Artistas discutem dissimulação da sociedade na mostra “Disfarce”

Exposição de estudantes de Artes Plásticas da USP faz crítica à postura de camuflar e falsear do mundo atual

 17/08/2017 - Publicado há 7 anos
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Os artistas do grupo: da esquerda para direita, Renato Pera, Leandro Muniz, Rodrigo Arruda, João GG, Flora Leite e Yuli Yamagata – Foto: Divulgação

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Estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP movimentam a Oficina Cultural Oswald de Andrade com a mostra Disfarce. Os artistas Flora Leite, João GG, Renato Pera, Rodrigo Arruda e Yuli Yamagata propõem a reflexão do público sobre o papel ou o disfarce de cada um na sociedade contemporânea.

As obras, como observa o curador Leandro Muniz, condensam as impressões sobre a experiência social que o País atravessa. “As ideias da mostra são tomadas como um ponto de discussão tanto no campo da arte quanto em relação à situação social mais ampla. Ou os trabalhos apelam para uma visualidade excessiva ou se reduzem, duas maneiras de problematizar o sentido de seu aparecimento em público.”

Renato Pera: Tijolo-Caveira, 2017 – Foto: Divulgação

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João GG: Canyon, 2017 – Foto: Divulgação

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Muniz explica que, no que se refere ao tema Disfarce, não se trata de um conceito. “No entanto, traduz uma série de ideias que dizem respeito às nossas produções e à ambivalência do título, que não sugere nem adesão nem crítica, exatamente. Ao mesmo tempo em que há fascínio, há uma experiência social que estamos vivendo. Falsear, fingir, simular, representar, ocultar, mascarar, dissimular.”
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Embora sejam trabalhos que lidam com materiais e códigos muito vulgares, sugerem uma atitude reflexiva em relação à sua circulação na cultura atual.

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O visitante percorre o espaço como quem percorre a cidade. “Há trabalhos que mimetizam o espaço, outros se ocultam e outros se exibem demais”, orienta o curador. “Ou seja, a proposta de exposição é colocada em questão, desde trabalhos quase invisíveis até outros com grande apelo cromático, material ou tátil.” As variações de escalas entre as obras resultam em espaços vazios. “Isso é importante, porque o público atravessa a mostra com poucas informações no fundo e, embora sejam trabalhos que lidam com materiais e códigos muito vulgares, sugerem uma atitude reflexiva em relação à sua circulação na cultura atual.”

Yuli Yamagata: Jessica, 2017 – Foto: Divulgação

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Flora Leite: Toldo, 2010 – Foto: André Turazzi

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Muniz chama a atenção do público para observar e repensar as obras num diálogo sobre a cidade. “As paredes da sala são cobertas com painéis. Nós os retiramos e colocamos em posições estratégicas na exposição, de modo que eles também se tornassem um assunto, ao serem explicitados como uma das mediações do espaço de exposição”, explica. “Nesse sentido, há uma série de indícios que levam o público a pensar sobre o próprio lugar onde a exposição acontece, ou seja, a região central de São Paulo, tanto no sentido da sua presença no espaço quanto num sentido mais político.”
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Um dos maiores painéis que foram deslocados das paredes da sala mostra o menor trabalho da exposição: um prego de vidro.

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Logo na entrada do espaço, há um painel com a fotografia de Rodrigo Arruda. A imagem reproduz um palco de teatro com a cortina entreaberta. “A expectativa é que o visitante se deixe envolver pela representação de um espaço de representação”, reflete Leandro. “No fundo do painel, à direita, há uma parede com o Tijolo-Caveira, de Renato Pera. Nesse mesmo canto superior, no teto, o Showtime, de Yuli Yamagata, mostra uma cortina clássica para cantos com teias de aranhas.”

Rodrigo Arruda : Sem Título, 2013

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Os trabalhos dirigem o olhar para os cantos e tentam duplicar o corpo do observador. “Um dos maiores painéis que foram deslocados das paredes da sala mostra o menor trabalho da exposição: um prego de vidro”, compara o curador.

O desafio de tornar visível o invisível é de Rodrigo Arruda. “Com esse trabalho, o pensamento sobre disfarce, camuflagem, foi levado até as últimas consequências”, avalia o artista.

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A exposição Disfarce fica em cartaz até 31 de outubro na Oficina Cultural Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, em São Paulo), de segunda a sexta-feira, das 9 às 22 horas, e aos sábados, das 10 às 18 horas. Entrada grátis. Mais informações pelos telefones (11) 3222-2662 e 3221-4704.


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