Katia Canton reinventa a arte de sonhar

A artista e professora do Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta a exposição “Castelos de Areia”, na Caixa Cultural São Paulo, que dialoga com o desejo humano de encantamento e mistério

 17/10/2016 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 19/10/2016 as 13:11
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A exposição Castelos de Areia reúne 80 obras de Katia Canton
A exposição “Castelos de Areia” reúne 80 obras de Katia Canton – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O nome da mostra, Castelos de Areia, leva à nostalgia dos sonhos, à infância brincando com bonecas, correndo na praia. Mas não são apenas esses castelos e lembranças sutis que Katia Canton apresenta. Na Caixa Cultural São Paulo, em plena Praça da Sé, a artista, pesquisadora e professora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP traz 80 obras recentes. Entre instalações, desenhos, esculturas e pinturas, compõe a sociedade contemporânea com seus sonhos fragilizados e a efemeridade do tempo real.

Instalação desperta a efemeridade da infância
Instalação desperta a efemeridade da infância – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

“Lembro de uma frase de Jorge Luis Borges sobre os sonhos que os homens constroem na areia. Nesta exposição, mostro essa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a importância de conhecer o real para chegar ao sonho”, explica Katia. Um caminho que ela aprendeu a trilhar pesquisando o trabalho e o processo de criação dos jovens artistas, fazendo curadorias e organizando oficinas no MAC, onde hoje atua como vice-diretora. E ainda escrevendo livros, estudando e ensinando histórias da arte.

Desse trabalho e da pesquisa iniciada há mais de duas décadas surgiu a exposição. “É o resultado da sua atuação interdisciplinar e pesquisas acadêmicas trazidas para sua expressão autoral”, observa a curadora Adriana Rede. “Ora de forma lírica, ora com certa ironia crítica, dialoga com o desejo humano de encantamento e mistério. Lida com a contradição entre a beleza das histórias dos contos de fadas e as asperezas do desconhecido, do lado escuro do medo.”

Poesia e realidade

A cura do medo, 2015
“A cura do medo”, 2015 – Foto: Reprodução

Na curadoria, Adriana procurou destacar o contraponto da poesia e da realidade. Para a série que abre a mostra, selecionou pinturas de um cotidiano bucólico, como Casinha na Montanha ou Casinhas no Azul e Marrom. São imagens de cores fortes, como amarelo, verde e vermelho. Porém, a paisagem vibrante com casas e árvores é maculada por uma mancha de tinta branca que vai escorrendo pela tela. “Traduzem, então, uma impressão de suspensão, de desmanche e de silêncio”, observa. “Para além dos castelos de areia, o conjunto apresentado se expande com séries correlatas, que fazem parte do repertório da artista. Acasos é outra série de desenhos e pinturas ainda mais onírica, onde Katia deixa a imaginação voar. Revela ainda as tensões do humano, mas com ternura e fantasia, reavivando-nos a capacidade de imaginar.”

Na última série da mostra A Cura Pelas Histórias, as pinturas são feitas com iodo, rifocina, violeta genciana e outros medicamentos. “Katia desenha as figuras, as tinge de ocre e as atravessa de ardores vermelhos e violetas, as impregna de dor e urgência”, comenta Adriana. Também há o vídeo que a artista gravou em uma residência na Associação Barreiros, em Ilhabela, com meninos carentes brincando na praia. “Eles constroem os castelos e aí vem a maré e derruba tudo. Fiquei filmando essa construção e desconstrução. Um processo interessante, porque eles estão ali se ocupando com o sonho de levantar um castelo sob a força do acaso e do imponderável.”

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A exposição Castelos de Areia, de Katia Canton, fica em cartaz até 4 de dezembro, de terça-feira a domingo, das 9 às 19 horas, na Caixa Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111, centro, São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3321-4400.


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