No agronegócio, os ganhos e as novas possibilidades das exportações do Brasil para a China

Com lançamento neste dia 3/6, o livro “China-Brazil Partnership on Agriculture and Food Security” mostra a história e discute o futuro de uma parceria de sucesso

 01/06/2020 - Publicado há 4 anos
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Arte sobre capa do livro China-Brazil Partnership on Agriculture and Food Security

Um amplo retrato de como as trocas comerciais entre o Brasil e a China na área do agronegócio se desenvolveram a partir de 1974 quando, no governo do general Ernesto Geisel, foram reatadas as relações diplomáticas entre os dois países até o momento atual, em que o país asiático se tornou o principal destino das exportações agrícolas brasileiras. Em 2019, as exportações do agronegócio brasileiro para a China atingiram US$ 31,01 bilhões, representando 32% das vendas externas do setor e quase 14% das exportações totais de produtos e serviços brasileiros.

É do que trata, em 430 páginas, em inglês, o livro China-Brazil Partnership on Agriculture and Food Security, que será lançado nesta quarta, 3/6, às 10h, em versão eletrônica, durante um webinar da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP e da China Agricultural University (CAU) que será transmitido pela TV USP Piracicaba, com a presença do reitor da USP, Vahan Agopyan, do diretor da Esalq, editores, autores, entre outros.

O livro reúne 12 capítulos e um book summary escritos por scholars e especialistas brasileiros e chineses, vinculados à Esalq-USP e à CAU. Os capítulos, além de cobrir as profundas reformas e transformações da agricultura dos dois países a partir dos anos 1970, analisam os “cases” de maior sucesso do agronegócio de cada país e apresentam reflexões conjuntas dos scholars sobre temas-chave da relação bilateral no agronegócio, como comércio, investimentos, infraestrutura, inovação e sustentabilidade.

Capital intensivo e tecnologia alavancaram o agronegócio no Brasil. Foto: existentist via Wikimedia Commons / CC BY 2.0

Em versão resumida e livre tradução, segue o que relata o book summary do livro:

Nas últimas décadas, os laços de comércio entre a China e o Brasil atingiram um patamar notável, graças ao desenvolvimento das relações econômicas entre os dois países . Enquanto as exportações chinesas de bens manufaturados se tornaram cada vez mais comuns no mercado brasileiro, o Brasil se estabeleceu como um fornecedor-chave de commodities para alimentar o crescimento chinês. O agrobusiness brasileiro se tornou um componente importante dessa troca, garantindo um explosivo crescimento das vendas para uma economia que emergia aceleradamente na Ásia, que se tornou o maior destino das exportações de produtos agrícolas do Brasil.

Apesar das amplas reformas e da reestruturação da agricultura chinesa, as crescentes necessidades do país criaram uma forte demanda alimentar, que em larga medida tem sido atendida pelas exportações brasileiras. Internamente, por sua vez, a agricultura brasileira passou por um processo de transformação, com expansão territorial e o estabelecimento de um modo de produção baseado em capital intensivo e inovações tecnológicas, que geraram um superávit exportável, condição essencial para a competitividade internacional do Brasil e garantir a possibilidade de atender à demanda chinesa.

Os amplos volumes e o rápido crescimento das interações comerciais entre a China e o Brasil sempre chamam muita atenção, mas a lista das parcerias potenciais entre as duas nações vai além do comércio. O livro procura mostrar as múltiplas áreas, dentro das atividades agrícolas, nas quais há promissoras avenidas para cooperação intensa e intercâmbio de experiências valiosas. Apresenta uma comparação histórica da evolução dos setores agroalimentares da China e do Brasil de maneira a traçar um amplo quadro dos sucessos e lições aprendidas desde as impressionantes reformas e transformações que os dois países começaram na década de 1970.

O livro mostra histórias sobre como os esforços setoriais de internacionalização levaram os dois países a conquistar uma forte presença global, como foram os casos do setor chinês de frutas e vegetais e o brasileiro no complexo de grãos e proteína. Dá ênfase a como o apoio de inovações tecnológicas, dentro da agricultura 5.0 da China e a produção de bioenergia de cana-de-açúcar podem prover uma importante plataforma para o aprendizado mútuo e o desenvolvimento tecnológico. Aponta que os investimentos em infraestrutura também oferecem significativo potencial para alianças construtivas entre capitais e know how chineses e a experiência brasileira em projetos baseados em interesses estratégicos mútuos e centrados no fortalecimento da logística do setor agrícola do Brasil. Também analisa a importante dimensão ambiental da produção agrícola, visando a mostrar como intercâmbios baseados em experiências sustentáveis nos dois países podem ser incrementadas.

Um amplo espectro de sugestões econômicas, políticas e técnicas emergiram como resultado das pesquisas do livro e podem ser implementadas, a saber:

1. Como políticas específicas podem apoiar o desenvolvimento rural e a expansão da produção alimentar?

2. Em que extensão a integração de processos e das cadeias produtivas ajuda a aumentar o valor agregado nos produtos agrícolas?

3. Como a expansão da produção e sua intensificação podem ser conciliadas com as cada vez mais importantes questões ambientais?

4. Que estratégias podem assegurar que as experiências positivas tanto na China quanto no Brasil serão repartidas para benefício mútuo?

5. Como as complementaridades econômicas e estruturais entre os setores agrícolas chinês e brasileiro inspiram o desenho das futuras linhas de integração econômica dos sistemas de alimentação dos dois países?

Shenzhen, China, de pequeno vilarejo a centro mundial de tecnologia – Foto: Denis Barthel via Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0

Num momento em que as relações internacionais de comércio estão confusas em função, principalmente, das disputas entre a China e os Estados Unidos e no governo brasileiro há sentimentos ambíguos sobre a importância do bom andamento dos negócios entre o Brasil e o antigo Império do Meio, o lançamento do livro é extremamente oportuno para mostrar a dimensão e a relevância da parceria entre os dois países.

Uma contribuição da cátedra Luiz de Queiroz da Esalq

O livro China-Brazil Partnership on Agriculture and Food Security é produto da atuação do economista Marcos Sawaya Jank, como titular da Cátedra Luiz de Queiroz sobre Sistemas Integrados Agro-Alimentares da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, durante o ano de 2019.

Jank, que também é professor sênior de Agrobusiness Global do Insper, teve como parceiros na edição do livro Pel Guo, professor pleno e diretor do Instituto para Estudos sobre Agricultura e E-commerce e ex-reitor do Colégio de Economia e Administração na China Agricultural University (CAU), e Silvia Helena Galvão de Miranda, professora associada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e vice-coordenadora do Centro Avançado de Pesquisas em Economia Aplicada (Cepeal).

A USP e a CAU fazem parte da A5 Alliance que reúne também a Cornell University, a University of California-Davis, ambas nos EUA, e a Wageningen University and Research, dos Países Baixos. Segundo o reitor da USP, Vahan Agopyan, o objetivo da Aliança5, formada em 2017, “é integrar esforços para promover treinamento de alto nível para a próxima geração de líderes na área de agricultura e gerar conhecimento-chave para o aumento da produtividade e sustentabilidade de sistemas agroalimentares, especialmente em países em desenvolvimento”.

Veja aqui entrevista com Marcos Jank ao programa Desafios em 2019.


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