Comunicação pode aproximar família da escola, sugere pesquisa

Família precisa ganhar voz, e escola, repensar práticas para conhecer melhor pais de alunos, defende especialista

 21/11/2017 - Publicado há 6 anos
Estudo verificou pouco preparo da escola para receber os pais – Foto: Fernando Nobre / Ascom Seduc

 

O ensino no Brasil tem problemas e, todos concordam, de causas diversas. Mas como anda a comunicação entre duas das instituições mais interessadas na educação: a escola e a família? Especialistas em psicologia escolar da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP pesquisaram o assunto e revelaram a importância de uma comunicação igualitária entre essas instituições.

A psicóloga Larissa Schutte Vidotti buscou respostas para a pergunta “como professores e gestores percebem a relação com as famílias de seus alunos?”, acompanhando atividades de três escolas municipais de ensino fundamental de uma cidade do interior paulista. Entre os resultados, Larissa destaca as dificuldades na interação entre pais e mestres.

A situação ficou evidente, segundo a pesquisadora, quando observou contradição entre o discurso dos professores – que reconhecem a importância do cenário em que vive cada criança e sua família –  e a forma como exercem seu trabalho no dia a dia escolar.

Ela cita exemplos, como festividades e reuniões de pais, em que verificou pouco preparo da escola para receber os pais. A psicóloga conta que não havia informações disponíveis para os familiares, com destaque para o “baixo nível de planejamento na execução desses projetos”. Observou ainda falta de acolhimento das famílias pelos educadores e gestores, através de “um certo distanciamento, em que os pais assumem posição de espectadores, enquanto os educadores conduzem seus encontros”.

A pesquisadora conta, no entanto, que os professores pesquisados demonstraram interesse na aproximação com os pais de seus alunos, “mas a forma como eles vêm tentando colocar em prática essas ações é que não tem se mostrado eficiente”.

Da mesma maneira, a maioria dos estudos sobre o tema mostra que os pais se interessam pela educação de seus filhos e gostariam de obter mais informações sobre como adotar em casa práticas educativas utilizadas pelos educadores. Para Larissa, esse fato revela a existência de “algumas fragilidades na comunicação entre escola e família” e, mais, que os pais esperam por iniciativas propostas pela instituição escolar.

Mesmo com a atualmente ineficiente comunicação com a família, professores pesquisados demonstraram interesse na aproximação com os pais de seus alunos – Foto: Otávio de Souza via Flickr

Por razões socioculturais e econômicas, enquanto os pais assumem comportamento passivo nessa relação, os professores ainda não conseguiram quebrar a barreira social que os coloca como detentores do saber. Ainda assim, o estudo da USP identificou professores que colocam em prática estratégias próprias de comunicação com pais de alunos. Esses profissionais se mostraram “mais amorosos e compreensivos e relataram nunca ter vivenciado problemas com os familiares”.

E foi no estabelecimento dessa “comunicação baseada na igualdade, respeito e na utilização de linguagem simples”, contaram os professores para a psicóloga, que conseguiram fazer com que o familiar falasse abertamente sobre seus anseios e dúvidas e, também, que colaborasse na implementação das ações solicitadas pela escola.

Confirmando essas iniciativas, mesmo relatando dificuldades de relacionamento, aproximadamente 40% dos professores e 33,3% dos gestores entrevistados disseram ter modificado as formas de comunicação com os pais e obtido respostas positivas nessa aproximação.

Aprendizagem e motivação afetiva

Larissa lembra que família e escola desempenham papel importante no desenvolvimento humano. A escola faculta formação psicológica, sociocultural e cognitiva de forma mais elaborada que no ambiente familiar.

Por outro lado, continua, pelos laços afetivos muito próximos, a família dispõe de recursos motivacionais muito mais eficientes. Essa influência no comportamento humano é importante no estímulo à aprendizagem. Por isso, “é fundamental que haja apoio do contexto familiar, especialmente no que diz respeito à superação de dificuldades, que muitas vezes decorrem da falta de motivação do aluno”.

A pesquisadora afirma a necessidade das duas instituições estarem juntas pelo objetivo comum. Para isso, ela insiste que devam buscar interação, respeitando as peculiaridades de cada família e estabelecendo diálogo para compreensão mútua, pois as práticas educativas e os contextos familiares têm reflexos na escola e família simultaneamente, “indicando a importância de que ambas se conheçam para que haja continuidade em suas ações”.

Gestão escolar democrática

Como os resultados de seu estudo mostraram boa vontade dos professores e gestores para a aproximação com a família, Larissa acredita que uma melhor relação escola-família é possível. Depende não somente de iniciativas isoladas, mas de que seja de fato praticada a “gestão escolar democrática”, determinada pela Constituição Federal, e que ainda não foi cumprida.

A inclusão das famílias na elaboração do Projeto Político-Pedagógico e processos de decisão escolar seriam iniciativas importantes para que escola e família conhecessem suas necessidades, potencialidades e limitações, colaborando na “transformação da educação em algo compartilhado e não mais concedido”.

Esses resultados fazem parte da dissertação de mestrado que Larissa apresentou em maio de 2017 à FFCLRP, com orientação do professor Antonio dos Santos Andrade.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail lari_vidotti@hotmail.com


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