Exercícios podem evitar e até reverter perda de neurônios ligados ao coração

Conclusões do estudo com ratos foram publicadas no “The Journal of Physiology “, recebendo distinção pela Associação dos Professores Eméritos da FMUSP

 08/12/2016 - Publicado há 7 anos
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Representação das vias do sistema nervoso autônomo ao coração - Imagem: Adaptado de Wikimedia Commons
Representação das vias do sistema nervoso autônomo ao coração – Imagem: Adaptado de Wikimedia Commons

Faz parte da progressão da doença cardíaca a perda de neurônios que inervam o coração, prejudicando o funcionamento adequado das vias nervosas relacionadas ao funcionamento cardiovascular e dificultando, por exemplo, a redução dos batimentos e da pressão arterial. A pesquisa do graduando em medicina Marcelo Hiro Akiyoshi Ichige mostra que, em ratos, o exercício físico é capaz de bloquear essas alterações e ainda corrigir a frequência cardíaca. “Esse achado nos permite compreender mecanismos através dos quais o treinamento físico melhora o prognóstico da insuficiência cardíaca, sem os efeitos colaterais de tratamentos medicamentosos”, diz o pesquisador.

A insuficiência cardíaca é uma condição acompanhada por redução da função dos ventrículos (câmaras do coração responsáveis pela ejeção do sangue para o corpo e para a circulação pulmonar), ativação de mecanismos nervosos e hormonais compensatórios e disfunções do sistema nervoso autônomo (parte do sistema nervoso que troca estímulos e informações com as vísceras e outros sistemas), resultando, entre outros problemas, em elevação da frequência cardíaca.

O estudo foi conduzido com modelos experimentais: 47 ratos machos de oito semanas de vida nos quais foi induzida a insuficiência cardíaca por aplicação de droga e procedimento cirúrgico, 28 dos quais concluíram os testes. A divisão dos ratos entre sedentários, de um lado, e submetidos a protocolo de exercícios, do outro, permitiu observar que, com seis semanas de treinamento, evita-se a perda dos neurônios ligados à atividade cardiovascular, readequando o fluxo nervoso para o coração. A correção da disfunção autonômica, obtida pela atividade física, ocorre mesmo com a persistência de função anormal dos ventrículos, como verificado nas análises teciduais e testes realizados.
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Insuficiência cardíaca (HF) cursa com diminuição do número de neurônios preganglionares vagais no núcleo ambíguo, onde se localizam neurônios que controlam o tônus parassimpático ao coração. O treinamento físico (ET) é capaz de reverter esse efeito, mantendo número de neurônios semelhante ao dos animais controle (SHAM) - Foto: Comunicação ICB
Fotomicrografia mostra a diferença na concentração de neurônios entre os grupos pesquisados. A insuficiência cardíaca (HF) cursa com diminuição do número de neurônios preganglionares vagais numa região do cérebro denominada núcleo ambíguo, onde se localizam neurônios que controlam o tônus parassimpático ao coração. O treinamento físico (ET) é capaz de reverter esse efeito, mantendo número de neurônios semelhante ao dos animais controle, saudáveis (SHAM) – Foto:

Pelo trabalho, Ichige recebeu o prêmio de iniciação científica da Associação de Professores Eméritos da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP. O estudo foi desenvolvido no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, sob coordenação da professora Lisete Compagno Michelini, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do instituto.

Os resultados foram publicados no The Journal of Physiology, em agosto deste ano. O artigo Exercise training preserves vagal preganglionic neurons and restores parasympathetic tônus in heart failure sugere que seis semanas de treinamento físico podem evitar a perda de neurônios ligados à atividade cardiovascular e reestabelecer o tônus parassimpático.

O prêmio será outorgado na próxima reunião da Congregação da Faculdade de Medicina, em 16 de dezembro, e o aluno receberá R$ 2.500 pela indicação.

Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB

Mais informações: e-mail michelin@usp.br, com Lisete Michelini (também autora do artigo)


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