Cientistas criam rede mundial de informação sobre substâncias químicas

Cientistas colocam em funcionamento banco mundial de moléculas de produtos naturais. Sistema já é o segundo maior do mundo e o primeiro de livre acesso

 08/09/2016 - Publicado há 8 anos
Foto: Martin LaBar via Visual Hunt
Entre as possibilidades trazidas pelo sistema estão a rapidez na identificação de marcadores de doenças, a descoberta de novas estruturas com potencial biológico e o suporte no desenvolvimento de novos medicamentos – Foto: Peter via Visual Hunt

Recursos químicos que formam a vida na Terra, orgânicos ou inorgânicos, já observados mas com potencial inexplorado podem estar ao alcance muito antes do que pensávamos. Parece ambicioso, mas pesquisadores, reunidos em torno de um projeto criado na Universidade de San Diego, Estados Unidos, colocaram em funcionamento um banco mundial para livre acesso a informações das mais diferentes substâncias químicas existentes no Planeta. Trata-se da plataforma Global Natural Products Social Molecular Networking (GNPS) – Rede Mundial de Material Molecular de Produtos Naturais – que, segundo seus organizadores, deve incrementar desde a pesquisa básica em ecologia química até o desenvolvimento de novos medicamentos.

Como trabalham com um sistema sofisticado, de nível comparável ao do Atlas do Genoma do Câncer (TCGA), mas com ideal social, qualquer pesquisador do mundo pode inserir dados de suas pesquisas para ampliar a biblioteca e fazer comentários nas estruturas. O próprio sistema, ao reconhecer pessoas que trabalham com algo semelhante, “sugere o contato para trabalhos em conjunto”, explica o coordenador da Rede no Brasil, o professor Norberto Peporine Lopes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.

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Foto: Martin LaBar via Visual Hunt

Exemplificando a utilização geral desse “sistema democrático de acesso à informação científica”, o coordenador brasileiro lembra as Olmpíadas e afirma que “fica mais rápida a identificação de novos derivados polares de substâncias usadas em doping”. Quanto aos benefícios mais diretos à população, o professor fala de possibilidades como “a rapidez na identificação de marcadores de doenças, a descoberta de novas estruturas com potencial biológico e o suporte no desenvolvimento de novos medicamentos”.

A plataforma reúne “espectros de substâncias químicas” – informações obtidas de análises de qualquer molécula ou tecido através da técnica de espectrometria de massas. Com a espectrometria, pode-se detectar e identificar substâncias químicas de qualquer massa molecular, desde “uma pequena molécula de baunilha até a massa de um vírus intacto”, garante.

A importância dessas informações, segundo o professor, é poder auxiliar na identificação e quantificar qualquer substância química de qualquer material: estruturas de medicamentos, de doenças em fluidos biológicos e, até mesmo, “a geração de imagens teciduais, ao monitorar na sala de cirurgia o ponto de corte para retirada de um tumor”. Saindo da área de saúde, aponta curiosidades como descobrir a composição química do batom utilizado pelas mulheres romanas em eventos do Coliseu; analisar insetos com mais de 40 milhões de anos conservados em âmbar ou desvendar a dieta de múmias. Elas são plenamente factíveis “devido à altíssima sensibilidade e poder de identificação estrutural” dos espectrômetros de massa.

Quase 100 milhões de espectros compartilhados

Iniciada há pouco mais de três anos na Universidade de San Diego, a GNPS já é a segunda maior fonte de espectros de substâncias do mundo. O diferencial é que se trata de única estrutura pública, de uso livre, e com recursos comparáveis a plataformas de dados genômicos.

Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto - Foto: Assessoria de Comunicação
Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – Foto: Divulgação

O professor Lopes garante que, apesar da tecnologia da GNPS ser similar à dos bancos genômicos no tocante à identificação dos dados, o sistema de inserção de projetos e a interação de pesquisadores são superiores e ainda não existe nada similar no mundo. Até novembro do ano passado, o serviço já tinha atendido quase 10 mil usuários de cem países diferentes, com cerca de 93 milhões de espectros compartilhados.

A criação da plataforma congregou pesquisadores de todo o mundo que se dedicaram voluntariamente à realização do projeto. A matriz computacional ainda está centralizada na universidade nos Estados Unidos, mas, adianta o professor Lopes, em breve estará nas nuvens computacionais.

O trabalho dos pesquisadores para colocar em funcionamento a GNPS foi publicado recentemente na Nature BiotechnologyNo artigo, estão todos os detalhes do funcionamento da nova plataforma mundial.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: (16) 3602-4707 ou 3602-4243

 


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