Feijão geneticamente modificado atrai micro-organismos contra fungo

A doença ataca a raiz do feijão e é responsável por prejuízos que chegam até 70% da produtividade da cultura

 05/03/2018 - Publicado há 6 anos
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O objetivo da pesquisa foi investigar se uma planta mesmo sendo geneticamente melhorada dependeria dos micro-organismos presentes na rizosfera para se defender de doenças – Foto: Arquivo da pesquisa

Micro-organismos que se desenvolvem na rizosfera do feijão (a parte da raiz que fica em contato com o solo) podem combater o fusarium, fungo causador da doença que ataca a plantação e é responsável por perda significativa na produtividade do grão. O estudo, feito no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP em conjunto com o Netherlands Institute of Ecology, Holanda, impulsiona os processos de melhoramento genético na agricultura.

A proposta da pesquisa foi saber se uma planta resistente a um determinado patógeno, cuja cultivar tivesse sido geneticamente melhorada, ainda dependeria do microbioma (atividade dos micro-organismos no solo) para se defender de determinadas doenças como o fusarium.  Para obter tal resposta, o autor da pesquisa, Lucas William Mendes, do Cena, comparou plantas suscetíveis a doença com outra resistente (geneticamente modificada), todas cultivadas no mesmo solo e sob as mesmas condições.

Raiz do feijão com solo rizosférico (a parte da raiz que fica em contato com o solo) onde se desenvolvem os micro-organismos
– Foto: Arquivo da pesquisa

Após o crescimento da planta, a pesquisa verificou que a comunidade de micro-organismos da rizosfera do feijão resistente era completamente diferentes outra. Segundo o biólogo, a planta resistente “atraiu uma comunidade microbiana mais diversa e abundante. Houve uma maior presença de bactérias do gênero Pseudomonas e Bacillus que já são conhecidos cientificamente como protetores contra o fusarium. Também foram encontrados em maior abundância genes relacionados à produção de Fenazina, um antibiótico com ação contra o fungo”, relata.

Os micro-organismos (fungos, leveduras, bactérias, microfauna e protozoários) do solo realizam diversas funções essenciais para as plantas. Indicam a saúde e a qualidade bioquímica do solo. São responsáveis pela nutrição das plantas, supressão de doenças e atenuação de poluentes, dentre outros.

“Entender quais micro-organismos são selecionados na rizosfera do feijão e as funções que estes desempenham é fundamental para a elaboração de estratégias de manejo mais sustentáveis que promovam a multiplicação desses micro-organismos”. Mesmo o grão sendo geneticamente melhorado, “a resistência é apenas estrutural da planta”. De alguma forma, a planta modificada atraiu organismos benéficos que a auxiliaram contra o patógeno. O próximo passo seria “entender como acontece a atração destes micro-organismos”, acrescenta.

Análise em laboratório do DNA da comunidade microbiana da rizosfera – Foto: Arquivo da pesquisa

Segundo o pesquisador, até o momento, os trabalhos de melhoramento faziam cruzamento genético das espécies que resultavam em cultivares com características genéticas importantes como resistência a doenças ou aumento de produtividade. Porém, “os cientistas nunca pensaram na importância dos micro-organismos neste processo”. O que a pesquisa comprovou foi que os micro-organismos presentes na rizosfera do feijão ajudam a suprimir o patógeno, no caso o fusarium.

Fusarium

A “murcha-de-fusarium” é uma doença causada pelo fungo Fusarium oxysporum que vive no solo e ataca a raiz do feijão, provocando o escurecimento da planta, amarelecimento e secagem das folhas. Lucas Mendes escolheu o fusarium pela importância agrícola e econômica e porque a doença tem sido um problema de grande magnitude que afeta a agricultura brasileira. Os prejuízos chegam até 70% do rendimento da cultura.

Prêmio Vale-Capes

Lucas William Mendes, autor da pesquisa desenvolvida no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP – Foto: Arquivo da pesquisa

A pesquisa sob o título Microbioma da rizosfera de feijão resistente ao patógeno de solo Fusarium oxysporum de autoria de Mendes, teve início em 2014, mas continua em andamento para realização de novos experimentos e obtenção de novos dados. Em 2017, Lucas William Mendes, 32 anos, recebeu o Prêmio Vale-Capes de tecnologia e Inovação na categoria de Jovem Pesquisador. Os critérios para premiação foram originalidade do trabalho e relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, social e de inovação. Foram considerados a produção científica – artigos científicos, livros e capítulos, patentes e orientações em cursos de pós-graduação.

Mais informações: e-mail lucaswmendes@gmail.com Lucas William Mendes

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