Droga para controlar colesterol protege cérebro durante a sepse

Estudo revela que a sinvastatina pode proteger cérebro de pacientes em quadro de infecção generalizada denominado sepse

 21/06/2017 - Publicado há 7 anos
Além de baixar os níveis de lipídeos no sangue e prevenir doenças cardiovasculares, a sinvastatina também pode proteger o cérebro exposto à sepse

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Medicamento da classe das estatinas, a sinvastatina é mundialmente utilizada para controle do “colesterol ruim”, o LDL. Mas, além de baixar os níveis de lipídeos no sangue e prevenir doenças cardiovasculares, a droga também pode proteger o cérebro exposto à resposta inflamatória generalizada à infecção, ou seja, sepse. Esse foi um dos principais achados de estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, liderado pela professora Maria José Alves da Rocha.

Na sepse, manifestações graves podem atingir todo o organismo e levar o paciente à morte. Muitos têm sido os esforços na busca por novas estratégias de tratamento, mas a mortalidade em unidades de tratamento intensivo continua alta; no Brasil, alcança os 70%.

Essa resposta inflamatória pode atingir diferentes tecidos e órgãos. Dependendo da gravidade, compromete também estruturas cerebrais, com danos em áreas responsáveis por importantes funções orgânicas. Os alvos dos estudos da equipe da USP em Ribeirão Preto foram o córtex pré-frontal e o hipocampo, responsáveis pela cognição – controle da atenção, memória, linguagem, raciocínio e compreensão.

Já a sinvastatina, que possui também propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, tem sido testada não apenas em doenças que afetam o sistema cardiovascular mas, também, o sistema nervoso central, como os acidentes vasculares encefálicos. Por isso, os pesquisadores decidiram verificar se os pacientes que usam sinvastatina estariam de alguma forma protegidos dos danos neuronais que podem acontecer durante a sepse.

Em estudo anterior, a equipe observou que a sinvastatina diminuiu a produção de óxido nítrico (substância liberada pelas células periféricas em condições como a sepse e que pode causar morte de neurônios e comprometer funções do organismo).

Como não se conhece a ação antioxidante da sinvastatina na sepse, pois pacientes que fazem uso crônico da droga interrompem a medicação para tratar a doença inflamatória, os pesquisadores, utilizando modelo animal, simularam uma situação clínica na qual o paciente tratado da sepse continua usando a sinvastatina.

As análises de amostras de sangue, tecido cerebral e imagens das regiões do córtex pré-frontal e do hipocampo (áreas dos cérebros dos animais) não só confirmaram os efeitos antioxidante e anti-inflamatório nas células, mas mostraram que a sinvastatina reduz alterações observadas nessas áreas do cérebro após a sepse.

Cuidar da sepse sem suspender sinvastatina

O efeito neuroprotetor da droga que controla colesterol em caso de sepse foi observado em experimentos com ratos de laboratório, mas permite sugerir a não interrupção da sinvastatina naqueles pacientes que já fazem uso da medicação enquanto recebem cuidados médicos. Para  a professora Maria José, ao retirar essa droga, o médico “estaria removendo um neuroprotetor em potencial”.

No estudo, foi constatado que, 48 horas após a sepse, o efeito antioxidante da sinvastatina ainda protegia as estruturas cerebrais responsáveis pela cognição. E após dez dias, os animais sobreviventes não apresentavam sintomas de alterações cognitivas, especialmente déficits de memória.

Maria José afirma que novos estudos são necessários para investigar mais profundamente quais são as alterações presentes nos cérebros desses sobreviventes. Adianta também que seu grupo trabalha para desvendar os mecanismos da proteção neuronal da sinvastatina contra as alterações provocadas pela sepse.

Contudo, a professora acredita que pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, possam ser beneficiados com o uso da sinvastatina. Porém, outros “estudos experimentais e clínicos precisam comprovar esta hipótese”, diz. Vale lembrar ainda que o uso prolongado e em altas doses da droga apresenta efeitos colaterais, entre eles, o risco de insuficiência renal.

O trabalho foi desenvolvido pelo doutorando Carlos Henrique Rocha Catalão e os resultados parciais desse estudo foram publicados na revista científica Molecular Neurobiology.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail mjrocha@forp.usp.br


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