Astrônomo brasileiro em projeto da Nasa comenta descoberta de planetas

Os exoplanetas (além do sistema solar) foram descobertos pela Nasa, a Agência Espacial dos Estados Unidos

 23/02/2017 - Publicado há 7 anos

São sete, um praticamente do tamanho do outro. E a Branca de Neve da história não é apenas uma princesa, mas uma estrela.

São exoplanetas (além do sistema solar) rochosos, com dimensões parecidas com as da Terra – um pouco maior, outro um pouco menor – e potencial para abrigar formas de vida.

O anúncio da importante descoberta foi feita nesta quarta-feira (22/2) pela Nasa, a Agência Espacial dos Estados Unidos. O sistema está na constelação de Aquário, a cerca de 40 anos-luz da Terra, o que não é considerado distante em termos astronômicos.

“É um recorde na descoberta de planetas rochosos, ou seja, planetas com superfície sólida. Pela primeira vez, sete planetas rochosos foram descobertos de uma só vez”, disse Jorge Melendez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Os planetas orbitam a estrela anã Trappist-1 e a orientação das órbitas dos sete permite que os cientistas os estudem em detalhes. Segundo a Nasa, alguns deles podem ter temperaturas que permitam a existência de água na forma líquida, até mesmo em oceanos.

Três dos planetas estão no que os cientistas chamam de “zona habitável”, ou seja, que podem oferecer suporte a algum tipo de vida. Os planetas receberam os nomes de Trappist-1b, 1c, 1d, 1e, 1f, 1g e 1h.

Exoplanetas que orbitam a estrela anã Trappist-1, a cerca de 40 anos-luz da Terra, podem ter água líquida - Ilustração: ilustração: NASA/JPL-Caltech via Wikimedia Commons
Exoplanetas que orbitam a estrela anã Trappist-1, a cerca de 40 anos-luz da Terra, podem ter água líquida – Ilustração: ilustração: Nasa/JPL-Caltech via Wikimedia Commons

“Esses planetas potencialmente podem ter vida, mas não necessariamente. Há alguns problemas, como o fato de estarem muito próximos da estrela anã. Por isso, podem receber radiação muito energética da estrela e isso poderia dificultar a existência de vida”, disse Melendez.

Os planetas foram identificados ao passarem em frente à estrela. “A estrela Trappist-1 é muito pequena e, por ter pouco brilho, um planeta facilmente poderia escurecê-la. Quando o planeta transita em frente à estrela, ou seja, quando passa na linha de visada entre a Terra e a estrela-mãe, isso causa uma pequena diminuição na luz da estrela. E, pelo fato dessa estrela ser muito pouco brilhante – ela tem um brilho intrínseco muito baixo –, então é mais fácil detectar planetas em sua órbita”, explicou Melendez, que coordena o Projeto Temático Espectroscopia de alta precisão: impacto no estudo de planetas, estrelas, a galáxia e cosmologia.

Astrônomos identificaram anteriormente sistemas com sete planetas mas esse é o primeiro com tantos planetas com tamanho parecido com o da Terra.

A suposta existência de água está baseada na distância dos planetas à Trappist-1 que, diferentemente do Sol, é uma estrela considerada extremamente fria. E é pequena: tem o tamanho aproximado de Júpiter, ou cerca de 8% do Sol.

O nome da estrela agora descoberta vem de Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope (Trappist), telescópio instalado no Chile. Em maio de 2016, pesquisadores que trabalham com o instrumento identificaram três possíveis planetas no sistema da Trappist-1.

Com a ajuda de diversos outros telescópios terrestres, incluindo o Very Large Telescope do European Southern Observatory, e o Spitzer – telescópio espacial que funciona pela detecção de radiação infravermelha –, os cientistas confirmaram a existência de dois dos planetas observados em 2016 e de outros cinco.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature simultaneamente ao anúncio feito pela Nasa em Washington.

Novos estudos serão feitos no sistema para tentar determinar se e quais dos planetas são ricos em água na forma líquida. Seis dos planetas tiveram suas massas estimadas pelos pesquisadores. Quanto ao sétimo, ainda sem massa estipulada, pode ser um objeto gelado.

“Para estudar esses planetas com maior nível de detalhe serão necessários, provavelmente, telescópios maiores do que o Spitzer. O Spitzer talvez possa ajudar um pouco mais, mas ele não terá a capacidade necessária para conhecer a atmosfera desses planetas”, disse Melendez.

Melendez é o único astrônomo brasileiro participante da missão Fast Infrared Exoplanet Spectroscopy Survey Explorer (Finesse). Lançada pela Nasa em 2016, a missão tem o propósito de observar mais de 200 exoplanetas que realizam trânsitos no infravermelho, entre os 0.7 e os 5.0 micrometros, com um espectrógrafo muito estável e preciso.

Cada exoplaneta será observado em diversos pontos da sua órbita em torno da respectiva estrela hospedeira. Os espectros obtidos ajudarão a identificar as espécies químicas que compõem a atmosfera do exoplaneta, temperaturas, pressões, camadas de inversão e padrões de circulação atmosférica.

Da Agência Fapesp


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