“Uma visita aos jardins literários franceses da época medieval” é o tema do Café Acadêmico, evento que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP promove no dia 15 de junho, quarta-feira, às 18 horas. Realizado em parceria com o Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o encontro terá a participação da professora Beate Langenbruch, da École Normale Supérieure (ENS) de Lyon, na França, que falará sobre literatura medieval francesa, acompanhada pelos professores Paulo Iumatti, do IEB, e Álvaro Faleiros, da FFLCH.
Segundo os professores, o evento tem os objetivos de aprofundar as relações entre a ENS e a USP, estreitar laços entre pesquisadores dessas universidades e difundir o conhecimento sobre a literatura medieval. Além disso, durante o encontro, haverá um diálogo entre os três professores, que têm especialidades diferentes, mas com muitos pontos de contato.
“Já descobrimos muitos fenômenos parecidos em nossos textos”, explica a professora Beate. “A literatura medieval francesa é caracterizada pela oralidade e pelos procedimentos típicos da literatura em versos, que é o campo de especialização do professor Álvaro Faleiros. Além disso, um dos textos que vou citar, La Chanson de Roland (A Canção de Rolando), poema épico do século 11, é um dos ‘avós’ da literatura de cordel, portanto, tem tudo a ver com as pesquisas do professor Paulo Iumatti.”
O professor Iumatti reforça o que diz a professora. “Estudo um gênero da literatura de cordel, o marco, que tenho a intenção de pesquisar se tem ou não alguma relação com a literatura medieval europeia. Além disso, nós três temos no cerne de nossos estudos as formas poéticas atravessadas pela oralidade. Nesse ponto em comum, nossos diálogos têm sido bastante fecundos.”
A literatura medieval francesa tem como características marcantes, além da oralidade e da estruturação em versos, os temas épicos (as chamadas canções de gesta, ou chansons de geste, como A Canção de Rolando) e também a poesia lírica e as trovas. “A prosa ainda era muito incipiente, aparecendo apenas em algumas crônicas sobre a vida do rei”, explica o professor Faleiros. “Tudo era escrito em versos. As canções de gestas sobre batalhas, reis e guerreiros assemelham-se às epopeias clássicas greco-latinas, como a Ilíada, de Homero, por exemplo.”
No gênero das canções de gestas, a professora Beate Langenbruch destaca as histórias dos heróis Ferrabrás e Renaut de Montauban, que envolvem o imperador Carlos Magno e seus paladinos, além daquele que ela chama de “escritor maior do século 12”, Chrétien de Troyes, cujos romances (também escritos em versos) introduziram heróis como Lancelote, Percival e outros famosos integrantes do ciclo do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. “Penso também em duas mulheres: Marie de France, que fez narrativas maravilhosas em seus Lais, e Christine de Pisan, uma precursora do feminismo que criticava a misoginia do meio literário da época, por exemplo, nas Querelles des femmes (controvérsias sobre a questão das mulheres).”
“Há também, por outro lado, as canções de amor da poesia lírica trovadoresca, de origem provençal”, continua o professor Faleiros. “Elas eram compostas no idioma da Provença, que na época ainda não fazia parte da França, que ainda estava se formando como nação, e mais adiante tornaram-se importantes para o que hoje é a língua francesa, por exemplo, com Bernard de Ventadour (ou Bernat de Ventadorn), poeta provençal que circulava pelo que hoje é o norte da França.”
O professor diz que essas obras são muito próximas da poesia galego-portuguesa. “Havia as canções de amigo, as canções de escárnio – das quais o grande nome é François Villon, um dos últimos poetas medievais e, grosseiramente comparando, um Gregório de Matos francês, cujas obras são muito apreciadas e traduzidas no Brasil. Já um dos mais importantes poetas das canções de amigo era Charles d’Orléans, também muito estudado e apreciado.”
Faleiros conta que as canções, tanto as de gesta quanto as trovadorescas, nasciam de fato como poemas musicados, acompanhadas de alaúde, “algo como faziam Chico Buarque e Caetano Veloso”, apresentadas nas cortes, e com o tempo passaram da oralidade para o papel. “A natureza ao redor dos castelos também foi importante para compor o imaginário das canções.”
Daí vem a ideia dos jardins literários, cujo clima bucólico será analisado no evento. De acordo com a professora Beate, “os castelos e monastérios da época possuíam jardins extraordinários, e esses jardins estavam presentes na literatura. Na palestra, vamos abordar esse tema e os usos sociais do jardim na literatura medieval francesa”.
A palestra, que será realizada em português, com leituras dos textos no idioma original e posterior tradução e análise, ocorrerá na sala 13 do Complexo Brasiliana (rua da Biblioteca, sem número, Cidade Universitária, São Paulo). A entrada é gratuita, mediante inscrição neste site: https://www.doity.com.br/uma-visita-aos-jardins-literarios-franceses-da-epoca-medieval/inscricao.