Escala verifica diferentes situações de “bullying” no ensino superior

Estudo apresenta uma lista de situações de violência interpessoal cuja frequência pode ser apontada pelos estudantes

 16/04/2018 - Publicado há 6 anos
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Levantamento concluiu que graduandos e professores reconhecem a presença do fenômeno no cotidiano da graduação, em situações de bullying na relação veterano-calouro, na relação professor-aluno, por características pessoais, por orientação sexual e gênero, por desempenho acadêmico, por discriminação social e etnia – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, pesquisa desenvolveu uma escala para verificar a ocorrência de violência interpessoal (bullying) no ensino superior. Sua criação é baseada em um estudo no qual alunos e professores relataram situações de bullying e seus efeitos no ensino e na aprendizagem. A escala é uma lista com 56 situações que podem ser apontadas pelos estudantes, como discriminação social, por características pessoais e desempenho acadêmico, e que também permite identificar a frequência de cada episódio de violência interpessoal.

A criação da escala baseou-se em um estudo exploratório no qual foram entrevistados 187 estudantes de graduação e 32 professores dos cursos de Medicina, Ciências Biomédicas, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Metabolismo e Informática Biomédica da FMRP. “Foi aplicado um questionário com questões referentes à ocorrência de bullying no contexto da graduação, os tipos de situações e as possíveis consequências para o processo de ensino e aprendizagem”, relata o fonoaudiólogo Matheus Francoy Alpes, que realizou a pesquisa.
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Lista traz 56 situações que podem ser apontadas pelos estudantes para se identificar a frequência de cada episódio de violência interpessoal – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O levantamento concluiu que graduandos e professores reconhecem a presença do fenômeno no cotidiano da graduação em situações de bullying na relação veterano-calouro, na relação professor-aluno, por características pessoais, por orientação sexual e gênero, por desempenho acadêmico, por discriminação social e etnia. “Além disso, há a percepção de que estas situações podem interferir negativamente no processo de ensino-aprendizagem e na permanência estudantil”, conta o pesquisador, “com desgaste psíquico e emocional, desmotivação e desinteresse pela faculdade, isolamento social e repressão da expressão, afetando o bem-estar geral e o desempenho no cotidiano”.

Escala

A partir do estudo exploratório, foi montada uma escala com o objetivo de verificar a ocorrência de bullying na graduação. “Ela conta com 56 afirmativas referentes a diferentes tipos de situações – relação veterano-calouro, relação professor-aluno, por características pessoais, orientação sexual e de gênero, desempenho acadêmico – e discriminação social e etnia, com a opção de preenchimento de uma escala de quatro pontos – nunca, raramente, às vezes e sempre”, explica Alpes. “Foi realizada a validação de conteúdo do instrumento, que está pronta para a sua validação completa em campo.”

O pesquisador observa que a idade de ingresso no ensino superior coincide com o final da adolescência, período em que o estudante ainda se encontra em fase de desenvolvimento e pode, portanto, apresentar vulnerabilidade psicossocial. “Esta pode ainda aumentar ao longo da graduação, em que são identificados diferentes momentos críticos, principalmente relacionados à sua adaptação ao novo ambiente e a novos desafios”, destaca. “A ocorrência de bullying pode então interferir na adaptação, inserção e desempenho acadêmico do estudante.”

“A ampliação do conhecimento sobre as percepções e vivências da população universitária sobre o tema pode favorecer o desenvolvimento de estratégias pessoais de enfrentamento de situações desse tipo”, observa Alpes. “Ao mesmo tempo, auxilia na definição de ações institucionais preventivas no cotidiano acadêmico, de forma a neutralizar ou minimizar o impacto da vivência de situações de violência interpessoal no desempenho acadêmico dos estudantes.

O estudo exploratório foi realizado em 2014, com apoio dos programas Ensinar com Pesquisa e Programa Unificado de Bolsas, da Pró-Reitoria de Graduação da USP. A supervisão foi da professora Maria Paula Panúncio-Pinto, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP. O desenvolvimento da escala aconteceu no projeto de mestrado Construção e validação de conteúdo de escala para estudantes de graduação sobre a ocorrência de violência interpessoal (‘bullying’), orientado pelos professores Luiz Ernesto de Almeida Troncon e Maria Paula Panúncio-Pinto. Produzido no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da FMRP, o trabalho deverá ser apresentado até o mês de junho.

Mais informações: e-mail matheus.alpes@usp.br, com Matheus Francoy Alpes

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