Evento lembra o pioneirismo de Gilda de Mello e Souza

Os dez anos da morte da professora da USP, crítica literária e ensaísta vão ser lembrados em encontro que, de 31 de maio a 3 de junho, apresentará debates e sessões de cinema

 30/05/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 01/06/2016 as 16:55
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Dez anos depois da morte da professora da USP, crítica literária, ensaísta e filósofa Gilda de Mello e Souza, a Articulação Discente para Difusão do Pensamento Político e Social Brasileiro na USP, em colaboração com o Cinema da USP (Cinusp), organiza uma semana em memória da professora. O evento “10 anos sem Gilda de Mello e Souza” acontecerá de 31 de maio a 3 de junho, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e contará com seminários sobre a vida e a obra da professora. Além disso, o encontro incluirá sessões de cinema todos os dias.

Gilda de Mello e Souza - Foto: IEB/USP
Gilda de Mello e Souza – Foto: IEB/USP

A abertura oficial do evento será no dia 31 de maio, às 17h30, na sala 8 da FFLCH, com a presença da historiadora Marina de Mello e Souza – filha de Gilda – e do diretor da faculdade, professor Sérgio Adorno. Entre os docentes que participarão do encontro estão os professores da FFLCH Renato Janine Ribeiro – ex-ministro da Educação –, Marilena Chauí, Eva Blay, Walnice Nogueira Galvão, José Miguel Wisnik e Ricardo Musse.

As sessões de cinema mostrarão filmes que foram objeto de análise de Gilda de Mello e Souza. Serão exibidos, entre outros, Terra em Transe, de Glauber Rocha, Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade, Oito e meio, de Federico Fellini, e Deuses Malditos, de Luchino Visconti. As sessões ocorrerão no Cinusp (rua do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colmeias, na Cidade Universitária) e no Centro Universitário Maria Antonia (rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque), ambos em São Paulo. A programação completa do evento “10 Anos sem Gilda de Mello e Souza” está disponível no facebook (www.facebook.com/PensamentoBrasileiroUSP).

Pensadora

A professora Eva Blay, do Departamento de Sociologia da FFLCH, que integrará uma das mesas de discussão do evento, no dia 3 de junho, abordando as questões de gênero na faculdade, descreve Gilda como pensadora, feminista e artista. “Ela só não participou dos movimentos feministas, penso eu, pela precocidade da questão, mas todo o seu pensamento era de uma compreensão feminista total. Isso se expressa no texto que ela enviou a mim e a Beatriz Lang para nosso livro Mulheres na USP: Horizontes que se Abrem. Foi tão sensível e discreta que se referiu ao machismo dos colegas na faculdade sem atacá-los, mas plenamente consciente e sabendo como superar o problema”. E Eva acrescenta: “Ela é um belo paradigma como mulher”.

O professor do Departamento de Filosofia da FFLCH Renato Janine Ribeiro, que foi aluno de Gilda, destaca a sua atuação como professora da USP: “Ela tinha um trabalho muito importante sobre estética. No Departamento de Filosofia, ela tratava de algo diferente do usual. Dona Gilda, como sempre a chamamos, tinha essa visão diferente de considerar a formação estética das pessoas como algo muito importante. Isso foi algo muito bom nela”.

Vanguardismo

Foto: Reprodução
Livro reproduz tese de Gilda, defendida em 1950. Foto: Reprodução

O vanguardismo de Gilda de Mello e Souza pode ser sentido em uma de suas principais obras: O Espírito das Roupas – A moda no século XIX. Originalmente escrito como tese de doutorado em Ciências Sociais, que ela obteve em 1950, o ensaio abordava a moda numa época em que o assunto era visto como algo fútil. Enxergando as roupas como objetos em movimento, que se integravam ao corpo, sua obra mostra a moda como arte e parte importante da cultura brasileira no século 19, relacionando-a com outros aspectos culturais, como a literatura, a pintura, a fotografia e o retrato – principalmente de sua família –, conseguindo lê-los como funções sociais e psicológicas, por meio dos gestos e vestes.

Prima de Mário de Andrade, que também foi seu mentor e em cuja obra se especializou, Gilda nasceu em 1919, em Araraquara (SP). Em 1937, ela ingressou no curso de Filosofia da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP – hoje FFLCH. Como integrante de uma das primeiras turmas da faculdade, teve aula com professores da missão francesa – contratada na Europa para dar início à então recém-fundada Universidade de São Paulo –, como Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss. Após a graduação, ingressou em um curso de formação de professores e recebeu sua licenciatura. Com seu futuro marido, o crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza, fez parte do grupo responsável pela fundação da revista modernista Clima, em que publicou contos e artigos.

Em 1954, convidada pelo professor João Cruz Costa, tornou-se professora responsável pela disciplina de Estética da Seção de Filosofia da FFCL – hoje Departamento de Filosofia da FFLCH, do qual foi chefe entre os anos de 1969 e 1972. Em 1999, recebeu o título de Professora Emérita da FFLCH. Seu casamento com Antonio Candido lhe deu três filhas: Marina, Laura e Ana Luísa. Esta última escreveu um livro, O Pai, a Mãe e a Filha, no qual relata a relação que sua mãe possuía com a moda.

Entre as principais publicações de Gilda estão O Tupi e o Alaúde: Uma Interpretação de Macunaíma (1979), Exercícios de Leitura (1980), Os Melhores Poemas de Mário de Andrade – Seleção e Apresentação (1988) e A Ideia e o Figurado (2005). Gilda de Mello e Souza faleceu aos 86 anos, no dia 25 de dezembro de 2005.
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O evento “10 anos sem Gilda de Mello e Souza” acontecerá de 31 de maio a 3 de junho, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (avenida Professor Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária, em São Paulo). Mais informações podem ser obtidas no Facebook (www.facebook.com/PensamentoBrasileiroUSP).
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Clique na imagem para ver a programação:

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