Pesquisador descreve animal usando microtomografia computadorizada

O estudo pioneiro foi publicado este mês em revistas científicas internacionais

 29/04/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 30/05/2016 as 16:13
Aluna coloca finas fatias do animal sobre a parafina | Foto: Divulgação / Pesquisa de Fernando Carbayo
Aluna coloca finas fatias do animal sobre a parafina – Foto: Divulgação/Pesquisa de Fernando Carbayo

Pesquisa liderada pelo professor Fernando Carbayo, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, conseguiu pela primeira vez descrever uma nova espécie de animal com corpo não mineralizado utilizando a nova técnica da microtomografia computadorizada. O estudo foi publicado neste mês nas revistas científicas internacionais Zoologica Scripta e GigaScience, contando com a participação de outros pesquisadores, entre eles Tiago Maurício Francoy, que também é docente da EACH. O trabalho foi publicado no mesmo número da revista junto com outro artigo em que os autores, Tessler e colaboradores (do Museu Americano de História Natural), apresentam um estudo semelhante com sanguessugas.

A nova técnica foi colocada em prática quando o professor Carbayo pretendia estudar planárias coletadas em 1920 e que estavam depositadas no Museu Nacional do Rio de Janeiro. “Na época, o cientista Paulo Schirch fez uma análise muito sucinta do material. Ele não conseguiu estudar a morfologia interna das novas espécies de planárias que descreveu porque não fez os cortes histológicos”, explica Carbayo.

Lâminas de vidro são levadas ao microscópio para que a descrição do animal possa ser feita | Foto: Divulgação / Pesquisa de Fernando Carbayo
Lâminas de vidro são levadas ao microscópio para que a descrição do animal possa ser feita – Foto: Divulgação/Pesquisa de Fernando Carbayo

Os cortes histológicos fazem parte da técnica tradicional em que o animal é cortado em finas fatias, transformando-se em um conjunto de cortes finos (7-12 mícrons, sendo que um mícron equivale a um milésimo de milímetro) estendidos sobre lâminas de vidro para a observação em microscópio. De acordo com o professor, a técnica histológica é “destrutiva porque o animal passa por diferentes reagentes, passa por parafina, é cortado e corado; ou seja, é muito modificado”.

Sabendo da importância histórica do material de Schirch, Carbayo queria estudá-lo de uma forma não destrutiva, segundo ele, evitando os cortes histológicos para deixar a planária intacta. O professor soube que na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, pesquisadores estavam avaliando a microtomografia computadorizada para essa finalidade e, com apoio da Fapesp, ele resolveu passar dois meses na universidade para testar a nova técnica com uma espécie recentemente coletada.

Centenas de planárias ainda serão estudadas | Foto: Divulgação / Pesquisa de Fernando Carbayo
Centenas de planárias ainda serão estudadas – Foto: Divulgação/Pesquisa de Fernando Carbayo

A microtomografia consiste em adquirir imagens de projeção de raios X em diferentes ângulos de um mesmo material, convertendo esse conjunto de imagens, por meio da computação gráfica, em imagens 2D e 3D. A técnica funciona como uma tomografia comum, mas capaz de analisar estruturas extremamente pequenas (entre 5 mícrons e 0,35 mícrons). A vantagem é que essa técnica não é destrutiva e conserva o animal como ele está. Para tanto, é preciso impregnar os tecidos do animal com alguma substância que seja opaca ao raio X, como o iodo por exemplo.

De acordo com o professor Carbayo, as imagens obtidas pela microtomografia computadorizada “substituem em quase sua totalidade as imagens fornecidas pela histologia, com a grande vantagem do animal ainda estar intacto e poder ser utilizado em futuros estudos, com técnicas mais avançadas e que ainda não foram desenvolvidas”.
Por meio da nova técnica, foi possível descobrir uma nova espécie de planária brasileira. Acreditando ser uma espécie que ainda não havia sido descrita, o professor coletou-a em Paranapiacaba, em Santo André, e a levou para os testes em Harvard. A planária é do gênero Obama e seu nome tem origem na junção dos termos Oba (folha) e Ma (animal), em Tupi; é uma referência à forma foliácea dos animais deste gênero.

Planárias serão descritas pela técnica tradicional e pela microtomografia | Foto: Divulgação / Pesquisa de Fernando Carbayo
Planárias serão descritas pela técnica tradicional e pela microtomografia – Foto: Divulgação/Pesquisa de Fernando Carbayo

No Laboratório de Ecologia e Evolução na EACH, o professor armazena centenas de planárias, coletadas em sua maioria no Brasil e no Chile, que ainda serão estudadas por meio das duas técnicas. Aqui no Brasil, Carbayo começou a fazer testes e ajustes no microtomógrafo do Museu de Zoologia (MZ) da USP, que recentemente adquiriu o aparelho.

Embora a microtomografia não seja tão acessível – pois demanda um computador de alto desempenho para processar as imagens, que chegam a 60 GB, e o microtomógrafo custa aproximadamente 200 mil euros -, o professor destaca que a tendência da ciência é usar cada vez mais técnicas não destrutivas e que preservem as condições e características do material que é estudado.

Da Assessoria de Imprensa da EACH


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