Pesquisa mostra livros censurados durante a ditadura militar

Apresentado no dia 19 de maio em São Paulo, estudo da professora da USP Sandra Reimão resultou no livro Repressão e Resistência, da Edusp

 23/05/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 30/05/2016 as 16:03
Por [cycloneslider id=”censura”]

“Uma das primeiras providências da maioria dos regimes autoritários é censurar a liberdade de expressão e opinião, uma forma de dominação pela coerção, limitação ou eliminação das vozes discordantes”, observa Sandra Reimão, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e da Escola de Comunicações e Artes (ECA), ambas da USP. “Telejornais, jornais, revistas e livros costumam ser alvos de atos de censura.”

Desde 2008, Sandra Reimão vem se dedicando à análise da ação da censura a livros de 1964 a 1985. Pesquisa que já resultou em vários artigos e, em especial, no livro Repressão e Resistência – Censura a Livros na Ditadura Militar, publicado pela Editora da USP (Edusp) e também no documentário Páginas Censuradas (assista abaixo).

O livro da professora Sandra Reimão, publicado pela Edusp
A professora Sandra Reimão, em palestra no dia 19, no Sesc

No dia 19 de maio, a professora foi convidada pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo para dar uma palestra sobre o trabalho que desenvolve. O público, integrado principalmente por bibliotecários, historiadores e estudantes de Letras, acompanhou, atento, a história dos livros  censurados durante a ditadura.  “Quando tenho a oportunidade de conversar com jovens sobre meus trabalhos de pesquisa, costumam surgir dois tipos de perguntas e comentários”, conta. “Um grupo de questões relacionadas a procedimentos de pesquisa, sobre como delimitar objetos, por exemplo, e outro grupo de questões mais relacionadas ao tema da pesquisa, como observações sobre democracia e cidadania.”

Sandra apresentou detalhes curiosos de sua pesquisa, como as fichas escritas pelos censores argumentando as razões de o livro ser proibido. Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, por exemplo, foi analisado por um sujeito que assina Raymundo de Mesquita. Ele argumenta que “o presente livro publicado pela Editora Artenova retrata, em quase sua totalidade, personagens portadores de complexos, vícios e taras com o objetivo de enfocar a face obscura da sociedade na prática da delinquência, suborno, latrocínio e homicídio, sem qualquer referência a sanções”.

As fichas de livros censurados, como Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, Dez Estórias Imorais, de Aguinaldo Silva, Copacabana Posto 6 e As Traças, de Cassandra Rios, entre muitos outros, estão reunidas no livro Repressão e Resistência – Censura a Livros na Ditadura Militar. A pesquisa de Sandra Reimão leva o leitor a voltar no tempo e entender o contexto político da ditadura e traz também os bastidores da imprensa e da cultura.

[cycloneslider id=”censura-docs”]

A professora fez questão de analisar todos os documentos referentes aos livros censurados guardados em 28 caixas no Arquivo Nacional em Brasília (DF). “Fiz essa pesquisa em duas etapas. Cada uma delas demorou dez dias. Ficava o dia inteiro pesquisando cada documento.”

O projeto da professora, que se limitava à censura a livros de autores brasileiros, segue, agora, em nova etapa. “Estou pesquisando a censura a livros de autores estrangeiros durante a ditadura militar brasileira”, informa. “A proposta abrange obras de ficção e de não ficção e tanto livros publicados no Brasil em traduções quanto publicados por editoras estrangeiras que foram impedidos de serem importados. A meta é buscar uma compreensão contextualizada dos vetos censórios a livros de autores estrangeiros no momento da censura e também de suas repercussões em períodos posteriores.”

Assista a seguir o documentário Páginas Censuradas, que aborda a pesquisa da professora Sandra Reimão.

 

 

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.