Sistema desenvolvido na Poli aprimora análise de risco de investimento em energia renovável

Modelo pode ser usado por empresas que geram, comercializam ou consomem energia, especialmente aquelas que operam no chamado mercado livre

 25/08/2016 - Publicado há 8 anos
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Ao melhorar a aferição do risco, sistema mostra quando vale a pena investir na complementaridade entre usinas hídricas e eólicas – Foto: Arte sobre foto de Marcos Santos/USP Imagens

Um dos desafios do mercado de energia, especialmente as renováveis, é garantir que os investimentos sejam remunerados, diante da incerteza que é característica desse segmento, já que a produção está muito vinculada ao que acontece com o clima. Para ajudar no processo de tomada de decisão na compra e venda de usinas, e também na aquisição da energia em si, o engenheiro Luiz Armando Steinle Camargo desenvolveu, em seu doutorado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, um sistema que incorpora uma análise de risco mais precisa e possibilita que as empresas desenhem estratégias mais adequadas e garantam melhores retornos sobre suas operações comerciais e investimentos.

Sob orientação do professor Dorel Soares Ramos, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétrica (PEA) da Poli, Camargo criou um sistema que pode ser usado por empresas que geram, comercializam ou consomem energia, especialmente aquelas que operam no chamado mercado livre. Baseado em modelos matemáticos de otimização desenvolvidos para situações incertas, o sistema considera cenários de preços e geração, com probabilidades de ocorrência associadas a cada um desses cenários, avaliando o risco da operação, o elemento que impacta na decisão sobre quanto vai vender ou comprar de energia ou em qual empreendimento e quanto vai se investir.

“O mercado, hoje, costuma fazer avaliações com base no cálculo de probabilidade de cenários, tomando as decisões de investimento com base em uma média ou com simplificações em relação às incertezas sobre preço e geração”, explica. “Nosso sistema contempla os efeitos integrados dessas incertezas e seus impactos sobre as estratégias comerciais e consegue mostrar para o tomador de decisão até onde ele pode chegar, quanto de risco ele pode aceitar, ou permite o contrário: diante de um cenário de risco, qual o investidor está disposto a correr, qual a melhor estratégia a ser adotada.”

Foto: Endeavor Brasil
Versões customizadas dos modelos apresentados na tese tiveram aplicações em casos reais para grandes atores do mercado – Foto: Endeavor Brasil

A inovação no sistema se encontra na adoção do Conditional Value at Risk (CVaR) como metodologia para avaliação de risco, utilizada como metodologia para estudos energéticos e formação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), indicador semanal usado para valorar a energia comercializada no mercado de curto prazo de energia. “O CVaR permite uma melhor aferição de risco por representar a média dos piores cenários de resultados. Com esse diferencial, conseguimos desenvolver um sistema mais robusto de análise de operações comerciais e investimento”, aponta.

O modelo tem uma base geral, mas é customizado para cada caso. Dessa forma, pode ser utilizado pelas empresas por meio da contratação de serviços de consultoria ou por meio de projetos de pesquisa e desenvolvimento – as empresas de energia precisam investir um porcentual de sua receita em P&D, segundo define a lei de concessão de exploração do setor.

Nesse caso, envolve atividades de pesquisa que aprimorem o sistema já existente, e a empresa pode absorver o modelo para seu sistema de análise de investimento e usá-lo no cotidiano de suas operações. “As versões customizadas dos modelos apresentados na tese tiveram aplicações em casos reais para grandes players do mercado, tanto geradores, quanto comercializadores e consumidores, mostrando grande aderência com a realidade do setor e contribuindo para tomada de decisões com maior assertividade”, ressalta.

Um dos focos do doutorado é a energia eólica, que tem recebido maior atenção no Brasil, e gera mais energia entre junho e novembro. Assim, atua de forma complementar à hidráulica, que gera mais energia entre os meses de dezembro e abril, época chuvosa. Camargo simulou o uso do sistema, ao analisar a associação entre um gerador hidráulico do Sudeste com três hipotéticas usinas eólicas nacionais: Morro do Chapéu (interior da Bahia); Coxilha Negra (interior do Rio Grande do Sul), e Macau (litoral do Rio Grande do Norte). Concluída a análise, usando seu sistema, ele apontou que a combinação ideal, em termos de resultados financeiros e geração de energia, é a associação entre a hidráulica e a usina de Morro do Chapéu e Coxilha Negra. A usina Macau apresentou menor complementaridade e maior risco no case apresentado.

Ao tornar o sistema de análise de risco mais preciso, consegue-se um efeito positivo não só para investidores, mas para a sociedade, que é tornar os investimentos em energia eólica mais atrativos, incentivando, assim a expansão de outro tipo de geração de energia sustentável. “Nosso sistema mostra que é possível desenvolver as eólicas em ambiente livre. Hoje, a grande maioria das eólicas que estão sendo implantadas no Brasil opera no mercado regulado”, afirma.

“Nesse mercado os riscos são menores para o investidor, mas é um ambiente mais competitivo; dos projetos habilitados no leilão, menos de 10% se viabilizam. E os demais?”, questiona: “Com a pesquisa, apresento estratégias de negócios, de investimento, de negociação, de comercialização, de forma a mostrar que a eólica também é viável no mercado livre, o que é um incentivo a mais para o mercado investir nessa modalidade”, destaca.

Além dessa abordagem sobre fontes complementares, a tese também apresenta análises de precificação de contratos e estratégias comerciais para geradores e consumidores, tomando como racional a análise do risco envolvido nas operações. “Importante ressaltar que são apresentadas metodologias, com suporte do sistema desenvolvido, que permite a análise robusta de situações usuais do setor”, finaliza.

Da Acadêmica Agência de Comunicação


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