Em plena ditadura militar (1964-1985), o cinema brasileiro estava em efervescência. Há 50 anos, o diretor baiano Glauber Rocha lançava Terra em Transe, longa-metragem de ficção que se tornou um marco na produção cinematográfica brasileira. Para resgatar o cenário que tomava conta do País meio século atrás, o Cinema da USP (Cinusp) Paulo Emílio inaugurou no dia 21 de novembro a mostra Brasil em Transe.
A programação reúne um conjunto de filmes de ficção produzidos entre as décadas de 1960 e 1970 por diretores brasileiros. Para complementar, foram selecionadas obras mais recentes que revivem o contexto da época por meio da documentação. A mostra segue até o dia 1º de dezembro.
O professor Ismail Xavier, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, curador de Brasil em Transe, explica que os filmes escolhidos trazem a memória não apenas do cinema de 1967, mas também da música, do teatro e das artes plásticas que marcaram os anos seguintes.
Nesse sentido, o professor lembra que, no momento de seu lançamento, Terra em Transe foi um filme de repercussão ampla no meio artístico e representa bem o espírito da mostra. “Ele teve uma reação muito forte em artistas de outras áreas”, diz.
Xavier aponta que muitas das obras ficcionais escolhidas são produções da juventude e carregam, além de referências ao cenário de conflito dos anos de ditadura militar, sátiras em relação a questões da família. É o caso de filmes como Desesperato (1968), do diretor Sérgio Bernardes Filho, Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, e Meteorango Kid – O Herói Intergalático (1969), de André Luiz Oliveira.
Para relembrar a produção musical da época, marcada pelo Tropicalismo, o curta O Brasil (1981, Rogério Sganzerla) faz um registro dos bastidores da gravação do disco Brasil, de João Gilberto, de 1981, com a presença de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia no estúdio.
A temática da música continua em Uma Noite em 67 (2010), de Ricardo Kalil e Renato Terra, documentário sobre a final do 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, de 1967, e Loki – Arnaldo Baptista (2007), de Paulo Henrique Fontenelle, uma biografia do músico Arnaldo Baptista, ex-integrante de Os Mutantes.
O artista plástico Hélio Oiticica também ganha espaço na mostra Brasil em Transe. Ele é diretor de Agrippina é Roma Manhattan, obra filmada na cidade de Nova York. Para conhecer a biografia do artista, será exibido o longa biográfico Hélio Oiticica (2012), dirigido por seu sobrinho Cesar Oiticica Filho.
A mostra Brasil em Transe começou no dia 21 de novembro e segue até o dia 1º de dezembro, com sessões gratuitas de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, no Cinusp Paulo Emílio (Rua do Anfiteatro, 181, Favo 4 das Colmeias, na Cidade Universitária, em São Paulo). A programação completa e outras informações estão no site do Cinusp.