Marcador no sangue indica risco de doenças cardiovasculares

Maiores níveis de aminoácidos de cadeia ramificada no sangue estiveram associados a doenças como infarto e AVC

 26/04/2018 - Publicado há 6 anos
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Pesquisa demonstrou que níveis elevados de aminoácidos de cadeia ramificada (ACR) estiveram associados a ocorrência de infarto e acidente vascular cerebral (AVC) – Fotomontagem sobre imagem de Mikael Häggström / Domínio público via Wikimedia Commons

Os níveis de aminoácidos de cadeia ramificada (ACR) no sangue indicam maior risco de doenças cardiovasculares, aponta pesquisa realizada em um grupo de 27 mil mulheres, acompanhadas por 18 anos. Níveis elevados de ACR estiveram associados ao desenvolvimento de problemas como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). O estudo também indica que os aminoácidos apontam risco cardiovascular ainda maior naquelas mulheres que desenvolveram diabete tipo 2. Os resultados mostram um elo em comum no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e da diabete tipo 2, que podem ser detectados precocemente por meio do uso dos ACR como marcadores.

O estudo teve a participação do médico Paulo Harada, pós-doutorando no Hospital Universitário (HU) da USP. O médico explica que a pesquisa tem como base o acompanhamento de 27 mil mulheres pelo Women’s Health Study, realizado pelo Brigham and Women’s Hospital, vinculado à Harvard Medical School (Estados Unidos). “Todas essas mulheres são profissionais da saúde e não apresentavam doenças no início do seguimento. Anualmente elas respondem a um questionário sobre evolução de saúde”, afirma o médico. “Em média, elas foram acompanhadas durante 18 anos.”

Médico Paulo Harada, que participou da pesquisa, explica que mineração de dados permite analisar grandes quantidades de marcadores no sangue – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

No começo do seguimento, amostras de sangue das participantes foram congeladas e armazenadas. “Esse sangue é como uma fotografia daquele momento da pessoa. A amostra pode ser descongelada muitos anos depois para avaliar componentes do sangue que inicialmente não se julgavam importantes ou tornaram-se mensuráveis com novas técnicas”, aponta Harada. “Portanto, pode-se analisar retrospectivamente a relação de marcadores no sangue daquele momento com a evolução da saúde dessas pessoas.”

O médico observa que a evolução tecnológica tem permitido a análise de quantidade cada vez maior de marcadores no sangue. “No entanto, grandes volumes de informação demandam análise estatística mais avançada para identificar o que é relevante, como a mineração de dados (data mining). Por meio destes métodos, descobriu-se a importância dos ACR como marcadores de risco de diabete tipo 2″, conta. “Esses aminoácidos estão relacionados à resistência insulínica, mecanismo por trás do aumento do nível de açúcar no sangue e a diabete. No entanto, faltavam dados mais robustos sobre a associação entre ACR, o risco cardiovascular e a influência da diabete nesse processo”.

Riscos

Ao longo dos 18 anos de seguimento, 2.207 mulheres apresentaram problemas cardiovasculares. “O objetivo era identificar uma trajetória em comum entre as doenças cardiovasculares e diabete tipo 2. Os problemas cardíacos são a principal causa de morte entre diabéticos”, destaca Harada. “Em países de renda baixa e média, como o Brasil, a urbanização caótica fomenta mudanças de hábitos alimentares e na atividade física, associados a uma epidemia de obesidade, doenças cardiovasculares e diabete tipo 2. Neste contexto, portanto, os achados da pesquisa são muito relevantes.”

Problemas cardíacos são a principal causa de morte entre diabéticos – Ilustração sobre diagrama de LadyofHats via Wikimedia Commons / Domínio público

A pesquisa demonstrou que mulheres com níveis mais elevados de ACR tinham um risco 30% maior de desenvolverem infarto e AVC, e de fazerem a colocação de stents coronários (angioplastia coronária) e ponte de safena e mamária (revascularização cirúrgica). “Também foram analisadas aquelas que desenvolveram ou não diabete tipo 2 ao longo do seguimento”, relata Harada. “A associação dos ACR com risco cardiovascular foi mais forte naquelas que também desenvolveram diabete tipo 2. Ou seja, os ACR indicam um elo em comum entre as duas doenças.”

O médico ressalta que o marcador poderá informar e conscientizar as pessoas sobre riscos futuros de ambas as doenças. “Será um incentivo a mais para prevenção por meio de mudança de estilo de vida, podendo eventualmente até auxiliar na prescrição de medicações para aqueles que apresentem maior risco”, afirma.

“Cabe a ressalva de que há vários fatores determinantes dos níveis de ACR no sangue além de seu consumo na dieta ou em suplementos. Este estudo não permite qualquer avaliação sobre ingestão de ACR e riscos de doenças cardiovasculares ou diabete”, alerta Harada. A pesquisa é descrita no artigo Circulating Branched-Chain Amino Acids and Incident Cardiovascular Disease in a Prospective Cohort of US Women, publicado na revista científica Circulation: Genomic and Precision Medicine, em 17 de abril. O texto é de autoria de Deirdre Tobias, Patrick Lawler, Paulo Harada, Olga Demler, Paul Ridker, Jo Ann Manson, Susan Cheng e Samia Mora.

Mais informações: e-mail phh495@mail.harvard.edu, com Paulo Harada


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