Pinacoteca homenageia os 120 anos de Di Cavalcanti

O artista que retratou o cotidiano das ruas e dos bares está em exposição em São Paulo

 25/09/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 26/09/2017 as 16:13
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Nus, 1955 – Foto: Isabella Mateus
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A história do carioca Emiliano Di Cavalcanti, com os seus sonhos, paixões e a sua postura política e social, está sendo contada na mostra No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. São mais de 200 obras, entre pinturas, desenhos e ilustrações, que marcaram seis décadas de uma movimentada trajetória.

Amigos, 1921 – Foto: Isabella Mateus

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O curador José Augusto Ribeiro, doutorando da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, reuniu obras de coleções particulares e públicas do Brasil e de outros países da América Latina, como Uruguai e Argentina. O público vai encontrar as diversas fases de Di Cavalcanti em sete salas, no primeiro andar da Pina Luz. “A mostra permite perceber o desenvolvimento do pintor e a forma como ele tenta fixar a ideia de arte moderna e brasileira”, explica Ribeiro. “O título da mostra diz respeito aos espaços, às manifestações culturais e aos tipos sociais que o artista figurou com frequência em sua obra, durante seis décadas. Reforça os lugares das pinturas e desenhos de Di que retratam os bares, a zona portuária, o mangue, os morros cariocas, as rodas de samba e as festas populares, que são representados como espaços de prazer e descanso.”

Bumba Meu Boi – Foto: Isabella Matheus

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Selecionar as imagens exigiu muita pesquisa e conhecimento, pois Di Cavalcanti produziu intensamente. “Estima-se que sua obra compreenda mais de 5.400 trabalhos, entre pinturas e desenhos”, observa o curador. “Não por acaso, trata-se de uma produção heterogênea: que assume visualidades e adota soluções técnicas variadas, às vezes em um único trabalho, que se vale de lições de diversas vertentes artísticas surgidas entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, principalmente na Europa.”

Bordel, década de 1930 – Foto: Isabella Mateus


Por uma identidade brasileira

Rever a busca de uma identidade brasileira é um motivo a mais para apreciar o Brasil vivaz de todas as cores enaltecido por Di Cavalcanti. “Nesse percurso longo, diverso e inconstante, prevalece a representação da boemia, do bas-fond, de festas de rua, de trabalhadores e de mulheres mestiças, o que rendeu a Di Cavalcanti os epítetos de ‘o pintor das mulatas’ e ‘o mais brasileiro dos pintores modernos’, acolhidos por ele de bom grado”, esclarece Ribeiro. “Tanto é assim que artista e obra sempre ocuparam posição central na definição e na personificação do que se entende por moderno, nacional e popular no Brasil.”

Bordel, década de 1930 – Foto: Isabella Mateus

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A exposição traz uma face pouco conhecida de Di. Há uma sala dedicada às ilustrações e charges publicadas em revistas, livros e também em capas de discos. A condição de mobilizador cultural e correligionário do Partido Comunista do Brasil (PCB) está registrada na mostra.

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Di sempre exerceu papel importante no debate público brasileiro, assim como sempre manteve estreita ligação entre arte e política, no sentido de que o trabalho de arte estaria, sim, comprometido com uma missão social, a revolução.

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Vários trabalhos estão sendo apresentados pela primeira vez. Também há obras de coleções particulares que por décadas não eram apresentadas em espaços públicos. Uma surpresa é a pintura Samba, de 1928, que, depois de ter sido considerada desaparecida, ressurgiu em uma mostra em 2016 no Rio de Janeiro. E agora está integrada em No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos, considerada a maior exposição de Di Cavalcanti já realizada desde a sua morte, em 26 de outubro de 1976.

O catálogo da exposição No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos – Pina_

Exposição No Subúrbio da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos fica em cartaz até 22 de janeiro de 2018 no primeiro andar da Pina Luz – Praça da Luz, 2. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h às 17h30, com permanência até as 18 horas. Os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes. 


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