Nascem bezerras geradas de embriões de animais de dois meses

Óvulo de bezerra de dois meses, que não chegou à puberdade, originou embriões implantados em vaca adulta

 18/05/2017 - Publicado há 7 anos
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Os pesquisadores produziram embriões in vitro a partir de bezerras bem mais jovens, com dois meses de idade. Os embriões foram implantados em vaca adulta. Foto: Divulgação / FMVZ

Para melhorar a genética do gado bovino e aumentar a produtividade de leite e carne, pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP produziu embriões in vitro com o material genético doado por animais jovens, a partir de dois meses de idade. Com esse material, extraído de bezerras com alto valor genético, e o embrião implantado em vaca adulta, é possível obter uma nova geração de animais com maior produtividade com intervalo de apenas um ano, ao invés de três ou quatro anos, como ocorre no processo tradicional. A técnica já foi estabelecida pela FMVZ em gado nelore e holandês e, no último dia 9 de maio, nasceram no campus da USP, em Pirassununga, as duas primeiras bezerras de búfalo geradas por meio do novo método.

O professor Pietro Baruselli, da FMVZ, que coordena a pesquisa, explica que na bovinocultura as fêmeas são acasaladas com machos de alto valor reprodutivo. “A intenção é que os animais que apresentam alta produtividade de carne e leite se multipliquem rapidamente, de modo que seus genes sejam transmitidos para as futuras gerações”, diz. “No entanto, no Brasil a fêmea se torna gestante com dois a três anos de idade e a gestação dura dez meses. Ou seja, serão necessários três ou quatro anos para se conseguir uma nova geração de animais.”

O professor Pietro Sampaio Baruselli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), é o coordenador da pesquisa – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para acelerar o processo, os pesquisadores produziram embriões in vitro a partir de bezerras bem mais jovens, a partir de dois meses de idade. “Elas passam por uma avaliação genômica. Se os genes presentes forem associados a um alto potencial para produção de carne e/ou de leite, eles serão multiplicados com a produção de novas gerações de animais”, conta Baruselli. “Atualmente, uma fêmea de alto valor genético tem um filho por ano. Com a técnica de produção de embriões de animais jovens, é possível gerar de 20 a 30 filhos por ano.”

O professor afirma que os animais de alto valor genético levariam dois a três anos para poder ter filhos pelo processo natural de reprodução. “Por exemplo, se há potencial genético para aumentar em 1.000 litros a produção de leite de cada animal por geração, uma fazenda levaria 15 anos para aumentar a  produção de leite de 5.000 para 9.000 litros anuais por animal, ao longo de cinco gerações”, afirma. “Com os embriões de bezerras jovens, o ganho genético pode ser obtido em apenas cinco anos, devido a diminuição do intervalo entre gerações.”

Embrião

Por meio de um aparelho conhecido como laparoscópio, é feita a extração dos oócitos (futuros óvulos) do ovário de animais jovens. “O embrião do futuro bezerro é produzido in vitro em laboratório com sêmen sexado, ou seja, com sexo já escolhido”, relata Baruselli. “Em seguida, o óvulo é implantando no útero de uma receptora adulta.”

As primeiras experiências aconteceram com bezerras das raças nelore e holandês, em Pirassununga. “Em ambos os casos, os animais doadores tinham dois meses de idade”, explica o professor. “A receptora era uma vaca adulta, com capacidade reprodutiva, mas baixo valor genético, de modo que seus descendentes possam ter maior qualidade genética.”

A experiência foi repetida com filhotes de búfalas, e as primeiras bezerras com genética de animais jovens nasceram no último dia 9 de maio. Foto: Divulgação / FMVZ

A experiência foi repetida com filhotes de búfalas, e as primeiras bezerras com genética de animais jovens nasceram no último dia 9. O nascimento dos búfalos também faz parte de um projeto de repovoamento do rebanho no campus de Pirassununga. “Devido a um problema sanitário ocorrido com os búfalos, houve a necessidade de repovoar o campus com um novo rebanho”, afirma Baruselli. “Com base nos resultados dos experimentos, está sendo será possível fazer o repovoamento com genética de alto valor de animais jovens.”

As pesquisas são realizadas pelo Departamento de Reprodução Animal da FMVZ, no campus de São Paulo,  com a participação da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, em Pirassununga, e das empresas In Vitro Brasil e Embryo Sys. Também fizeram parte dos estudos seis alunos de pós-graduação do Departamento. Toda a genética das búfalas (oócitos) utilizada no trabalho foi doada pela Fazenda Paineiras da Ingaí que seleciona búfalos leiteiros há 50 anos, localizada no município de Sarapuí, no Interior de São Paulo.

Mais informações: e-mail pbarusell@usp.br, com Pietro Baruselli


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