O racismo de um país que não se reconhece racista

Segundo os professores presentes ao “Diálogos na USP”, o Brasil tem vergonha de assumir o racismo, mas ainda homenageia pessoas que mataram negros com nomes de ruas e avenidas

 25/11/2016 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 28/11/2016 as 10:30

Acompanhe a entrevista do jornalista Marcello Rollemberg com a professora Rosane Borges, colaboradora do Celac (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP), e com o professor Dennis de Oliveira, chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, ativista da rede Quilombação:

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Dennis de Oliveira e Rosane Borges - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Dennis de Oliveira e Rosane Borges – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Qual o sonho de uma criança negra ? Eu só posso ser jogador de futebol ou cantor de samba? Não, eu posso ser qualquer coisa.” A afirmação é do professor e jornalista Dennis de Oliveira (chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP e ativista da rede Quilombação), que, juntamente com a professora Rosane Borges (pós-doutoranda na ECA-USP, professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e colaboradora do Celac – Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP, participou de mais uma edição do programa Diálogos na USP, desta vez sobre o tema Movimento negro: histórias, lutas e conquistas.

Segundo o antropólogo e professor titular da Universidade de São Paulo, o brasileiro-congolês Kabengele Munanga, o Brasil nasceu do encontro de diversas civilizações.  Disse ele: “Conhecer nosso país é justamente conhecer um pouco da história desses segmentos populacionais que o constituíram, que para cá trouxeram bagagens culturais ricas e variadas”.

Para o geneticista Sergio Danilo Pena, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Laboratório Gene , os afro-brasileiros famosos se encaixam perfeitamente no que se vê entre pessoas comuns que se definem como negras, como Daiane dos Santos e Djavan.

Um estudo revela que o Brasil possui 39,7% de ancestralidade africana, 40,8% de ancestralidade europeia e 19,6% de ancestralidade indígena. Maior nação negra fora da África, o País assistiu a mais de 5 milhões de africanos serem escravizados (40% do total de negros arrancados da África pelo tráfico negreiro).

A miscigenação acentuada, com proporções variáveis de contribuição genética de cada continente, também aparece nos estudos do professor Pena com populações do País. Seja como for, as trajetórias dos movimentos sociais negros brasileiros têm sido marcadas por um processo histórico de resistências e de lutas em defesa do direito à diferença étnica e, ainda, pela implementação de políticas públicas voltadas à garantia dos princípios da reparação, do reconhecimento e da valorização do povo negro. Ainda assim, permanece como uma advertência a frase da professora Rosane Borges, segundo a qual “o fosso racial é tão abissal que tudo o que se faz parece pouco”.

O programa Diálogos na USP – os temas da atualidade é veiculado pela Rádio USP, com apresentação de Marcello Rollemberg, produção de Sandra Capomaccio e trabalhos técnicos de Márcio Ortiz.


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