Testes indicam ação anticancerígena de quatro novos compostos

Primeira etapa de pesquisa de longo prazo, testes mostraram eficácia de compostos contra a proliferação de células tumorais

 16/11/2017 - Publicado há 6 anos
Compostos criados e estudados contêm substâncias que auxiliam na entrada dos fármacos nas células, os mantêm estáveis e os ajudam a se ligar ao DNA, interrompendo a proliferação das células tumorais – Ilustração: Reprodução / Capa Revista JBCS

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Quatro compostos de interesse farmacêutico apresentaram desempenhos promissores em testes in vitro realizados com células de mamas humanas contendo tumor. Segundo os pesquisadores Javier Ellena, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, e Alzir Batista, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que estão envolvidos na pesquisa, a performance dessas estruturas se mostrou superior à dos componentes do cisplatina, fármaco usado atualmente no tratamento de pacientes com câncer de mama e que, conforme os pesquisadores informam, mantem cerca de 95% de sua composição no organismo após o efeito farmacológico. Embora os testes já tenham despertado o interesse da indústria, o trabalho deve ser prolongado. De acordo com estimativas dos cientistas, as pesquisas podem durar até 15 ou 20 anos.

Os compostos criados e estudados contêm fosfina, cloro e dimina, substâncias que, respectivamente, auxiliam na entrada dos fármacos nas células, os mantêm estáveis e os ajudam a se ligar ao DNA, interrompendo a proliferação das células tumorais. Essas substâncias são levadas até o DNA por intermédio de um elemento conhecido como rutênio. Alguns testes foram realizados com outros elementos, como platina e paládio, mas a preferência pelo rutênio, segundo Batista, se deve à semelhança de sua química com a do ferro, um elemento que está presente no organismo humano.

Estrutura química de um dos compostos  – Ilustração: Reprodução / Revista JBCS

Insumo farmacêutico

O objetivo desse trabalho, que também envolve cientistas da Universidade Federal de Ouro Preto, Universidade Federal Fluminense, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universitat de Barcelona (Espanha), é o desenvolvimento de um insumo farmacêutico que tenha atividade mais efetiva e que cause menos efeitos colaterais que os atuais fármacos usados no tratamento de câncer de mama, o tipo de câncer mais comum em mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). De acordo com Batista, hoje, todos os fármacos indicados para o tratamento de câncer causam “sérios efeitos colaterais”.

Javier comenta que, agora, ele e seus colegas estão estudando novas propriedades, no sentido de aprimorar a ação desses fármacos, porque, quanto mais conhecimento eles tiverem acerca de como esses complexos farmacêuticos interagem com os alvos, mais possibilidades eles terão para aprimorá-los.

Ilustração: Reprodução / Detalhe da Capa Revista JBCS

“Essa pesquisa é muito longa. É uma pesquisa para 15, 20 anos”, avalia Batista, que também desenvolve estudos com foco em outros tipos de câncer, como o de próstata e pulmão, e que, em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp – Araraquara/SP) e Fiocruz Bahia, tem estudado, respectivamente, complexos farmacêuticos com rutênio para o tratamento da tuberculose e doenças negligenciadas (doença de Chagas e leishmaniose).

Desenvolver um fármaco que seja estável fora e dentro de um organismo – para que cumpra sua função, atingindo o alvo correto (no caso da pesquisa citada acima, o núcleo celular) diante de tantas substâncias – demanda uma dedicação prolongada para que, no final de todo o processo, possa haver um produto eficaz disponível para a sociedade. Para avançar, Batista defende que, para além da captação de recursos, é necessária uma série de parcerias com hospitais que lidam com tratamentos em oncologia. Mais do que isso, segundo esses cientistas, as empresas também devem se relacionar com a academia para que o conhecimento produzido nela alcance a população.

Ambos os pesquisadores dizem que a divulgação desta pesquisa na revista da SBQ é um passo importante na valorização da ciência nacional, porque, apesar de as publicações internacionais serem uma excelente vitrine para trabalhos científicos, a ciência produzida no Brasil só será reconhecida e valorizada internacionalmente quando as publicações científicas nacionais se tornarem populares no exterior, até porque existe no Brasil mão de obra altamente qualificada e interessada em converter os estudos de grande interesse social em produtos acessíveis à sociedade.

A pesquisa desenvolvida com os quatro novos fármacos ilustra a capa do Journal of the Brazilian Chemical Society (volume 28, número 10, 2017), uma publicação da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

Rui Sintra e Thierry Santos / Assessoria de Comunicação do IFSC

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