Ressonância magnética permite analisar o vinho sem abrir a garrafa

Aparelho utiliza ressonância magnética nuclear para identificar metais que apontam procedência do vinho

 29/04/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 02/05/2016 as 15:17
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Garrafas de vinho utilizadas nas análises – Foto: Esther Scherrer
Sistema poderá ser útil para combater falsificações – Foto: Esther Scherrer/IQSC

Obter informações sobre vinhos tintos sem violar o lacre da garrafa e sem comprometer o conteúdo, de forma que a garrafa ainda possa ser vendida após a análise. Esse foi o objetivo de pesquisa do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP. O trabalho da pesquisadora Esther Scherrer acompanhou a concentração de íons metálicos (como manganês, ferro e cobre) presentes no vinho e, com isso, inferiu se o local de produção é realmente aquele especificado no rótulo. Para fazer isso, utilizou-se um equipamento de ressonância magnética nuclear (RMN) semelhante àqueles usados em hospitais para exames clínicos. Terminada a medição, a garrafa de vinho continua exatamente como era antes.

O estudo analisou um total de 53 garrafas de vinho tinto, buscando grande variedade entre países e tipos de uva, para observar qual dessas características surtia maior influência nos resultados. Íons metálicos estão naturalmente presentes em todas as bebidas que consumimos, sejam alcoólicas ou não, em concentrações variadas.

“O vinho não é uma bebida destilada, por isso a concentração de metais nele está diretamente ligada ao solo onde a uva foi plantada e também ao clima do local. Diferentes locais de origem geram perfis diferentes de concentração de íons metálicos, sendo possível descobrir a origem do vinho olhando apenas para os íons metálicos”, afirma Esther.

É possível descobrir a origem do vinho olhando apenas para os íons metálicos.

A pesquisa usou um equipamento de ressonância muito semelhante aos dos hospitais, só que menor. Enquanto o de análises clínicas consegue analisar um ser humano inteiro deitado, este foi projetado para amostras com até 10 centímetros de largura.

“O equipamento é basicamente um ímã gigante que observa como a amostra se comporta quando está dentro do seu campo magnético”, diz a pesquisadora. “Por isso, metais que interagem com ímãs – como o ferro e o manganês – podem ser observados nessas medidas.”

De acordo com a pesquisadora, num futuro próximo, o aparelho poderia ser usado em supermercados, onde o consumidor poderia analisar o produto desejado (seja vinho, azeite ou frutas frescas) antes de comprá-lo.

Medição

A garrafa é colocada inteira dentro aparelho e a medição dura em torno de dois minutos. O resultado é um gráfico que mostra o tempo de relaxação da amostra. Trata-se do tempo que a amostra demora para retornar à sua condição magnética inicial após ser irradiada com uma onda de rádio, nesse caso a onda foi de 9 Megahertz (MHz).

Equipamento de ressonância magnética nuclear (RMN) utilizado na pesquisa – Foto: Esther Scherrer/IQSC
Equipamento de ressonância magnética nuclear (RMN) utilizado na pesquisa – Foto: Esther Scherrer/IQSC

“Quando esse gráfico é comparado a um banco de dados pré-existente, podemos saber a concentração aproximada de metais na amostra”, ressalta Esther. “Realizou-se ainda as medidas invasivas do vinho, aquelas coletadas com a garrafa aberta. Os resultados obtidos em ambas as análises foram correlacionados para construir esse banco de dados mencionado.”

A pesquisa comparou vinhos de diferentes países e observou que os gráficos de relaxação das amostras foram bastante próximas entre vinhos do mesmo país, ou de localidade geográfica parecida.

“Correlacionando esses gráficos com as medidas invasivas que fizemos, observamos que o íon metálico que mais influencia as medidas é o íon de manganês. Além de ter concentração mais expressiva que os demais íons ativos na ressonância magnética nuclear, sua interação com o campo magnético é bem maior que a dos outros íons em solução”, explica a pesquisadora.

“Portanto, a classificação de vinhos tintos por país ou região de plantio é possível utilizando a ressonância magnética nuclear, e acontece de acordo com a concentração de íons de manganês presentes na amostra.”

Proteção ao consumidor

Segundo Esther, o método não é voltado à aplicação industrial. “Antes do vinho ser engarrafado vale mais a pena realizar análises diretas de metais do que esperar o envase para depois realizar medidas de RMN”.

Ainda não se trata, também, de um equipamento que valha a pena ter em casa: tem cerca de 2 metros de comprimento e ainda é caro para o consumidor comum. “Havendo, porém, um banco de dados robusto e confiável”, ressalta ela, poderá ser desenvolvido um dispositivo para que o consumidor analise a garrafa e descubra se ela realmente veio da origem indicada no rótulo, ajudando a combater falsificações.

A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado Estudo não invasivo de vinhos tintos em garrafas lacradas através de RMN 1H no domínio do tempo e análise multivariada, orientada por Luiz Alberto Colnago, pesquisador da Embrapa Instrumentação e professor associado ao Programa de Pós-Graduação do IQSC.

Mais informações: email esther_scherrer@yahoo.com.br


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