor, número 9, Edusp/Com-Arte, 144 páginas.
O livro pode ser adquirido através do site da Editora da USP ou na loja da editora, localizada na Rua da Praça do Relógio, 109-A, na Cidade Universitária, em São Paulo.