USP deve participar mais da solução dos problemas de São Paulo, defende prefeito

Para ele, as principais dificuldades durante seu mandato foram os efeitos da crise econômica, o não engajamento da mídia em iniciativas importantes para a cidade, e o preconceito político-partidário

 17/11/2016 - Publicado há 7 anos
Fernando Haddad abriu a série de depoimentos de prefeitos de São Paulo ao programa USP Cidades Globais - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Fernando Haddad abriu a série de depoimentos de prefeitos de São Paulo ao programa USP Cidades Globais – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, as principais dificuldades durante seu mandato, que termina em dezembro, foram os efeitos da crise econômica a partir de 2013, o não engajamento da mídia em iniciativas importantes para a cidade, a judicialização de várias questões e o preconceito político-partidário.

Ele esteve no IEA, no dia 11 de novembro, como primeiro expositor da série Gestão de uma Metrópole: a Experiência dos Prefeitos de São Paulo, organizada pelo programa USP Cidades Globais. O prefeito estava acompanhado do secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, e dos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) João Sette Whitaker, secretário da Habitação, Ermínia Maricato, integrante do Conselho do Governo Municipal de São Paulo e do programa USP Cidades Globais, e do vereador Nabil Bonduki, relator do Plano Diretor Estratégico.

De acordo com o diretor do IEA, Paulo Saldiva, que coordenou o evento, todos os ex-prefeitos de São Paulo serão convidados a dar seu depoimento na série inaugurada por Haddad. A ideia é extrair desses encontros temas prioritários a serem analisados pelo programa USP Cidades Globais, de modo a identificar o que precisa ser feito para que São Paulo torne-se uma das principais cidades do planeta. No dia 18 de novembro, às 14h30, a convidada será Luiza Erundina, prefeita de 1989 a 1993.

Crise

Haddad disse que a crise econômica iniciada logo depois de sua posse, em 2013, o levou a pensar em como “aproveitar a situação de forma prática, a favor das convicções do governo sobre o que seria bom e estrutural para a cidade”.

Nesse sentido, sua gestão procurou investir em faixas exclusivas para ônibus, redução da velocidade máxima dos veículos, iluminação pública (a partir da periferia), construção de ciclovias e investimentos na recuperação de calçadas, afirmou.

Segundo ele, um dos resultados palpáveis desse trabalho foi São Paulo ter passado de 7ª cidade com pior trânsito no mundo para a 58ª colocada num ranking feito por GPS por uma empresa especializada.

Universidade

Ele também defendeu uma participação maior da USP na resolução dos problemas de São Paulo. Uma de suas propostas é que os comunicadores de rádio e TV sejam convidados a se engajar em iniciativas importantes para a cidade. Ele acredita que isso poderia ser feito por meio de encontros entre os comunicadores e acadêmicos do programa USP Cidades Globais.

Haddad afirmou que também é preciso dar um fim à disputa entre correntes políticas em prol de melhorias para a cidade. “Perde-se o engajamento de muitas pessoas por puro preconceito ideológico ou político-partidário.”

Para ele, há questões que são técnicas, como no caso da infraestrutura para reciclagem de lixo, e outras que são de conscientização da população, como no caso de quem produz mais de 200 litros de lixo, que poderia contratar uma cooperativa para a coleta. Segundo ele, a cidade gasta mais de R$ 1 bilhão por ano para a varrição das ruas.

Debate

Laís Fajersztajn, pesquisadora do Grupo de Estudo Espaço Urbano e Saúde e do USP Cidades Globais, perguntou a Haddad que medidas a Prefeitura poderia adotar em relação à poluição atmosférica, que “mata mais pessoas do que acidentes de automóveis em São Paulo”. Ele respondeu que ao investir na melhoria do transporte público, uso de bicicletas e novos parques, sua gestão colaborou com a redução da poluição.

Fernando Haddad - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Fernando Haddad – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Haddad disse que uma das coisas que lamenta é não ter implantado um plano diretor de arborização, que “ficou pronto mas não foi executado”. Essa seria uma das prioridades, se tivesse sido reeleito, afirmou. No entanto, ele considera que é preciso sair do “padrão árvore”, dando mais espaço para outras iniciativas, como jardins de vários formatos e hortas.

Márcia Scazufca, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e pesquisadora do USP Cidade Globais, quis saber do prefeito quais foram os principais impedimentos para melhorar a qualidade de vida na cidade. Haddad comentou que um deles foi a suspensão dos projetos do Minha Casa, Minha Vida: “Hoje temos os projetos e não temos dinheiro federal para implantá-los”. Márcia perguntou também sobre o aproveitamento dos prédios abandonados. Ele afirmou que a Prefeitura recebeu ou comprou vários desses prédios e sua adequação para a habitação social está começando.

“O que aconteceu a partir de 2013 foi algo muito pesado, com queda de 7% na arrecadação nos últimos dois anos”, disse o prefeito. Em paralelo a isso, “houve uma sobrecarga nos serviços públicos, com mais gente recorrendo ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à rede escolar pública”, por exemplo, em função da crise econômica.

Maria Cristina Barbosa, integrante do programa e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), perguntou a Haddad quais foram as maiores dificuldades em sua gestão para o trabalho integrado de vários setores, como no caso da iluminação pública ou do programa De Braços Abertos, de apoio aos dependentes químicos da chamada Cracolândia.

Haddad respondeu que teve sorte em contar com equipes que trabalharam muito bem em conjunto. Para isso dar certo, disse, “o prefeito, o vice-prefeito e o secretário do governo devem saber olhar para as questões de forma transversal”. Além disso, considera que deve haver metodologia para a integração de equipes.

Indagado por Maria Cristina sobre o funcionamento das subprefeituras, Haddad disse que na campanha eleitoral de 2012 era contra a eleição direta de subprefeitos, mas que agora mudou de opinião, que a população deve escolher uma liderança local para subprefeito. Ele comentou que as subprefeituras têm centenas de milhares de habitantes, assim como várias grandes cidades da região metropolitana, que, naturalmente, escolhem seu prefeito. Para ele, o Brasil ainda está marcado por noções federalistas do século 19.

Maria Cristina também quis saber sobre os entraves jurídicos enfrentados pelo prefeito. Ele disse que há um excesso de judicialização em tudo. Citou como exemplo o fato de ter sido impedido de reajustar a base de cálculo do IPTU e “a cidade ter levado um ano para revogar esse impedimento, perdendo, com isso, R$ 800 milhões de arrecadação”. Para ele, essas situações acontecem quando instituições como “a imprensa e o Ministério Público não atuam de forma republicana”.

Na parte final do encontro, voltando à questão do engajamento da Universidade, Nabil Bonduki disse que a USP está fragmentada demais em grupos quem nem sempre dialogam. Ele lembrou o dossiê sobre São Paulo publicado na edição 71 (janeiro-abril de 2011) da revista Estudos Avançados e sugeriu que seja reunido um novo conjunto de textos sobre a cidade, com trabalhos que dialoguem com o dossiê de 2011 e tratem do que foi enfrentado por São Paulo nos últimos tempos.

Mauro Bellesa/Assessoria de comunicação IEA


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